Escritor diz que tecnologia não mudará o livro como “instrumento de prazer”

18/05/2007 19:55

Como o leitor vê o livro editado pelas universidades? Leitor contumaz, professor e ex-diretor da Imprensa Oficial do Estado do Paraná, o escritor Miguel Sanches Neto acompanha o que acontece no mercado e diz que, assim como ele, o público em geral é conservador em relação ao livro e sua apresentação. “O livro deve ser o mais portátil possível”, afirma Sanches, ressaltando que as editoras universitárias precisam adotar uma política que equilibre a informação e o entretenimento se quiserem atingir o leitor comum, que representa um mercado latente e é o que mais consome a produção editorial no País.

Professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR), o escritor fez a palestra “O livro universitário na visão do leitor”, dentro da programação da XX Reunião Anual da Associação Brasileira das Editoras Universitárias (ABEU), que acontece na UFSC, em Florianópolis. Ele critica a prevalência dos projetos gráficos luxuosos sobre o conteúdo em muitas publicações, independente da área de atuação das editoras. “Em muitos casos, a apresentação denuncia o desejo de modificar o livro, transportando-o para a linguagem da internet”, destaca. Pior ainda é quando, além da capa, o projeto gráfico inadequado invade as páginas internas e interfere até no conteúdo da obra.

Em sua palestra, o escritor disse acreditar que o livro não sofrerá alterações substanciais em vista do advento das novas tecnologias. “Os livros de caráter técnico e que transmitem informações específicas poderão migrar para outros tipos de mídias, mas a leitura como instrumento de prazer – caso da literatura – continuará tendo espaço, e por isso o livro será por muito tempo produzido, editado e lido dentro dos padrões atuais”, afirmou. “Enquanto houver a arte da palavra, haverá o livro, que é um objeto perfeito, resolvido”, sentenciou.

Por outro lado, é possível que com a transferência dos livros mais informativos para plataformas modernas sobre mais espaço para a literatura e as publicações relacionadas à arte. De qualquer forma, as editoras universitárias precisam se adequar, selecionar bem os títulos e ocupar as brechas que as empresas comerciais, focadas essencialmente no lucro, deixam abertas no Brasil.

Acervos das bibliotecas – Dentro da programação da XX Reunião da ABEU também foi abordado o tema “Formação de acervo de bibliotecas e política de aquisição de livros”, a cargo de Sigrid Karin Weiss Dutra, diretora da Biblioteca Central da UFSC e membro da Comissão Brasileira de Bibliotecas Universitárias. Ela destacou que as bibliotecas estão procurando se adequar aos novos recursos tecnológicos, como o livro eletrônico e as consultas a distância, que vêm alterando a forma de acesso ao conhecimento. “Os usuários atuais estão mais exigentes e nós precisamos ter uma interação crescente com os novos padrões de tratamento da informação”, diz ela.

Para isso, será preciso capacitar os funcionários e ser criterioso na seleção das aquisições e na adequação dos espaços disponíveis ao acervo crescente das bibliotecas universitárias. No caso da Biblioteca da UFSC, os critérios utilizados para a compra de livros são as demandas representadas pelos novos cursos, as sugestões dos usuários, os livros não existentes, os títulos mais emprestados e os que apresentam maiores índices de reserva.