Pesquisa da UFSC mostra problemas causados pela sílica em trabalhadores da construção civil
A silicose, doença causada por partículas de sílica presentes no pó de cimento, é capaz de levar à morte em longo prazo. Esta enfermidade provoca distúrbios no pulmão e pode atingir, principalmente, trabalhadores da construção civil. O efeito que a exposição excessiva a esta poeira causa à saúde dos operários é o tema da pesquisa “Saúde na construção: investigação do risco e conseqüências da silicose para os trabalhadores de canteiro de obras”, desenvolvida por Cristine do Nascimento Mutti, professora do Departamento de Engenharia Civil da UFSC, e Giovanni Maria Arrigone, da Univali. O trabalho está sendo apresentado no XI Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (Entac), em Florianópolis, de 23 a 25 de agosto, no Costão do Santinho. O tema do encontro é “Construção do futuro” e diversos trabalhos buscam a melhoria das condições de trabalho na indústria da construção.
De acordo com o estudo, o setor da construção civil ainda não sentiu os males que a silicose pode causar. Os operários desconhecem a doença, a gravidade do problema e não utilizam adequadamente os dispositivos de proteção que evitam inalar a poeira. A pesquisa também mostrou que o uso das máscaras causa desconforto, principalmente em dias muito quentes. Os trabalhadores também consideram que o pó de cimento é perigoso somente para a pele, olhos e mucosas nasais. Outro problema apontado foi a falta de lugares separados ou protegidos para refeições. Isso faz com que, normalmente, os operários almocem na obra, perto dos lugares onde acabaram de trabalhar produzindo poeira.
A sílica livre cristalina é extremamente tóxica por suas propriedades que levam à lise celular. Esta lise celular causa a formação de cicatrizes nos tecidos do pulmão. Inicialmente, os trabalhadores em contato com esta poeira podem não apresentar sintomas da enfermidade. Porém, à medida que a doença progride, correm o risco de ter dificuldades para respirar, além de tosse e dor no peito.
O número estimado de operários potencialmente expostos a esta poeira no Brasil é superior a seis milhões, sendo cerca de quatro milhões na construção civil, 500 mil em mineração e garimpo e acima de dois milhões em indústrias de transformação de minerais, metalurgia, indústria química, de borracha, cerâmicas e vidros. Em Florianópolis, no período entre 1996 e 2005, o número de óbitos causados pela doença ficou em torno de 5 e 10, uma incidência considerada bastante alta para a cidade.
O diagnóstico da silicose é baseado na radiografia de tórax em conjunto com história clínica e ocupacional coerentes. Um inquérito rigoroso sobre a profissão, ramo industrial, atividades específicas detalhadas, presentes e passadas, é fundamental para a caracterização da doença. Entretanto, a pesquisa concluiu que os níveis de mortalidade não refletem a gravidade do problema e escondem a magnitude da doença e todos os malefícios que a poeira de sílica pode causar.
Nas próximas etapas o projeto tem como meta medir níveis de poeira em obras e quantificar o conteúdo de sílica livre. A pesquisa vai analisar a incidência da silicose no setor da construção civil na região de Florianópolis, com possibilidade de estender as observações a todo o estado de Santa Catarina. Também é desafio da pesquisa sugerir soluções tecnológicas e regras para um ambiente de trabalho mais saudável em relação à poeira de sílica.
Mais informações com Cristine do Nascimento Mutti (ecv1cnm@ecv.ufsc.br) ou Giovanni Maria Arrigone (gio_arrigone@hotmail.com). Contatos telefônicos via Agecom: 48 3331 9323 / 3331 9601
Por Miriane Moreira Campos /estudante do Curso de Jornalismo – para a Agecom