SEMINÁRIO INTERNACIONAL FAZENDO GÊNERO 7: Mesa-redonda discute Preconceito e midia

29/08/2006 17:11

Fotos - Jones Bastos - Agecom/UFSC

Fotos - Jones Bastos - Agecom/UFSC

A antropóloga e professora da UFSC Carmen Rial foi uma das participantes da mesa-redonda Preconceito e Mídia que integra a programação do Seminário Internacional Fazendo Gênero 7. A mesa aconteceu no auditório do Convivência, completamente lotado, nesta terça-feira, dia 29. Participaram também as professoras Suzana Funck da Universidade Católica de Pelotas e a professora Heloísa Buarque de Almeida, da Unicamp. A mesa é coordenada pela professora Carmem Suzana Tornquist, da UDESC.

Heloisa Buarque de Almeida escolheu a análise da televisão que é objeto de seus estudos. Disse que se propõe a uma “Antropologia da Mídia” – pesquisando todo o processo da mídia, toda a lógica de produção e processo de recepção.

Heloisa frisou que a mídia a qual se referia era a mídia-empresa, a que tem que ser lucrativa. Na televisão, ao contrário do cinema, não é o espectador que paga o custo e, sim, o anunciante. A audiência é olhada como consumidora. Para os publicitários que a pesquisadora entrevistou a mídia reflete a sociedade. Já , em contraposição, há uma outra máxima que a mídia, atualmente, ocuparia o lugar de um 4º poder. Para Heloisa a mídia é sim um dos lugares de construção do simbólico, de construção da cultura. Relativamente poderosa, ela – a mídia – é uma das construtoras nas questões de gênero, raça e sexualidade.

A qualificação da audiência é medida pelo potencial de consumo – medida criada pelo pessoal de marketing. Este é um dos problemas das redes como a SBT para conseguir anunciantes, já que se sabe que sua audiência pertence a classes de menos potencial de consumo.

Programas como as novelas são vistos como consumo feminino e dirigidas preferencialmente para as Classes A,B e C, que são determinadas a partir de: número de banheiros na habitação, nível de escolaridade do chefe da casa, bens de consumo da família e presença ou não de empregada doméstica. Para o marketing a dona de casa é a pessoa da casa que faz compras.

A novela além de levar novos produtos, discute temas que não confrontem com a ” moral” nacional da mulher boa mãe , aborto ainda é tabu.

No imaginário da televisão a mulher é dedicada, mãe e esposa amorosa, bem vestida, glamourosa, trabalha fora e isto acaba fazendo parte do imaginário e do discurso de homens e mulheres. Esta construção do ” feminino ideal” é também uma construção que abarca o consumo de potencialmente tudo.

Homossexuais vêm ganhando espaço na tevê porque é enorme seu potencial de consumo.

Heloisa encerrou falando sobre o marketing social, quando se usa a mesma estrutura de propaganda para colocar na estrutura de uma novela ou de um programa de televisão, como era o seriado Mulheres, mensagens sócio-educativas.

Suzana Funck, cuja especialidade é a literatura se propôs a fazer uma análise crítica de discurso a partir da escolha aleatória de dois números de jornais – Diário Catarinense. Citando Batkin disse que a palavra é o lugar onde o conceito se materializa, daí sua exposição levantar questionamentos de o porquê da presença feminina menor ou maior em determinadas páginas e setores do jornal, enquadramento das fotos e destaques da capa, deduzindo que aí também nestas escolhas se demonstram os preconceitos em relação ao papel que a mulher desempenha e o local que ocupa na sociedade.

Carmen Rial é coordenadora do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC e do Núcleo de Publicação de Periódicos (NUPPe) e integra o Núcleo de Antropologia Audiovisual e Estudos da Imagem (NAVI), campo em que vem desenvolvendo suas últimas pesquisas. Carmen Rial falou sobre estupro e sacrifício na guerra do Iraque.

Segundo Carmen Rial, os antropólogos que estudam guerras mostram que a paz tem sido o interlúdio entre duas guerras e não o contrário. Carmen analisou a cobertura da mídia (CNN e Fox News) sobre como se tem reagido ao papel das mulheres na guerra, onde além de auxiliares, enfermeiras ou cozinheiras, passaram a integrar efetivamente o exército. “Quando uma mulher empunha armas, como Joana d’Arc, precisa esconder seu sexo. E, revelada sua condição de mulher, resolve-se a incongruência transformando-a em santa ou bruxa,a enviando para fogueira”, analisa a pesquisadora. Ela cita como modelos paradigmáticos duas mulheres que apareceram na mídia na guerra do Iraque: a soldada Lynch, protagonista de um “sequestro” não esclarecido, vez que foi “resgatada” de um hospital onde estava se recuperando e cujo silêncio manteve o mito de santa e England, seu oposto, satanizada, por sua imagem, que mais revolta causa,nas fotos de Abu Ghraibe.

Enviadas também para a fogueira são as iraquianas estupradas pelos soldados e mercenários norte-americanos. Esta desonra que se torna não individual, mas grupal, é muitas vezes evitada pelo suicídio, meio de evitar que nestes estupros étnicos se transporte além da semente da vida, a marca étnica, a marca religiosa, enfim, toda a identidade.

Carmen fez uma análise das fotografias destes estupros, divulgadas pela Internet, buscando mostrar o quanto as mulheres são estereotipadas ou silenciadas pelo tipo de cobertura que lhes é dada na mídia global. Afinal quem viu as fotos destes estupros? Elas aparecem em sites pornográficos, revelando o horror de que, mesmo depois de estupradas e mortas, elas rendem dinheiro ao estuprador e, são novamente estupradas a cada acesso a um destes sites.

A partir das coberturas televisivas, a professora formula a hipótese de que as coberturas globais, ainda que veiculem em diferentes países e em diferentes canais de televisão as mesmas imagens, não veiculam as mesmas mensagens, isto é, à incontestável homogeneidade de imagens se contrapõe uma heterogeneidade da cobertura.

Por Alita Diana/ jornalista coordenadora da Agecom