Pesquisador aborda em livro a formação econômica de SC
Com 478 páginas e um grande número de gráficos, tabelas, quadros, mapas e anexos que facilitam a leitura e enriquecem o conteúdo da obra, “Formação econômica de Santa Catarina”, de Alcides Goularti Filho, é um dos mais completos levantamentos já feitos sobre a história do desenvolvimento catarinense. Fruto de uma tese de doutorado defendida no Instituto de Economia da Unicamp, o livro sai pela Editora da UFSC e será lançado hoje, dia 4, às 20h30, no campus da Unesc, em Criciúma, onde o autor dá aula no curso de Economia.
Tomando a colonização, a imigração e os ciclos econômicos como ponto de partida de sua análise, Goularti Filho cobre o período de 1880 aos últimos anos do século XX, quando houve uma diversificação das estruturas produtivas regionais, a reestruturação de alguns setores e a desnacionalização parcial do complexo agroindustrial. No capítulo que trata da imigração européia ficamos sabendo, por exemplo, que no ano de 1872 cerca de 10% da população catarinense era formada por pessoas estrangeiras e naturalizadas – índice que caiu para 4,7% em 1920 e para apenas 2,3% em 1940.
Até 1945, quando fecha o capítulo referente à fase de afirmação da economia catarinense, o autor aborda os movimentos migratórios internos, a origem das principais indústrias, o extrativismo (da erva-mate, do carvão e da madeira) e o fortalecimento dos setores têxtil e de alimentos. As duas décadas seguintes foram marcadas pela ampliação da base produtiva e pela entrada de novos atores no cenário econômico estadual – os grandes empreendedores nas áreas da cerâmica, metal-mecânica e de papel e papelão. Paralelamente, emergiram dificuldades
estruturais, como a deficiência nos transportes rodoviários e a carência de linhas de crédito para incrementar a produção.
A fase de consolidação do capital industrial se estendeu dos anos 60 ao início da década de 90. Foi um período marcado pela prevalência das políticas de desenvolvimento estadual, pelo surgimento das agências de fomento, pelos programas de incentivos, pelo crescimento das indústrias moveleira, calçadista e de matérias plásticas e, ainda, pela modernização da agricultura, que levou à expansão da produção da carne e da maçã. Foi quando se formaram ou avultaram no contexto nacional os grandes complexos agroindustriais (Sadia, Perdigão, Ceval,Coopercentral, Chapecó e Macedo) e milhares de pequenas propriedades agrícolas deixaram de lado a produção de grãos para dedicar-se à criação de aves e suínos, com que abasteciam as indústrias do setor.
O período pós-1990 foi marcado pela reestruturação econômica e patrimonial de empresas de quase todos os setores. O complexo carbonífero foi desarticulado, a indústria cerâmica viu-se forçada a uma forte adaptação para concorrer no mercado externo e a desverticalização alcançou os segmentos têxtil e de calçados.
Agroindústrias foram progressivamente adquiridas pelo investimento estrangeiro, e a especialização, a diversificação e a integração das estruturas produtivas microrregionais passaram a predominar em Santa Catarina.
No final de cada capítulo, o autor se detém sobre articulações e movimentos políticos que interferiram nos rumos da economia catarinense. Entre os temas que aborda estão a ocupação do poder pelos positivistas, liberais e coronéis até a Primeira República, as oligarquias do período posterior e a atuação dos sindicatos, dos partidos e dos movimentos sociais do golpe de 1964 em diante.
“Uma das peculiaridades da formação econômica catarinense é a forte presença do capital de origem local”, diz Alcides Goularti Filho no final de seu livro. “Talvez o que diferencia Santa Catarina em relação a outras regiões é justamente a palavra `forte`. Ademais, é bom lembrar que o capital local também se fez presente na formação econômica gaúcha, principalmente nas colônias. Em Minas Gerais, a
indústria têxtil e a metalúrgica têm uma estreita ligação com empresários locais, e em São Paulo a origem da indústria deu-se a partir da expansão do complexo cafeeiro (…). Diante das políticas neoliberais e da desnacionalização, a questão mais importante, hoje, talvez seria saber se o capital instalado em Santa Catarina é nacional ou não”.
O AUTOR
Alcides Goularti Filho é natural de Içara/SC, tem graduação em Economia pela Unisul, é mestre em Geografia pela UFSC e doutor em Economia pela Unicamp. Também é professor do curso de Economia da Unesc e membro do grupo de pesquisa Memória e Cultura do Carvão em Santa Catarina. Atualmente, desenvolve pesquisa sobre a história econômica do sistema de transporte (portos, ferrovias e navegação) no
Estado. É um dos autores do livro “A indústria do vestuário” (1997) e organizador de “Ensaios sobre a economia sul-catarinense” (2003) e “Memória e cultura do carvão em Santa Catarina” (2004).
Formação econômica de Santa Catarina
Alcides Goularti Filho
EdUFSC – Série Geral
478 p. R$ 48,00
Contatos com o autor
(48) 3433-8476
agf@unesc.net
alcides@unesc.net