INICIAÇÃO CIENTÍFICA: abuso sexual é analisado por aluna do Curso de Serviço Social
“O hábito da pesquisa é importante para fugir do senso comum, alcançar a eficiência e não repetir modelos”, avaliou Moanna Matos, acadêmica da oitava fase do curso de Serviço Social da UFSC, contando sua experiência no Programa de Iniciação Cientifica. A aluna desenvolveu o estudo “Fatores de proteção e de risco para o abuso sexual: um estudo com mães resilientes”, com a orientação da professora Catarina Maria Schmickler, do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Violência.
O núcleo pertence ao Centro Socioeconômico (CSE) e já desenvolveu outros projetos na área. Este estudo é um aprofundamento sobre o tema na busca sobre os aspectos que contribuem para a violência e abuso sexual em crianças. A abordagem usada pela pesquisa é a trajetória de vida das mães das vítimas. A aluna e a orientadora entrevistaram sete mulheres que enfrentam o problema, cinco tiveram acompanhamento do programa do governo federal Sentinela e duas não receberam nenhum auxílio institucional.
Moanna explica que a violência sexual é um ciclo vicioso que inicia com o abuso da mãe durante a infância, facilitado pelo silêncio e pela falta de confiança no adulto responsável. Outro dado importante levantado no estudo foi a falta de vínculo próximo entre mãe e filha ― muitas das mulheres abusadas na infância perdiam a mãe muito cedo, sendo criadas pelos avós ou então a necessidade do trabalho causava um certo abandono dos filhos em casa.
A necessidade de um acompanhamento justifica-se por vários motivos. A pesquisa levantou que, em vários casos, a criança é acusada pelo agressor de provocar o próprio abuso através do seu comportamento. Moanna constatou que a insegurança é crescente, porque o abuso se dá através da violência psicológica, instaurando medo e impondo o silêncio. Quando o menor resolve denunciar a contínua convivência com o agressor aumenta a tensão psicológica, que faz a criança negar os fatos. E o grande problema é o fato de que as meninas abusadas crescem com insegurança e se tornam mães em relacionamentos baseados no poder e medo, muitas vezes com violência física, potencializando, inclusive, um futuro abusador.
O programa de acompanhamento trabalha justamente o papel da mãe, procurando resgatar o diálogo e promover a aproximação entre mães e filhos. “Até compreender o que é ser mãe”, explica a acadêmica. As mulheres que sofreram abusos na infância e tiveram seus filhos abusados são em geral submissas, têm no casamento uma relação de hierarquia e pânico de quebrar essa relação, já que o companheiro na maioria das vezes é o que sustenta a casa.
Todos estes motivos fazem com que a mãe não proteja de verdade seu filho. Em vários casos existe a violência física contra a mulher, mas não contra os filhos. “Os pais chegam a ser amorosos e isso camufla a relação de abuso”, explicou a estudante. A pesquisa indica que a saída para o problema é restaurar estes laços entre mãe e filho, fazendo com que a mãe crie consciência do seu papel enquanto protetora de seus filhos.
Mais informações com Moanna Matos, e-mail: moanna.matos@pop.com.br
Por Juliana Dal Piva / Bolsista de Jornalismo na Agecom