Nós, os “desURPados”

12/02/2007 09:31

Nós, os “desURPados”

Lúcio José Botelho – Reitor da UFSC

Recentemente assisti a um debate em um programa de televisão sobre os salários do Legislativo e do Judiciário, representados, respectivamente, por dois deputados federais e dois juízes.

Tentei falar enquanto o programa estava no ar, mas infelizmente não obtive êxito. Quis sugerir que alguém representasse também o Poder Executivo (poderia ser eu mesmo na condição de reitor e de vice-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de

Ensino Superior-Andifes).

Nada tenho contra a remuneração paga naqueles dois Poderes. Nem os entendo como exorbitantes. Considero, no entanto, aviltante, diante do que ficou exposto publicamente, os míseros R$ 1.750,00 estipulados como salário para um professor doutor em regime de Dedicação Exclusiva (DE).

Esse valor, acreditem, é o salário-base sobre o qual podem incidir algumas vantagens (gratificações, ganhos judiciais ou incorporações, que somam, no final da carreira, proventos da ordem de R$ 7.000,00 brutos.

O fato é que dentre os três Poderes, os profissionais do Executivo, principalmente os das áreas prioritárias (educação,saúde.etc), são os mais arrochados.

Nesse contexto de achatamento, há poucos dias cumprimos determinação

judicial, comunicando ao Ministério do Planejamento, o corte da URP, paga, por amparo judicial, desde de 1991, provocando perdas salariais entre 14 e 26% na categoria docente.

A retirada da URP, após 16 anos integrar a folha dos nossos professores, é, no mínimo, deprimente para qualquer dirigente universitário. Ainda mais em um país que parece, finalmente, ter conseguido debelar a inflação e estabilizado a economia.

O corte vem em uma hora quando a classe média encontra-se bastante combalida. Pior, em um momento de poucas perspectivas de recuperação do poder aquisitivo dos trabalhadores públicos, sobretudo das instituições federais de ensino.

Agora, quando demonstra acreditar que o investimento em educação, ciência, tecnologia e inovação é a única possibilidade de um futuro soberano, o País comete um equívoco que se choca frontalmente com essa política de Estado. O Governo e setores do Judiciário esquecem que o instrumento para a mudança passa necessariamente pelo respeito às pessoas e que uma educação de qualidade e uma Universidade forte, preparada para ajudar o País, exige professores reconhecidos e motivados.

Não é para menos que, a cada golpe desses, mais e mais professores abandonem a universidade pública, desperdiçando o investimento feito pelo Estado ao longo dos anos.

Se não aspiramos os salários dos demais Poderes, exigimos, pelo menos, um pouco mais de dignidade e consideração.

Não aceitamos o nivelamento por baixo. O justo, evidentemente, seria estender a URP a todos os docentes das IFES e não retirá-la como se fez na UFSC.