Livro da EdUFSC mostra face escondida atrás do discurso ecológico da mídia

20/09/2006 11:58

Os meios de comunicação fingem defender a natureza através do discurso disfarçado de jornalismo ambiental em torno do conceito de desenvolvimento sustentável. A máscara da mídia cai com a leitura do livro “Quando a palavra sustenta a farsa-O discurso jornalístico do desenvolvimento sustentável”, de autoria da jornalista e pesquisadora Miriam Santini de Abreu. O lançamento acontece nesta quinta, 21/9. às 19h, na Associação dos Servidores da UFSC (Volantes).

Publicada pela EdUFSC, a obra consegue o feito de permear três diferentes áreas do conhecimento, ou seja, a autora estrutura a sua base de pesquisa na Geografia,

no Jornalismo e na Análise de Discurso. Miriam escreveu a obra analisando dois jornais dedicados à cobertura de meio ambiente, um regional e um nacional.

“Apesar de se considerar ´revolucionário`, o jornalismo ambiental, aqui analisado, reproduz a lógica capitalista, pela qual tudo é ou pode vir a ser tratado e vendido como mercadoria”, constata.

De acordo com Miriam, o discurso em geral sobre a natureza é,

fundamentalmente, um discurso político, de poder, construído também a partir do espaço. O discurso do jornalista, então, acaba por refletir os interesses empresariais e oficiais. Os textos dissecados, em sua maioria, têm uma relação visceral com a ideologia dominante.

“Neles, os efeitos de sentido que o desenvolvimento sustentável produz remetem ao período histórico que vivemos, no

qual a natureza é, acima de tudo, mercadoria”, o que, na verdade, contraria o propósito e os próprios princípios do chamado jornalismo ambiental. “É que o sujeito-jornalista, ao produzir o seu texto, é capturado por duas ilusões: a de que detém os sentidos da palavra e a de que pode e deve ser objetivo”. O resultado, no caso pesquisado, “é que ele acaba por deixar que seu próprio discurso caia nas mesmas armadilhas que denuncia nos discursos alheios”.

A pesquisadora aponta algumas conseqüências preocupantes para o exercício do jornalismo. “A primeira delas é que o jornalista deixa que sua função social se perca, passando a assumir também a posição de especialista, até de cientista”. Uma segunda distorção decorre do fato de os documentos utilizados nas reportagens geralmente expressarem o discurso ideológico globalizado.

“Significa, portanto, partilhar da crença de que as soluções para os dilemas do desenvolvimento possam ser homogêneas, independentemente da formação socioespacial onde se produziram e onde vão ser reproduzidas”, frisa.

A jornalista, em síntese, investigou os sentidos produzidos pelo discurso ambiental na mídia, especialmente quanto às implicações do conceito de desenvolvimento sustentável, colocando às claras as contradições, as ambigüidades e as sutilezas desse jornalismo. “Na trilha da resistência, este livro representa uma clareira de esperança, pois contrapõe-se, de modo resoluto, à idéia de jornalismo de mercado”, sustenta a jornalista e professora

Raquel Moysés no prefácio da obra.

Já a jornalista Elaine Tavares, do Observatório Latino-Americano (OLA), vê em Miriam Santini “uma mulher decidida, de olhar firme, inovadora na teoria e nas práticas cotidianas”. A autora, sublinha Elaine, é uma jornalista capaz de narrar a vida na sua complexidade de tempo e espaço. Não é à toa, portanto, que este livro discute o nexo entre o jornalismo e a geografia”. Para o professor

Nazareno José de Campos, do Departamento de Geociências da UFSC, a autora foi além da expectativa, uma vez que inseriu em sua análise acerca da discussão jornalística do desenvolvimento sustentável uma interpretação geográfica.

Miriam Santini de Abreu é natural de Caxias do Sul (RS). Formada em

Jornalismo pela Unisinos e especialista em Educação e Meio Ambiente pela UDESC, possui mestrado em Geografia pela UFSC. Atuou em vários jornais do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em 1999 conquistou o Prêmio “Qualidade de vida pela contribuição em defesa do meio ambiente no Estado de Santa Catarina”, concedido

pela Federação de Entidades Ecologistas Catarinenses (FEEC). É professora de Jornalismo e assessora de comunicação do Sindicato dos Trabalhadores da UFSC (Sintufsc).

Quando a palavra sustenta a farsa –

O discurso jornalístico do desenvolvimento sustentável

Miriam Santini de Abreu

EdUFSC – Série Geral

180 p. R$ 22,00

Contatos com Miriam: fones (48) 3234-6169; 3331-9220, 3331-9614; e-mails: miriam@sintufsc.ufsc.br e misabreu@yahoo.com.br