InfoCentro forma mais uma turma do curso de informática para terceira idade
Nessa quinta-feira, 5 de julho, uma formatura discreta, mas muito animada, movimentou o terceiro andar do prédio do Departamento de Informática e Estatística (INE) do Centro Tecnológico da UFSC. Em volta de uma mesa repleta de doces e salgados, sorrisos de satisfação lotavam a pequena sala do Laboratório de Sistemas de Conhecimento (LSC). Eram os formandos de mais uma turma do “InfoCentro para a Terceira Idade”, uma parceria entre o INE e o Núcleo de Estudos da Terceira Idade (NETI), ligado à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão (PRCE).
Em frente ao computador, Luiz Carlos de Melo exercita o que aprendeu nos últimos quatro meses. Aos 76 anos, ele brinca com os colegas e cada frase sua é pontuada por um largo sorriso. O ar é de vitória. Há alguns anos, Luiz havia começado um outro curso de informática, mas acabou desistindo. A máquina continuava sendo um mistério. Foi quando a “comadre” Jecy Eli Cardoso da Silva, voluntária no projeto, levou-o para o InfoCentro. “Essas voluntárias são muito dedicadas. O curso é bastante diferente daquele outro que eu comecei, o ambiente aqui é mais carinhoso”, compara.
O diferencial do InfoCentro está justamente no fato de que ele foi pensado especialmente para a terceira idade. Quando teve início, em 2003, o projeto era conhecido como “Oficinas de Internet para a Terceira Idade” e capacitava apenas 10 alunos por semestre. A grande mudança veio em 2005. Márcia Barros de Sales, coordenadora das oficinas e doutoranda do Programa de Engenharia e Gestão do Conhecimento, notou como os próprios idosos se ajudavam durante as aulas e teve a idéia de implementar um projeto de aprendizagem por pares, visando as inclusões social e digital. “Quem vem dar aula se inclui em um grupo social, e quem vem aprender se inclui digitalmente”, explica. E assim era criado, em uma sala cedida pelo INE, o “InfoCentro para a Terceira Idade”.
A chegada dos multiplicadores permitiu que a oferta de vagas fosse ampliada, chegando a três turmas de 11 alunos nesse último semestre. E, a cada turma formada, cresce o número de voluntários. Pessoas como a “comadre” do Luiz, Jecy Eli Cardoso da Silva, da primeira turma de multiplicadores. Aos 63 anos, ela afirma que “aprender é o mais difícil, repassar o que a gente sabe não é problema”. Jecy também já havia freqüentado outro curso sem sucesso, pois não tinha onde aplicar o que aprendia em aula. “Os meus filhos não deixavam eu mexer no computador deles”, conta. O interesse pelos computadores, no entanto, continuava. “A família toda falava em e-mail, internet, e eu não sabia o que era. Eu não queria ficar alienada”. Assim, Jecy resolveu comprar o seu próprio computador e freqüentar as aulas do InfoCentro. Hoje, além de voluntária no projeto, ela ainda usa o computador para escrever textos, conversar com os amigos e ajudar os netos nas pesquisas escolares.
Outra ex-aluna do curso que já está completamente habituada ao mundo virtual é Marli Barcelos, de 65 anos. Para ela, o principal uso do computador está na busca por informações. “A gente se sente mais valorizado quando as pessoas vêem que nós estamos por dentro das coisas”, revela. “Eu gosto muito de ler pesquisas. Também gosto de saber mais sobre política, teatro e cultura em geral”. O computador é ainda uma ferramenta para se comunicar com os colegas de coral, com o filho – “um jovem de 23 anos” – e com a nora.
O sucesso do curso pode ser medido pela fila de espera com mais de 150 pessoas. “Nós temos uma variedade grande de cursos no NETI e esse tem sido um dos mais procurados”, revela a professora Angela Maria Alvarez, coordenadora do núcleo. Segundo ela, o segredo está no direcionamento do curso. “Nós temos toda uma metodologia desenvolvida especificamente para a pessoa idosa.” O material didático foi totalmente elaborado conforme as necessidades desse público. O resultado ficou tão bom que vai se tornar livro, com lançamento previsto para o segundo semestre de 2007.
Mesmo com o sucesso das oficinas e com o lançamento do livro, a coordenadora Márcia Sales afirma que no próximo semestre serão oferecidas apenas 20 vagas. O projeto, que teve por quase dois anos o suporte do fundo de bolsas da Fundação de Ensino e Engenharia de Santa Catarina (FEESC), atualmente está sem apoio. Uma pena, ainda mais quando volta à mente o sorriso do formando Luiz Carlos de Melo: “agora eu estou com uma nova ferramenta para enfrentar a vida”.
Mais informações através do endereço www.infocentro.inf.ufsc.br ou pelo telefone (48) 3721 9909, do NETI.
Por Daniel Ludwich
Bolsista de Jornalismo na Agecom