Estudo de mestranda da UFSC mostra dificuldade de acesso no CIC
O Centro Integrado de Cultura (CIC), um dos espaços culturais mais importantes de Florianópolis, apresenta uma construção que dificulta a acessibilidade de pessoas com restrições físicas – o que contraria a premissa básica da diversidade nos centros culturais. A conclusão é decorrente do trabalho realizado pela mestranda em Arquitetura e Urbanismo da UFSC Aíla Oliveira, que tem orientação da professora Vera Helena Moro Bins Ely.
A pesquisa permitiu uma análise comparativa entre dois centros culturais: o CIC e o edifício sede da Fundação Cultural do Pará “Tancredo Neves” (CENTUR), em Belém (PA). Parte dos resultados estão no artigo “Avaliação das condições de acessibilidade espacial em centro cultural: estudo de casos”, um dos 488 trabalhos aprovados para o XI Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (ENTAC). O evento ocorre em Florianópolis, no Resort Costão do Santinho, de 23 a 25 de agosto.
Arquitetura excludente
São três mil e quinhentos quilômetros de distância e inúmeras diferenças culturais e sociais que separam Florianópolis e Belém. Porém, o CIC e o Centur aparentam ilustrar uma tendência que ocorre na maioria dos centros culturais brasileiros – foram projetados, segundo o estudo, desconsiderando a diversidade humana.
Nos dois centros culturais foram diagnosticados problemas como ausência de placas informativas, desníveis que dificultam o deslocamento, dimensões inadequadas do mobiliário e inexistência de funcionários capacitados para atender pessoas surdas. A pesquisa considerou fatores que vão desde a localização do balcão de informações até a impressão de ingressos em Braille. Também foram destacados os pontos positivos de cada centro, de maneira comparativa.
O estudo procurou contemplar todos os tipos de limitação e as restrições foram classificadas em quatro categorias: sensoriais (relacionadas ao tato, visão, orientação, etc.), comunicativas (relacionadas à fala, audição, etc.), cognitivas (acerca das dificuldades no tratamento de informações) e físico-motoras. A análise foi dividida em quatro critérios (orientação, deslocamento, uso do espaço e comunicação) e em três métodos (visita exploratória, passeio acompanhado por pessoas com restrições físicas e entrevistas com o público).
As conversas com o público mostraram que a maioria das pessoas abordadas já se sentiu perdida dentro dos centros (80% no Centur e 66% no CIC), o que demonstra uma dificuldade na orientação até de pessoas sem restrições. Com relação às saídas de emergência e rotas de fuga, constatou-se que os entrevistados não souberam identificá-las por quase unanimidade. A elitização do público e o preconceito no atendimento também foram questões abordadas.
Na conclusão do trabalho, é reforçada a necessidade de atuação de profissionais no planejamento destes espaços. “É fundamental que arquitetos e engenheiros procurem desenhar de forma inclusiva. Porém, a ausência dos conceitos de Desenho Universal nos currículos dos cursos de arquitetura e engenharia contribui para que estes profissionais não possuam conhecimento das leis e normas de acessibilidade, e não compreendam a complexidade das necessidades espaciais dos usuários – principalmente daqueles com restrições”, avalia a mestranda.
O Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído
O Entac é o evento bianual da Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (Antac). A décima primeira edição, que será realizada em Florianópolis, tem como tema “A Construção do Futuro”. Os trabalhos apresentados serão divididos em 11 áreas temáticas, entre elas conforto ambiental e conservação de energia, desempenho e avaliação pós-ocupação das edificações, gestão de projetos, gestão de resíduos da construção, inserção urbana e políticas públicas. Mais de 1.200 trabalhos foram inscritos para apresentação, sendo 488 selecionados. Mais informações no site http://www.antac.org.br/entac2006/
Por: Gustavo Bonfiglioli / Bolsista de jornalismo da Agecom
Mais informações:
Aíla Oliveira (e-mail: ailaseguin@ig.com.br)
Professor Vera Bins Ely (e-mail: vera@arq.ufsc.br)