Trabalho com samambaia-preta rende Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia 2006 para mestranda da UFSC

19/06/2007 14:15

Espécie é coletada para arranjos

Espécie é coletada para arranjos

A professora da Prefeitura de Florianópolis e pós-graduada na UFSC na área de Biologia Vegetal, Cristina Baldauf, recebe nesta quarta-feira, 20/6, na capital paraguaia, o Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia 2006. `Geração de renda em áreas de Mata Atlântica: a experiência do manejo sustentável da samambaia-preta` é o título do trabalho premiado. O estudo da samambaia-preta faz parte de sua dissertação de mestrado na UFSC, desenvolvida junto ao Núcleo Núcleo de Pesquisas em Florestas Tropicais e orientada pelo professor Maurício Sedrez dos Reis. A bióloga formada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) venceu na categoria Jovem Pesquisador e receberá cinco mil dólares. Concorreram 145 trabalhos de países membros e associados do Mercosul.

A premiação foi criada em 2002. É resultado de uma parceria da Rede Especializada de Ciência e Tecnologia (Recyt), Unesco e do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Na edição de 2006, o tema era `Ciência, Tecnologia e Inclusão Social para o Mercosul`. Os trabalhos são analisados segundo critérios como atualidade do tema, pertinência do trabalho para o Mercosul e contribuição para a cooperação no campo da Ciência e Tecnologia no Mercosul.

Fotos: Núcleo de Estudos em Florestas Tropicais

Fotos: Núcleo de Estudos em Florestas Tropicais

O estudo premiado teve início em 2000, junto com o Projeto Samambaia-Preta, uma parceria entre a ONG Ação Nascente Maquiné e o Núcleo de Estudos em Desenvolvimento Rural e Sustentável e Mata Atlântica (Desma), da UFRGS. Cristina conta que o projeto foi criado para avaliar o extrativismo da planta na região nordeste do Rio Grande do Sul, já que cerca de três mil famílias do local têm na coleta da planta sua principal fonte de renda. As folhas da samambaia-preta são mundialmente usadas em arranjos de flores. O extrativismo da samambaia-preta no Rio Grande do Sul corresponde a 50% da produção brasileira.

Em 2004, o projeto ganhou novas parcerias como o Núcleo de Pesquisas em Florestas Tropicais (NPFT) da UFSC – pioneiro no estudo de manejo florestal – e a professora iniciou as pesquisas no núcleo junto com o mestrado na UFSC.

Pesquisa permite manejo

Segundo o Decreto Federal 750/93, são proibidos o corte, a exploração e a supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado e médio de regeneração da Mata Atlântica. A pesquisa abrangeu estudos de demografia e diversidade genética da samambaia-preta para avaliar a reprodução e regeneração da planta. Foi analisado o trabalho das famílias extrativistas e comprovou-se que o manejo realizado por elas não prejudicava a regeneração da espécie.

Entre 2004 e 2006 as pesquisas continuaram para reforçar a sustentabilidade do extrativismo e manejo da samambaia-preta. Novas famílias foram analisadas e os resultados comprovaram que o sistema de corte utilizado pelas famílias, três vezes ao ano, para coletar as folhas da planta, não afetava negativamente a espécie. Após a conclusão dos estudos, houve uma articulação entre o projeto e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente/RS (SEMA) para legalizar a atividade. Em 21 de novembro de 2006, foi assinada uma instrução normativa pela SEMA/RS e a samambaia-preta tornou-se o primeiro produto não-madeirável do Rio Grande do Sul a ser regulamentado.

O trabalho da professora contribuiu para o processo participativo de construção de leis para a coleta da espécie. Os resultados dos estudos estão em um manual e na cartilha `Extrativismo e Manejo Samambaia-preta` que servem para orientar extrativistas e fiscais da SEMA/RG sobre o licenciamento, manejo e extração da espécie.

Cristina Baldauf revela que o processo ambiental na região já está resolvido, mas falta o cadastramento das famílias extrativistas, a formação de coorporativas e criação de órgãos fiscalizadores. O Desma coordena a continuidade do projeto junto com as instituições parceiras e busca constante apoio da Secretaria Estadual do Meio Ambiente. A professora diz que comparece a reuniões do projeto e ainda é pesquisadora do Núcleo de Estudos em Florestas Tropicais da UFSC. Desde o ano passado, Cristina se dedica ao ensino de Ciências na rede pública de Santa Catarina, no Núcleo de Educação de Jovens e Adultos.

Por Fernanda Rebelo / Bolsista de Jornalismo na Agecom

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