REUNIÃO ANUAL DA SBPC: simpósio discute significado do futebol no imaginário
“Planetarização de práticas esportivas: o fenômeno transnacional do futebol”. Este é o tema do simpósio que reunirá os professores Alexandre Vaz e Carmen Rial, da UFSC, e a professora Simoni Lahud Guedes, da Universidade Federal Fluminense (UFF), para discutir as causas e efeitos das migrações dos jogadores de futebol e suas implicações nos indivíduos e na sociedade. Integrado à programação da 58ª Reunião Anual da SBPC, o encontro será realizada na quarta, 19 de julho, a partir de 16h, no auditório do Centro Tecnológico da UFSC.
Segundo a professora Simoni Guedes, coordenadora do Curso de Ciências Sociais da UFF e doutora em Antropologia Social pela UFRJ, o tema do simpósio remete automaticamente para a imagem do capitão da seleção brasileira, Cafu, erguendo a taça da copa do mundo em 2002. No momento em que os olhos do mundo miravam em sua direção, o jogador brasileiro estampava em sua camisa a inscrição 100% Jardim Irene, uma referência ao bairro pobre onde cresceu em São Paulo, mostrando que a mundialização do futebol não obscurece o local e o específico, podendo até mesmo reinventá-lo e revitalizá-lo.
Com o clima de copa do mundo ainda presente no ar, Simoni vai levar para a mesa de discussões um de seus temas prediletos: as formas como o Brasil e os brasileiros se representam através do futebol, discutindo justamente a copa do mundo como um período de ritual nacional. Outro ponto que a professora pretende levantar diz respeito à participação da mídia na aceleração do processo de mundialização do futebol.
O professor do Departamento de Metodologia de Ensino da UFSC e doutor em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade de Hannover, Alexandre Vaz, vai destacar que o futebol é um tema que não passa despercebido por nossos intelectuais. Entre os que escreveram sobre o futebol, Alexandre destaca as figuras de Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro e Roberto DaMatta, que considera o grande responsável pela legitimação do esporte como tema de pesquisa acadêmica no Brasil. É dele a consagração da ambígua figura do malandro como marca de nossa sociedade e daquilo que seria o nosso jeito de lidar com o indeterminado, prevalecendo aqui, em detrimento dos países anglo-saxões, a versão do futebol jogado com os pés e movido pelos quadris.
Alexandre destaca, também, intelectuais que se dedicam ao futebol com a paixão do torcedor e a competência de seu ofício. Tais intelectuais falam de futebol com conhecimento de causa, como conhecedores da cultura futebolística, inclusive de seus aspectos táticos e técnicos. Entre esses está Décio de Almeida Prado, professor e teatrólogo paulista já falecido, cuja prosa deve muito à prodigiosa memória de freqüentador do Pacaembu.
A professora Carmen Rial, do Departamento de Antropologia da UFSC, doutora pela Universidade de Paris V e com pós-doutorado, também na França, na área de Antropologia Visual, falará dos jogadores brasileiros na Espanha como emigrantes diferenciados. Assim como os cerca de três milhões de brasileiros que vivem no exterior, os jogadores de futebol mantêm relações estreitas com o Brasil, investem no Brasil e sonham um dia retornar para o Brasil. A situação destes atletas, no entanto, não pode ser comparada com a de brasileiros que exercem, no exterior, trabalhos rejeitados pela população local. O caso dos jogadores de futebol se assemelha ao de intelectuais ou engenheiros que ocupam posições de destaques. São emigrantes que formam uma categoria à parte: a de especialistas.
Entender como vivem estes emigrantes foi um dos objetivos da pesquisa de Carmen, que esteve na Espanha nos meses de novembro e dezembro de 2004 e de setembro e outubro de 2005. Convivendo com os jogadores e suas famílias, a professora pôde traçar vários aspectos comuns a todos os atletas. A maioria dos jogadores, por exemplo, é proveniente de uma faixa da população que está entre pobres, porém não-miseráveis, e a classe média baixa.
Segundo a professora, os meios de comunicação ajudam os jogadores a se “aproximarem” do Brasil. É a comida, no entanto, que dá o sabor deste Brasil imaginário. A maioria dos jogadores dá preferência à comida caseira, feita por alguém da família, e pouco freqüentam restaurantes no exterior.
Ainda segundo a professora, a importância destes emigrantes não está tanto nas divisas que têm aportado ao país com a venda de seus passes e posteriormente com as remessas, e sim no enorme impacto que causam no imaginário nacional e global. Seu prestígio no sistema futebolístico e da manutenção de suas identidades como sendo brasileiros, influenciam tanto na constituição de um imaginário global sobre o Brasil, como na construção de uma identidade brasileira nacional.
Por: Daniel Ludwich / bolsista de Jornalismo na Agecom
Mais informações:
Carmen Rial/UFSC: rial@cfh.ufsc.br
Alexandre Vaz/UFSC: alexfvaz@uol.com.br
Simoni Lahud Guedes/UFF: simonilahud@uol.com.br
Mais discussões envolvendo o futebol na Reunião Anual:
Conferência
Aerodinâmica e futebol
Quinta-feira, 20/7 – 10h às 11h45
Auditório Laranjeira – Centro de Cultura e Eventos
Conferencista: Carlos Eduardo Magalhães Aguiar (UFRJ)
Mesa-Redonda
O futebol e a copa do mundo da Alemanha: um debate sobre esporte,
identidade, cultura e mercado
Sexta-feira, 21/7 – 10h às 11h45
Miniauditório da FAPEU
Debatedor e Moderador: Paulo Ricardo Canto Capela (UFSC)
Debatedor(es): Arlei Sander Damo (UNISC); João Batista Freire (UDESC)