REUNIÃO ANUAL DA SBPC: realidade dos idosos na sociedade atual também estará em foco
Boom demográfico, progressão tecnológica, desenvolvimento industrial, revolução conceitual e moral. A dinâmica urbana re-configura os indicadores e grupos sociais, e essa nova configuração abrange inclusive aqueles que acompanharam seu desenvolvimento – os idosos. Registra-se no Brasil um grande crescimento na expectativa de vida – de 33,7 anos em 1900 para 71,6 em 2004, segundo dados do IBGE. Em termos gerais, isso significa um considerável aumento da população idosa no país. A velhice deixa de ser raridade no cotidiano das cidades, desmistificando a concepção paternalista do “ancião”, sábio e sensato. Questiona-se: quais as implicações dessa nova realidade na vida dos idosos e em suas relações sociais?
Para discutir a respeito dessa e de outras questões, será realizado na 58ª Reunião Anual da SBPC o encontro “Envelhecimento Populacional e Organização da Sociedade Civil”, nesta quarta-feira, a partir de 14h, na sala Azaléia, no segundo andar do Centro de Cultura e Eventos. O coordenador é o professor Theophilos Rifiotis, do Departamento de Antropologia da UFSC. Além de Rifiotis, participam pesquisadores da UFSC, Unicamp, Udesc, do Núcleo de Estudos da Terceira Idade (NETI/UFSC) e da Sociedade Brasileira de Gerontologia.
Rifiotis explica o encontro como “uma atividade de reflexão visando contribuir para a orientação de políticas públicas, das instituições governamentais e de sociedades científicas sobre o envelhecimento no Brasil”, e fará sua colocação com base no artigo “O Idoso e a Sociedade Moderna: Desafios da Gerontologia”, de sua autoria.
As questões de Rifiotis
Na opinião do antropólogo, o saber científico sobre a gerontologia se defronta hoje com uma série de dilemas éticos e teóricos. Um deles é o desafio ético da minoridade, em que a problemática reside em um conceito reducionista em relação ao idoso, visto como vítima, excluído, objeto de assistência. Tal concepção é comum no meio urbano, e ainda que possua caráter solidário e intenção positiva, acaba por atribuir minoridade ao velho, infantilizando-o.
Outro dilema é o desafio teórico-ideológico, no qual com o crescimento da qualidade de vida das populações a figura do velho torna-se cada vez mais comum no meio urbano, e o país “envelhece” seus indicadores sociais. Este é um processo que se consolidou principalmente em países europeus, que possuem altos padrões de vida. No Brasil, essa transformação começa também a trazer um novo significado para o envelhecimento.
De acordo com Rifiotis, hoje é predominante a cultura co-figurativa, na qual os filhos e pais aprendem com seus respectivos pares, e a pós-figurativa, em que os filhos também ensinam a seus pais. Com isso, o modelo alicerçado primordialmente pela figura do pai instrutor deixa de ser tendência. O referencial paternalista do mais velho, espécie de “ícone disciplinar”, perde sua força à medida que o número de idosos aumenta.
Tais fatores vêm ocasionando a derrocada do estereótipo “ancião”, relacionado à figura de um patriarca, e criam novos parâmetros. “Cabe aos estudiosos do envelhecimento o desafio de reformular a mensagem da gerontologia, adaptando-a a essa nova realidade”, avalia o professor.
O NETI e a mobilização nacional
A discussão acerca dos novos rumos da gerontologia é cada vez mais freqüente e disseminada. Além do Estatuto e da Delegacia do Idoso, também foi criada a Conferência Nacional do Idoso, que teve sua primeira edição este ano. Saúde, previdência, educação, cultura e lazer foram os eixos temáticos principais. “Está sendo elaborado um relatório, que deve ser finalizado em dois meses. Houve uma boa manifestação de Santa Catarina”, conta Maria Cecília Godtsfriedt, presidente da Associação Nacional de Gerontologia no estado e professora do Núcleo de Estudos da Terceira Idade (NETI), da UFSC. Maria Cecília, que foi à conferência, também participa do encontro a ser realizado na reunião da SBPC.
Para o NETI, a oportunidade de integrar a discussão gerontológica no maior evento científico da América Latina é de grande importância. O Núcleo é pioneiro na incorporação dos idosos à universidade, através de cursos de capacitação e atividades voltadas para a gerontologia. “Serão apresentados três trabalhos do NETI no encontro. O objetivo é a elaboração de um documento, que será encaminhado para algum ministério, provavelmente o de Direitos Humanos”, revela Maria Cecília.
Por Gustavo Bonfiglioli / Bolsista de Jornalismo na Agecom / UFSC