Laboratório da UFSC avalia contaminantes presentes nos resíduos da construção

03/08/2006 18:23

O aproveitamento dos resíduos da construção vem sendo apontado como uma ação estratégica na busca da chamada habitação sustentável. Mas, até que ponto esse reaproveitamento é seguro? Responder a essa pergunta é um dos desafios do projeto “Avaliação de contaminantes dos resíduos da construção e elaboração de sistema de apoio à decisão: reaproveitamento sustentável”. Financiado pelo Programa de Tecnologia de Habitação (Habitare), da Finep, o estudo tem como objetivo contribuir com a identificação dos contaminantes orgânicos e inorgânicos do resíduo da construção.

Contemplado na linha temática “Tecnologias para construção habitacional mais sustentável”, o projeto é coordenado pela professora Janaíde Cavalcante Rocha, do Laboratório ValoRes (Valorização de Sub-Produtos Industriais), ligado ao Núcleo de Pesquisa em Construção Civil da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). De acordo com a professora, a informação é estratégica e pode colaborar com a identificação de critérios para aceitação e reserva do resíduo para sua aplicação futura. A meta é estabelecer parâmetros ambientais para coleta e pré-seleção de amostras, desenvolver um protocolo de análise para a detecção e identificação dos poluentes nas pilhas dos resíduos e dos agregados reciclados. A pesquisa busca também avaliar os poluentes que poderão ser liberados de concretos e argamassas produzidas com adição do RCD – o resíduo da construção e demolição.

O projeto prevê ainda a elaboração de um Sistema de Apoio à Decisão, para dar suporte ao reaproveitamento sustentável dos resíduos da construção em pequenos municípios. A idéia é que a ferramenta informatizada auxilie usuários não especialistas na estimativa da quantidade e características dos RCDs gerados no município, para uma posterior tomada de decisão quanto ao cadastramento de áreas de recebimento, triagem e destinação final. A meta é auxiliar pequenas comunidades e prefeituras de cidades de pequeno porte na abordagem dos problemas relacionados ao resíduo da construção, minimizando os impactos ao ambiente.

Resultados

Análises de amostras de material processado na Usina de Reciclagem e Beneficiamento de Entulho e Materiais, localizada em São Bernardo do Campo (SP), e na Unidade Recicladora de Materiais mantida pelo Departamento de Limpeza Urbana da Prefeitura Municipal de Campinas(SP), indicam a presença freqüente de elementos como ferro, zinco, titânio, cobre, arsênio e cádmio no resíduos da construção . “Não encontramos nenhuma fração sem metal pesado e os índices extrapolam o máximo permitido na água potável”, informa Janaide. Segundo ela, os índices levam a um questionamento acerca da classificação de inerte para o resíduo da construção. “Inerte é aquele que não se transforma, mas estamos verificando que não é bem assim”, alerta a professora. Estão também previstas coletas e análises de amostras da usina de reciclagem de Belo Horizonte, uma das primeiras instaladas no país.

A equipe que conta com a colaboração de professores das áreas de engenharia civil, engenharia sanitária e de física, além de bolsistas de graduação e de pós-graduação, já elaborou um protocolo para análise de areia e brita produzidas com resíduos da construção.

Os próximos estudos irão verificar como argamassas e concretos produzidos com matéria-prima reciclada se comportam. Serão analisadas amostras de concreto produzidas com a brita reciclada, para verificar se contaminantes podem ser liberado com ação da chuva, por exemplo. “Essa caracterização tem que ser realizada, é um trabalho pioneiro no Brasil”, avalia a professora, lembrando a importância do estudo em época de valorização do resíduo da construção e de uma panorama favorável de instalação de usinas para produção de agregados reciclados .

Informações:

Professora Janaíde Cavalcante Rocha / e-mail: janaide@npc.ufsc.br, fone 48 3331 5169

Arley Reis / Agecom / UFSC