UFSC faz exposição em homenagem a artista popular de Santa Catarina

30/11/2006 15:46

Antes de artista, um lutador. Assim pode ser definido Osvaldo Lopes dos Reis, o Seu Bicaca, que produziu ao longo de seus 98 anos uma obra diferenciada e pouco conhecida. O acervo permaneceu durante décadas aberto à visitação pública no centro de Florianópolis, onde morava o artista e funcionava a Casa de Artes e Exposição Metálica. Tudo graças ao seu empenho pessoal e à luta que travava, diuturnamente, para manter vivo aquele espaço de vida e arte.

Agora surge a oportunidade de o público conhecer melhor e avaliar o seu talento na exposição que a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) abre no dia 4 de dezembro, às 19 horas, no hall da Reitoria, em Florianópolis. A iniciativa em memória do artista apresenta uma seleção das obras que se encontravam na Casa de Artes, que fica na rua João Pinto, na Capital. A promoção é conjunta: Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, EdUFSC e Museu Universitário. Após a exposição, as obras seguirão para a Ilha de Anhatomirim, onde ficarão permanentemente para visitação pública.

Segundo o jornalista cultural Paulo Clóvis Schmitz, que fez várias matérias com o artista, “Osvaldo Lopes Reis era um homem anônimo, desconhecido pela maioria, mas poucos não associavam o apelido Seu Bicaca à figura que se esgueirava entre o ateliê da rua João Pinto, a Praça XV de Novembro e as vias centrais da cidade, sempre alegre, falastrão, mas também ácido com aqueles que nunca deram a devida importância ao seu trabalho, tomando-o por um sujeito exótico, um artista sem canudo e sem a bênção dos críticos e governantes”.

Ainda nas palavras do jornalista, “há três anos Florianópolis perdeu o talento e a teimosia de Seu Bicaca, e com eles a Casa de Artes e Exposição Metálica que mantinha a duras penas no Centro da Capital”.

“Homem do carnaval e do boi de mamão, das marchinhas e do folclore, ele viveu um século (1915-2003) e soube tirar das mazelas da existência e do progresso a sabedoria com que enfrentava o desdém alheio, ciente do valor das peças que criou”, acrescenta o jornalista.

Osvaldo Lopes dos Reis especializou-se em Metalurgia e Serralheria na antiga Escola de Aprendizes Artífices. Sempre muito irrequieto, depois de se aposentar resolveu utilizar o seu conhecimento na arte com metais. Convencido da qualidade e do significado do seu trabalho, decidiu contribuir e participar da história da cultura da Ilha de Santa Catarina.

A sua obra foi declarada como sendo de utilidade pública pelas administrações municipais e estaduais. No entanto, quem atendeu aos seus anseios, oferecendo abrigo e alguma possibilidade de expressão, foi a UFSC. Além da exposição de parte do acervo do artista, a Universidade, através da EdUFSC, transformará a antiga Casa de Artes em um novo espaço cultural voltado ao livro e à leitura.

Para conhecer um pouco mais sobre o homenageado, uma fonte recomendada por Gelci Coelho, o Peninha, é o livro Arte, Vida e Recordações de Osvaldo Lopes dos Reis, publicado em 1994 pela Imprensa Universitária da UFSC. Peninha, ao apresentar o artista na exposição, sublinha que “habilidoso no trabalho com metais, realiza uma obra pitoresca que, por si só, é folclórica e esta qualidade merece ser preservada e apresentada como sempre sonhou, onde pudesse ocupar um grande salão e ficar em exposição para o povo aprender sobre a nossa história, sobre as nossas autoridades, a nossa cultura das danças do cupido, a dança dos arcos, do pau de fitas, as quadrilhas que se dançava até o amanhecer” (…)

A família, atendendo à vontade de Osvaldo Lopes dos Reis, deixou o seu legado artístico para a UFSC, uma “instituição de ensino, pesquisa, extensão e cultura”, esperando dessa forma, como lembra Peninha, “contribuir para a informação sobre a história e o folclore do nosso Estado”.

Em 1986 Osvaldo Lopes dos Reis escreveu um bilhete intitulado “Um pouco de história” que estava pendurado na parede na Casa das Artes até hoje, véspera desta exposição. Dizia: “Os índios carijós, primeiros habitantes da Ilha deram-lhe duas denominações: Meiembipe (lugar acima do rio) e Jurerê Mirim (boca pequena). Em 1675, o bandeirante Francisco Dias Velho trouxe sua família à Ilha, e nela fundou a povoação com o nome de Nossa Senhora do Desterro. De 1748 a 1756 imigraram cerca de 5.000 açorianos para Ilha. De 77 a 78, a Ilha foi ocupada por Espanhóis sob o comando do general Pedro de Zeballos. A denominação da Ilha de Santa Catarina, que posteriormente abrangeu todo o Estado, foi dada por Sebastião Caboto, provavelmente em homenagem a sua mulher Catarina de Medrano. Todavia, espírito religioso de seus habitantes, transferiu tal homenagem exclusivamente para a padroeira do Estado de Santa Catarina de Alexandria, mártir do cristianismo e em 1894 a cidade passou a denominar Florianópolis em homenagem ao Marechal Floriano Peixoto, o líder da revolução”.

Poucas informações podem ser encontradas sobre o artista Osvaldo Lopes dos Reis na Internet. Destaca-se o Museu Virtual elaborado por Mara Regina de Oliveira (site www.cfh.ufsc.br/labhmm/osvaldo.html). O trabalho tem como título “Arte, vida e recordações de Osvaldo Lopes dos Reis”.

Mais informações sobre a Exposição com Jói Cletison (fone 48-3331-9459), Gelci Coelho, o Peninha (48) 3331-9325 e Alcides Buss (48)3331-9325

Fonte: Moacir Loth/ jornalista na Editora da UFSC