EXTENSÃO: projeto analisa moluscos cultivados em Santa Catarina

20/10/2006 11:30

O Laboratório de Virologia Aplicada (LVA), do Departamento de Microbiologia e Parasitologia da UFSC (MIP), realiza análises para verificar o nível de poluição existente em moluscos comestíveis e nas águas do litoral catarinense. Com o projeto de extensão “Monitoramento da sanidade de ostras de cultivo para o vírus da hepatite A e Salmonella entérica serovar Thyphimurium”, o laboratório do MIP emite laudos sobre as condições sanitárias de ostras aos produtores do estado.

O projeto de pesquisa começou em 1998, quando a UFSC passou a integrar o programa “Brazilian Mariculture Linkage Program (BMLP)”, que atuou no país de 1994 a 2003 e foi financiado pela Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional (CIDA). De acordo com a coordenadora do LVA, Célia Regina Monte Barardi, os primeiros cinco anos do BMLP foram destinados ao apoio para o desenvolvimento da maricultura. A partir de então, teve início a fase de consolidação da atividade, etapa em que o laboratório da UFSC foi convidado a participar.

O LVA trabalha com diversos tipos de bactérias e vírus entéricos que podem ser transmitidos por moluscos. A doutoranda em Biotecnologia, Adriana de Abreu Corrêa, explica que os moluscos se contaminam quando esgotos contendo fezes humanas infectadas são liberados no mar em que os animais são cultivados. “Como são filtradores, absorvem a matéria orgânica da água e se tornam transmissores da doença. Os seres humanos se contaminam devido ao hábito de comer ostras cruas ou ‘levemente cozidas’, de forma que os patógenos não são inativados pelo calor”, afirma.

Durante o verão o problema se agrava, pois as águas tornam-se mais poluídas. Com o aumento da população nessa época do ano, devido à chegada de turistas, ocorre maior produção de esgoto. Ainda durante a estação a ocorrência de chuvas é mais freqüente, o que faz com que os sedimentos sejam arrastados com maior facilidade.

Grande parte dos produtores catarinenses não exporta seus moluscos porque, segundo as pesquisadoras da UFSC, a legislação de países como os da União Européia é muito mais rigorosa do que a existente no Brasil. Além disso, nem todos os produtores do estado possuem o certificado do Serviço de Inspeção Federal (SIF).

A quantidade máxima de coliformes fecais aceitável, de acordo com o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), é de 43/100mL de água, enquanto que vírus entéricos e bactérias do tipo Salmonella não são tolerados nem em quantidades mínimas.

Processo de Depuração

Uma das possibilidades de eliminar patógenos dos tecidos das ostras é submeter esses organismos a um processo de depuração. Adriana Corrêa trabalhou com pesquisas na área durante seu mestrado e explica que o processo – muito utilizado em grandes mercados produtores de moluscos bivalves, como a União Européia – tem por objetivo a eliminação de microorganismos dos tecidos dos moluscos.

Na depuração, os animais não ficam diretamente no ambiente marinho, eles permanecem em tanques com água salina. O princípio é a manutenção dos molucos, durante determinado período de tempo, em contato com água limpa, sob condições controladas, para que através do mecanismo natural de filtração os patógenos presentes na carne sejam excretados nas fezes dos moluscos.

No Brasil, a depuração não é uma prática estabelecida e há poucos trabalhos relacionados a pesquisas sobre esse processo. O laboratório de Virologia Aplicada da UFSC desenvolve pesquisas na área e, de acordo com a doutoranda, bons resultados já foram obtidos em estudos sobre depuração de ostras contaminadas com Salmonella Thyphimurium. Além disso, novos estudos começarão sobre a dinâmica de depuração de patógenos entéricos virais.

Para mais informações ligue: professora Célia Regina Monte Barardi – 3331 52 07 ou mande e-mail para: cbarardi@ccb.ufsc.br

Por Ingrid Cristina dos Santos / bolsista em Jornalismo da Agecom