Hospital Universitário comemora dez anos de residência na área de cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial
A correção da fenda lábio-palatino é um dos mais complexos e longos procedimentos atendidos pela Residência em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Hospital Universitário da UFSC. A equipe atende também pacientes que necessitam de implantes dentários, reconstruções ósseas e da gengiva, correção de fraturas de ossos da face. A atuação do HU nesse campo é referência em Santa Catarina e neste sábado comemora dez anos. Para marcar a data, será realizada uma cerimônia a partir das 14h, no auditório do Hospital Universitário. No encontro, o professor José Nazareno Gil, idealizador da residência, vai falar sobre os 10 anos como coordenador, e o professor Paulo José Medeiros, do Rio de Janeiro, ministrará uma palestra sobre cirurgia ortognática (correção de deformidades dentofaciais).
O professor José Nazareno Gil conta que antes da criação do curso já havia a iniciativa de disponibilizar os tratamentos no Hospital Universitário. Durante seis anos, antes da definição da residência, Nazareno fazia cirurgias de casos que, eventualmente, apareciam no HU. Os hospitais Celso Ramos, Florianópolis e Caridade eram os principais na área nessa época.
O tratamento bucomaxilofacial foi se popularizando com a criação da especialização e o trabalho no HU evoluiu junto com os atendimentos feitos através do Sistema Único de Saúde. Hoje, o hospital é referência neste tipo de tratamento. A equipe que atua no HU atende também no Hospital Celso Ramos e no Centro de Especialidades Odontológicas da UFSC, sendo composta por três residentes e os professores Nazareno e Humberto Cherem.
A residência
O cirurgião bucomaxilofacial é um odontólogo que realiza técnicas cirúrgicas na face. Após a residência, o especialista está pronto para tratamentos diversos, como remoção de dentes sisos, tratamento de infecções e lesões patológicas na cavidade oral, implantes dentários, enxertos ósseos para posterior colocação de implantes. Atua também em cirurgias de reestruturação o esqueleto facial, corrigindo as deformidades e posicionando os ossos harmoniosamente em relação à base do crânio.
No HU, a cada ano é selecionado, entre 20 a 30 candidatos, um residente que em três anos ganha o título de especialista bucomaxilofacial. A residência dura três anos e o trabalho dos estudantes é integral – todos os dias eles estão de sobreaviso.
Atendimento
O atendimento funciona com consultas marcadas pelo SUS, para pacientes de todo o Estado e casos de emergências. Os residentes Felipe Eduardo Baires e Jonathas Claus explicam que todas as terças-feiras são recebidos cerca de 30 pacientes no Hospital Universitário, divididos em primeira consulta, retornos e ainda vagas para emergências. Felipe diz que são feitas cerca de 40 cirurgias por mês. Embora cada residente tenha sua agenda, os casos são compartilhados e muitos pacientes são encaminhados para o restante da equipe.
Entre os procedimentos mais comuns estão os de dentes inclusos. As cirurgias nos ossos da face são as técnicas mais complexas da área. O tratamento de correção de fenda lábio-palatino é um dos procedimentos mais longos e requer uma parceria com outras especialidades, como psicólogos, nutricionistas e cirurgiões plásticos.
Tratamento prolongado
A fenda lábio-palatino é uma anomalia genética, que ocorre durante a formação e desenvolvimento do feto, resultando em uma comunicação buco-nasal. Nazareno e o residente Jonathas explicam que a fenda é traumática, pois desde criança a pessoa sofre com a voz anasalada e com a má formação de dentes e do lábio. Fora a parte estética, a anomalia provoca problemas nutricionais, por causa da comunicação buco-nasal e problemas na engrenagem dos dentes (mordida e movimentação). Na UFSC existe um núcleo de atendimento para pacientes com a deformidade.
O processo de correção é longo, começa aos três meses de vida, com uma correção no lábio. Depois, com um ano e meio a criança se submete a uma cirurgia que corrige o céu da boca e, aos sete anos, há o tratamento ósseo, com preenchimentos e enxertos. Após os dentes formados, há o tratamento ortodôntico.
Ensino, pesquisa e extensão
O professor José Nazareno Gil reforça a parceria da equipe de cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial com os alunos da graduação em Odontologia. No currículo do curso estão as disciplinas Traumatologia Bucomaxifacial e Clínica Integrada, onde os alunos trabalham e compartilham experiências e procedimentos com a equipe.
A pesquisa é constante na residência. O coordenador explica que os casos atendidos pelos residentes no Hospital Universitário e nos outros locais resultam em trabalhos científicos sobre as deformidades estudadas. A equipe tem um vasto banco de dados, com registros de todos os pacientes, cada consulta e cirurgia, com fotografias e radiografias. O material é necessário também para acompanhamento e controle de pacientes que sofrem tratamentos longos.
Os dados sobre cistos intra-ósseos (tumores bucais, dentro dos ossos, que podem ser benignos ou malignos), por exemplo, foram organizados em um livro publicado pela Editora Santos – especializada em livros de Odontologia, Medicina e áreas afins, como fonoaudiologia, enfermagem, fisioterapia. O residente Jonathas Claus é co-autor da publicação de José Nazareno Gil e Adércio Miguel Domingues.
Outras informações no telefone 8408 7827, com Felipe Eduardo, ou 8414 1828, com Jonathas Claus.
Por Fernanda Rebelo / Bolsista de Jornalismo na Agecom