REUNIÃO ANUAL DA SBPC: religião como solvente cultural é tema de conferência
Catolicismo, luteranismo e umbanda, as três religiões consideradas mais tradicionais pela sociologia, vêm perdendo fôlego nos últimos anos. Ao contrário delas, o pentecostalismo tem conquistado cada vez mais fiéis, por se tratar de uma religião universal, que convoca as pessoas na construção de uma comunidade nova. Com base em pesquisas e considerações de sociólogos como Weber, o professor de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Antônio Pierucci, vai apresentar estas e outras idéias na reunião da SBPC, em Florianópolis. A conferência será realizada na terça-feira (18/07), das 16h às 17h45, no auditório do Centro de Convivência da UFSC.
De acordo com Pierucci, uma transição religiosa de rompimento com a tradição vem ocorrendo desde 1940. As religiões mais procuradas, nesse processo de “destradicionalização”, são as pentecostais e neopentecostais, de raiz protestante. Para ele, essa procura representa a ruptura com um passado religioso que antes parecia bastar. Além disso, Pierucci diz que uma vantagem do protestantismo em relação às outras crenças é o fato de ser uma religião de conversão individual. “O que vale é a inscrição pessoal num meio só de crentes, e não a herança religiosa”, explica.
O professor divide as religiões, de acordo com suas funções, em religiões étnicas e religiões universais. As primeiras seriam aquelas que têm por propósito preservar determinado patrimônio étnico-cultural. Já as universais estariam abertas à conversão de qualquer indivíduo, independentemente de tribo, etnia ou nacionalidade. Do ponto de vista dessa classificação funcional, vem ocorrendo nos últimos anos um deslocamento de religião étnica para religião universal, a desvinculação da crença religiosa com a origem de um povo, segundo Pierucci. Ele afirma que os cultos afro-brasileiros em sua totalidade já se comportam bastante acentuadamente como religiões universais.
Para comprovar essa mudança, o professor cita alguns exemplos baseados em pesquisas realizadas pelo Instituto DataFolha. No conjunto das religiões afro-brasileiras, a maioria absoluta é de brancos, que representam 51,2% do total de fiéis. Essa adesão de brancos a crenças originalmente da etnia negra, como o candomblé, faz com que suas identidades “africanas” sejam “africanizadas” pela fé, identidades, como afirmou Weber, “puramente religiosas”. Outro aspecto que embasa o argumento de Pierucci é o fato de que os negros convertidos ao pentecostalismo se mostram em proporção muito maior (14,2%) do que os que se dizem adeptos das religiões dos orixás (3%).
Pierucci afirma que a religião universal de salvação individual, forma religiosa que no desenvolvimento geral da cultura tende a predominar sobre as demais, funciona como um solvente, desligando as pessoas de sua cultura-mãe, de um contexto cultural que antes lhes parecia natural. Dessa forma, faz do estranho o verdadeiro próximo, com quem constitui uma nova comunidade, formando novos laços, puramente religiosos. Portanto, “religião de conversão não tem a menor consideração”, como afirma Pierucci, com base em estudos do sociólogo Max Weber.
Por Ingrid Cristina dos Santos / Bolsista em Jornalismo da Agecom