Profissonais da UFSC alertam para problema da automedicação

16/04/2007 10:52

Analgésicos, antitérmicos, laxantes, antiácidos, antigripais, antidepressivos, antiinflamatórios, soníferos e suplementos nutricionais. Esses medicamentos estão presentes na vida de muitas pessoas, que pouco sabem o perigo da automedicação. Faz parte do “jeitinho brasileiro” o ato de receitar analgésicos para os amigos e de ingerir as pílulas contra stress do colega de trabalho. Em meio a tantas dúvidas disfarçadas por uma aparente segurança, existe um fato que deve ser levado em consideração: a automedicação pode gerar conseqüências irreversíveis.

De acordo com os dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas, Sinitox, no ano de 2004, foram registrados 81 mil 828 casos de intoxicação humana em 28 dos 34 Centros de Informação e Assistência Toxicológica em atividade no país. Dentre esses casos, os medicamentos foram os principais responsáveis por causar intoxicação (29% dos casos). E, desde 1996 esse comportamento estatístico se repete. Segundo Marisete Resener, farmacêutica do Centro de Informações Toxicológicas de Santa Catarina, CIT/SC, localizado junto ao Hospital Universitário da UFSC, em 2005 o maior número de casos de intoxicação por medicamentos aconteceu com crianças menores de cinco anos. “Um dos problemas da indústria farmacêutica são os comprimidos em forma de balinhas com sabor adocicado. Isso contribui para que crianças em fase oral e sem discernimento acabem ingerindo frascos inteiros de remédios”, comenta Mrisete. Dos 45 mil 387 casos de “intoxicação acidental” registrados pelo Sinitox, os medicamentos perdem apenas para os animais peçonhentos, com 17,9% e 35,7% dos casos respectivamente.

As intoxicações podem acontecer através de várias circunstâncias. Uma delas é classificada como “acidente individual”, que ocupa o primeiro lugar na lista nacional de motivos de intoxicação por medicamentos e inclui, por exemplo, o casos das crianças que ingeriram remédios por acaso. A automedicação, segundo os dados nacionais do Sinitox, ocupa o quarto lugar nessa mesma lista, que possui o quinto lugar preenchido pelo motivo: “abuso de medicamentos”.

Heloísa Ramos, 22 anos, aluna da 6ª fase do Curso de Medicina da UFSC, entrevistada na Farmácia Escola SESI/UFSC já ingeriu polivitamínicos, analgésicos e remédios fitoterápicos sem indicação médica, como muitos brasileiros. “Em relação aos polivitamínicos, conheço alguns dos riscos que o uso freqüente pode ocasionar. O cálcio, por exemplo, em excesso pode causar cálculo renal”, explica a aluna. Mas, não são todos os clientes da farmácia que possuem algum conhecimento sobre o assunto.

Segundo Geisa Suene, farmacêutica da Farmácia Escola SESI/UFSC, muitas pessoas desconhecem os riscos que estão por trás das “caixinhas” e tentam comprar medicamentos sem receita médica. Xaropes fitoterápicos e laxantes, remédios de venda livre, de acordo com Geísa, são solicitados constantemente por clientes que dispensam o auxílio farmacêutico. “Existe um xarope, por exemplo, que não pode ser ingerido por diabéticos”, comenta.

Os remédios de uso contínuo que deveriam ser vendidos sob prescrição médica, pois possuem a famosa tarja vermelha, muitas vezes são vendidos sem receita. “Muitas vezes o cliente esquece, perde ou cansa de levar a receita até a farmácia e assim partimos do pressuposto que o medicamento já é utilizado pela pessoa e que ela já possui uma prévia orientação médica. O que fazemos então é orientar o cliente sobre a dosagem e buscar informações complementares sobre o indivíduo para que a venda se efetue com segurança”, conta Geisa.

Em relação à publicidade dos medicamentos, Geisa comentou também, que em Santa Catarina a lei publicitária é mais respeitada do que em outros estados como Paraná e São Paulo, onde a propaganda ilegal é bem mais evidente. “Muitas vezes, devido ao efeito dos comerciais de televisão, os clientes se sentem seguros e não pedem informações nas farmácias”, afirma.

Segundo os dados do CIT/SC, o uso crônico de ansiolíticos (soníferos), antidepressivos, analgésicos e vitaminas, podem causar problemas sérios para a saúde humana. Os ansiolíticos causam ao longo prazo, sonolência, confusão, amnésia e menor coordenação motora; os analgésicos, problemas no fígado e os antidepressivos visão borrada, erupções na pele, sudorese excessiva, retenção urinária entre outros. Já os problemas derivados do uso crônico de polivitamínicos dependem do tipo de vitaminas ingeridas. A vitamina “A”, por exemplo, pode gerar ressecamento e descamação da pele, enxaqueca e visão borrada.

Mais informações: 0800 643 5252 (CIT/SC)

Por Lívia H. Freitas / Bolsista de jornalismo na Agecom.