Professora aposentada da UFSC expõe telas no Espaço Cultural Casan

01/06/2007 15:36

O Espaço Cultural Casan, em Florianópolis, recebe a partir da próxima quarta-feira (dia 6 de junho), a exposição “Encantos de Anabea”. A artista Ana Beatriz Cerisara, professora aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mostra ao público 15 telas no estilo naïf, elaboradas com a técnica de bordado sobre tecido. A exposição, a primeira individual de Anabea, fica aberta ao público até o dia 29 deste mês. A delicadeza do trabalho da artista, que retrata cenas do cotidiano da Ilha de Santa Catarina e personagens da religiosidade brasileira, entre outros temas, atraiu a atenção da comissão julgadora da Bienal Naïf de Piracicaba (SP), o mais respeitado evento do gênero no país. O quadro “Bordando a Vida” foi selecionado para a exposição e incluído no catálogo de 2004, ao lado de nomes já consagrados em Santa Catarina, como Tercília dos Santos, Maria Celeste Neves e Neri Andrade.

Por coincidência, “ou não”, brinca Anabea, a exposição acontece em junho – mês dos namorados – tema, aliás, de muitas de suas telas, emolduradas por cenários da cidade, como “Namoro na Lagoa”, “Namoro no Bar do Seu Chico”, “Namoro no Farol” e “Namoro com Pipas”, entre outras. Para Anabea, nascida em Santo Ângelo (RS) e radicada em Florianópolis desde 1979, o estilo naïf oferece um mundo sem limites para a criação artística, no qual as cores intensas e temas singelos do dia-a-dia de uma pequena cidade, ingênuos e até infantis, roubam a cena. A despreocupação em encaixar-se numa escola ou estilo e seguir técnicas como a perspectiva permitem um mundo de possibilidades. Junta-se a isso uma das tradições mais antigas do artesanato brasileiro, conhecida ou praticada por qualquer mulher com algum fiozinho de cabelo branco na cabeça: o bordado. Para muitos, uma tradição perdida no corre-corre da competitiva vida moderna.

Tecendo a vida

“Bordar, na nossa sociedade, virou coisa para mulherzinha que fica em casa”, observa Anabea. “Com este estilo de vida, abandonamos algumas práticas importantes passadas de geração para geração, a nossa ancestralidade”, complementa. Doutora em Educação Infantil pela Universidade de São Paulo (USP), Anabea jamais teve contato com a produção artística até o primeiro encontro do grupo de bordadeiras “Respigar”, em 2002, formado na praia do Campeche (sul da Ilha de Santa Catarina), onde ela mora e mantém seu ateliê. O diagnóstico de um câncer, dois anos antes, foi o alerta de que deveria frear o estressante estilo de vida acadêmico que levava. “Vi que, com aquela pressão por resultados e produção, não iria agüentar por muito tempo”, lembra Anabea.

Cinco anos e 52 telas depois, a artista está mais realizada do que nunca com o caminho que sua vida tomou. “Bordar é resgatar o nosso feminino, o nosso sagrado, é tecer a vida. Bordar é uma prática curativa”, explica Anabea, 50 anos. Ela reúne-se às quartas-feiras com o seu grupo de bordadeiras, algumas ainda da época do “Respigar”, e é voluntária no Centro de Apoio aos Pacientes com Câncer (CAPC), onde coordena um grupo de pessoas que utilizam o bordado para trabalhar a auto-estima. Também participa de um curso de formação no método Pathwork, baseado na metodologia do auto-conhecimento e de equilíbrio entre corpo, espírito e mente, idealizado pela austríaca Eva Pierrakos (1915-1979).

Paciência, intuição, criatividade, sensibilidade e perseverança são treinamentos constantes enquanto a artista pinta suas telas com linhas e agulhas. Por ali vão sendo traçados paisagens e. Cenários e personagens vão ganhando vida e movimentos próprios – cada tela pode levar até um mês para ficar pronto. As mulheres que bordam trocam idéias, contam histórias, revelam segredos, tornam-se amigas e confidentes. “Em grupo, existe a camaradagem. É como se fosse a gasolina de um carro”, ela compara, enquanto alinhava o detalhe de um barquinho no mar.

Serviço

Exposição “Encantos de Anabea”, da artista naïf Anabea

QUANDO

Abertura na quarta-feira, dia 6 de junho, às 19h30. Visitação até o dia 29 de junho, das 8 às 18h.

ONDE

Espaço Cultural Casan, rua Emílio Blum, 83, Centro, Florianópolis. Informações sobre como chegar ao local: (48) 3221.5000

QUANTO

Entrada gratuita. Quadros à venda no local, com a artista.