REUNIÃO ANUAL DA SBPC: mesa-redonda defende a importância de ler os autores clássicos
Buscar nos antigos uma forma de compreender melhor a contemporaneidade. Este foi um dos temas abordados na mesa-redonda “Por que ler os clássicos? Traduzindo e adaptando autores gregos e latinos”, que reuniu, nesta terça-feira, os professores da UFSC Luís Felipe Bellintani Ribeiro e Arlene Reis, do Departamento de Filosofia, e Zilma Gesser Nunes, do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas. O encontro integrou a 58ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre até esta sexta no campus da universidade.
A professora do Departamento de Filosofia da UFSC e doutora em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Arlene Reis, falou do seu trabalho de tradução dos dois primeiros volumes da Física de Aristóteles. Arlene conta que foi muito questionada sobre o porquê de traduzir obras cujos conceitos estão superados. Para a professora de História da Filosofia, no entanto, isto é como perguntar a um professor de matemática o porquê de ele estudar equações e teoremas.
Arlene afirma que a Física, ainda que não seja um texto belo e tenha várias lacunas que levam a certas ambigüidades e incompreensões, é um dos pilares da História da Ciência Física Contemporânea e, o mais importante, é uma obra que nos apresenta o vínculo entre três afluentes do conhecimento: a busca sobre a natureza, a Ontologia (parte da Filosofia que trata do ser enquanto ser e do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres) e a Metafísica (segundo Aristóteles, é o estudo do ser enquanto ser e especulação em torno dos primeiros princípios e das causas primeiras do ser). Voltar ao texto de Aristóteles é, para a professora, uma forma de pensarmos mais amplamente sobre estes temas e entender os passos da Metafísica no Ocidente.
Zilma Gesser Nunes, professora do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas e doutora em Literatura pela UFSC, falou do seu projeto de adaptação da literatura latina para o público infantil. Por meio de livros ilustrados, histórias em quadrinhos, textos para teatro, músicas e confecção de cenários e maquetes, a professora, que trabalhou em conjunto com o professor de Língua e Literatura Latinas José Ernesto de Vargas e diversos alunos da graduação em Letras, levou o conhecimento clássico para dentro das escolas. Zilma afirma que o projeto, experimentado tanto em escolas públicas quanto particulares, apresentou excelentes resultados, seja para os alunos de graduação, que como adaptadores passaram a se tornar autores, seja para as crianças, que tiveram a oportunidade de aprender mais e entrar em contato com uma cultura que não lhes era familiar. Apesar dos resultados obtidos e de haver grande interesse em sua continuidade, o projeto agora está restrito à confecção de materiais didáticos. A falta de um suporte financeiro tem impedido que o projeto volte às escolas.
O professor do Departamento de Filosofia e pós-doutor em Filosofia pela Universidade de Paris IV – França, Luís Felipe Bellintani Ribeiro, afirma que a importância de ler os clássicos gregos e latinos está relacionada, antes de tudo, ao fato de que o “hoje” é apenas o último momento do caminho histórico aberto por eles. Buscar entender os clássicos, portanto, é aprender mais sobre nós mesmos. O professor ressalta ainda que, mesmo que o “ontem” e o “hoje” pertençam à mesma linha histórica, são momentos diferentes e é preciso justamente que compreendamos o diferente para que duvidemos das obviedades dos nossos padrões estabelecidos e possamos continuar a história. Por fim, Luís Felipe destaca que precisamos estudar os antigos porque, simplesmente, foram eles que nos ensinaram a perguntar: por quê?
Por Daniel Ludwich / Bolsista de Jornalismo na Agecom