UFSC implanta disciplinas de jornalismo online e debate o assunto em aula inaugural

27/09/2006 16:06

“A questão do Jornalismo Online é um tema que nos desafia”. Assim iniciou sua fala o jornalista Carlos Castilho, durante a palestra que ministrou para os alunos do curso de Jornalismo da UFSC. A palestrou marcou a aula inaugural das disciplinas de Redação para Internet, WebDesign e Jornalismo Online. Castilho conversou por quase duas horas sobre os mais variados temas que envolvem o jornalismo na web, frisando que a preocupação não está relacionada com a tecnologia que será utilizada, mas como a internet está se inserindo na vida das pessoas.

O jornalista definiu o jornalismo online como um novo canal de comunicação, que possivelmente pode se tornar uma mídia. Também fez questão de lembrar que o conhecimento na área ainda não está concluído, justamente porque o ambiente digital é muito complexo. Nesse sentido várias dúvidas ainda surgem, criando um clima de insegurança tanto nos profissionais quanto nas empresas da área.

Castilho também disse que os valores do jornalismo convencional (criatividade, objetividade, isenção e transparência) se mantêm, mas que a estes se unem novos conceitos como o do trabalho em conjunto, alterando a questão dos direitos autorais. O trabalho sozinho na Web é dificultado pelas constantes atualizações dos softwares, motivo que sustenta a presença de vários profissionais trabalhando juntos, além das mudanças em relação ao próprio texto, que deve ter uma narrativa não linear.

No novo canal a notícia ganha um outro significado. Ela passa a ser um produto multimídia em constante construção, devido à participação dos leitores. “A interatividade é mais que uma carta ao leitor, ou a participação dos ouvintes pelo rádio, o leitor passa a ser um produtor de conteúdo”, afirmou. Dessa forma, foi criado pelos americanos o termo PRO-AM (profissional-amador).

Desafios

O palestrante lembrou que a crise nos jornais diários é evidente, e que a leitura está em baixa no mundo todo. No Brasil, a queda chega a 17% desde 2000, com um pequeno aumento de 0,4% em 2004. A este fato somam-se maus investimentos no início da informatização das redações e agora a migração da publicidade para a internet. Então surge novamente o antigo questionamento: “O jornal impresso acaba com o crescimento da internet?”.

Castilho acredita que não, mas afirma que a mídia vai passar por mudanças. Para ele, o jornal impresso não é o melhor para dizer o que está acontecendo, mas o porque dos fatos. Hoje não se produz material analítico suficiente e a concorrência do factual com a Web é inútil, já que um site é atualizado mais rapidamente.

Um dos grandes ganhos com o jornalismo online, para Castilho, é o fato de que os eventos e situações menores, muitas vezes esquecidos nos grandes jornais, poderão ter na internet o espaço que necessitam. Nesse contexto, entra um novo papel para o jornalista, o de treinador de amadores. O cuidado com as técnicas de apuração é necessário para que não apareçam informações equivocadas.

Castilho aproveitou a deixa para dizer que não se pode confiar totalmente no conteúdo divulgado na internet. Diferente do maniqueísmo do jornais impressos, certo versus errado, na internet aparecem várias versões do mesmo fato e sob diferentes enfoques. “Não existem mais donos da verdade”, disse.

Desemprego

Outra questão sensível colocada em pauta durante a palestra foi a questão do desemprego. Castilho afirmou que o jornalismo online gera desemprego numa primeira fase, mas reiterou dizendo que os alunos não conseguem sair completamente preparados das faculdades e por isso o que se deve exigir não são novos empregos, e sim treinamento das novas técnicas. A boa notícia é que a redação multimídia, a médio e longo prazo, vai empregar até três vezes mais do que hoje, mas para isso é necessária qualificação. “Não existe fórmula para ganhar dinheiro, é preciso experimentar, usar a criatividade”.

Quando questionado pelos alunos sobre o que é preciso fazer para o jornalismo online se desenvolver plenamente, já que os atuais jornais brasileiros apenas transcreverem a versão impressa em suas páginas na web, Castilho foi objetivo: “Não há demanda para maior qualidade”. E continuou dizendo que o grande problema é a exclusão digital da população brasileira. “É preciso que se veja o acesso à internet como uma política pública, hoje apenas dois milhões têm acesso à banda larga e a internet discada impossibilita várias operações ”.

A palestra ocorreu no auditório do Centro de Comunicação e Expressão durante a tarde da última segunda-feira. Carlos Castilho é jornalista, escreve para o site Observatório da Imprensa, através do seu blog “Código Aberto”. Ele também já foi editor internacional do Jornal do Brasil (JB) e chefe dos telejornais e do escritório internacional da TV Globo em Londres.

Mais informações sobre a palestra no site http://ccastilho.gather.com// ou pelo e-mail ccastilho@gmail.com.

Por Juliana Schwartz Dal Piva / Bolsista de Jornalismo na Agecom / UFSC