REUNIÃO ANUAL DA SBPC: pesquisadores convidam a olhar o espaço com outros olhos
Olhar para o céu e enxergar além das estrelas. Este foi o caminho apontado pelos professores Abraham Chian e Carlos Alexandre Wuensche de Souza, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e Antônio Nemer Kanaan Neto, da UFSC, na Mesa-Redonda “Visão Espacial do Século 21”. O encontro, que ocorreu nesta última quinta-feira, apresentou uma troca de idéias sobre astrofísica espacial e de como podemos aprender mais sobre a nossa história e o nosso presente a partir da observação do espaço. O evento integrou a 59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que encerra nesta sexta-feira.
O professor da Divisão de Geofísica Espacial do INPE e pós-doutor em Física de Plasmas e Descargas Elétricas pela Universidade da Califórnia – EUA, Abraham Chian, destacou a importância da utilização do conhecimento espacial para a observação dos fenômenos climáticos e para o desenvolvimento tecnológico, ressaltando a importância da pesquisa espacial congregar várias áreas do conhecimento. Como exemplo desta interdisciplinaridade, Chian citou o estudo do clima espacial, que reúne pesquisadores das áreas de Física Solar, Física de Alta Atmosfera, Matemática, Química, Biologia e vários setores das engenharias. No futuro, a integração entre os estudos da meteorologia e do clima espacial poderá permitir que fenômenos como o Ciclone Extra Tropical Catarina sejam previstos com maior antecedência e possam ter os seus efeitos minimizados.
Antônio Kanaan, professor do Departamento de Física da UFSC e doutor em Física pela Universidade do Texas – EUA, falou da importância do estudo das Anãs Brancas para determinar a idade dos grupos mais antigos de estrelas. As Anãs Brancas são estrelas em estágio final de sua evolução espacial. Nelas, todo o hidrogênio, combustível utilizado para produzir energia, já foi transformado em hélio, e todo o hélio, por sua vez, também já foi consumido. As Anãs Brancas são, portanto, cadáveres estelares que não produzem mais energia, corpos inertes que possuem carbono e oxigênio em sua composição interna. Assim, quando você encontra a Anã Branca mais fria, você encontra a Anã Branca mais velha, que se acredita ter por volta de 12 bilhões de anos. O estudo dos estágios da vida de uma estrela pode nos ajudar a compreender melhor o Sol, que aos cinco bilhões de anos chegou à metade de sua existência. Kanaan ressalta, no entanto, que ainda falta aos pesquisadores conseguir determinar a velocidade de esfriamento destes corpos celestes.
O professor da Divisão de Astrofísica e doutor em Astrofísica pelo INPE, Carlos Alexandre Wuensche, levou à mesa de discussões os seus estudos sobre observação espacial. O professor falou da importância de se olhar para o céu como uma forma de entender melhor a vida na Terra e procurar as respostas para algumas questões fundamentais, tais como a origem do universo e se o tempo possui começo e fim. Wuensche destacou o uso de satélites e balões estratosféricos na observação espacial, visto que a atmosfera é opaca à maior parte da emissão eletromagnética existente, o que compromete as observações feitas diretamente da Terra.
Os balões estratosféricos são estruturas gigantescas, podendo medir até 324 metros (altura da Torre Eiffel), capazes de carregar até duas toneladas e meia de carga e voar a 42 quilômetros de altura. Em relação aos satélites, os balões possuem menores custos e tempo de preparação, porém apresentam uma vida útil muito menor, que pode ser de algumas horas a alguns dias, e só podem ser usados uma única vez. Os balões são lançados da base de Cachoeira Paulista, no interior de São Paulo, e, eventualmente, podem ser lançados de algum aeroporto de médio porte em outro ponto do país, dependendo do tipo de pesquisa que se pretende fazer. Foram lançados, do Brasil, cerca de 50 balões científicos nos últimos cinco anos.
Mais Informações:
Abraham Chian / achian@dge.inpe.br
Carlos Alexandre Wuenshe / alex@das.inpe.br
Antônio Kanaan / kanaan@astro.ufsc.br
Por Daniel Ludwich / Bolsista de Jornalismo na Agecom