REUNIÃO ANUAL DA SBPC: Galeria de Arte terá mostra de Franklin Cascaes

09/07/2006 14:01

Bruxa montada em bode

Bruxa montada em bode

Abre nesta terça-feira, dia 11 de julho, às 19h, na Galeria de Arte da UFSC, a exposição “Olhares – Desenhos e Esculturas de Franklin Joaquim Cascaes”. A mostra apresenta vários aspectos da cultura popular local, como o trabalho, a religiosidade, as brincadeiras tradicionais, as bruxarias etc., que foram artisticamente registrados pelo artista e pesquisador. Durante a mostra, será realizada a programação Outros Olhares, com quatro conversas – conduzidas por artistas, professores e pesquisadores -, sobre a vida e a obra de Franklin Cascaes.

A primeira conversa será dia 12, às 15 horas, com Gelci José Coelho “Peninha”, museólogo, que trabalhou com o Cascaes, e atual diretor do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral, da UFSC. Veja mais abaixo a programação das outras conversas. A exposição poderá ser visitada até dia 4 de agosto, de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h30min. Gratuito e aberto à comunidade.

A Galeria de Arte da UFSC funciona no edifício do Centro de Convivência, no campus universitário. Contato: (48) 3331-9683 e pelo e-mail galeriadearte@dac.ufsc.br.

A grande fuga para o asfalto

A grande fuga para o asfalto

Segundo Aline Carmes Krüger, que divide a curadoria da exposição com Cristina Castellano, a mostra faz parte da programação cultural da 58ª Reunião da SBPC, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (www.sbpc.ufsc.br), que será realizada em Florianópolis, no campus da UFSC, de 16 a 21 de julho. “Esta exposição está sendo viabilizada graças ao apoio do evento nacional, que tornou possível a aquisição de caixas para o transporte seguro das obras de arte do Museu Universitário até a Galeria de Arte da UFSC, mantendo assim a integridade e proteção das peças que se encontram em constante processo de conservação e preservação”, explica a curadora, que acrescenta: “O apoio proporcionou a confecção de suportes para a montagem da exposição, como, por exemplo, molduras de vidro para as obras em papel, expositores em madeira para as esculturas, além da ambientação que está sendo produzida por Jone Cezar de Araújo”.

A exposição, com trabalhos de Franklin Joaquim Cascaes sobre a cultura local, de base açoriana, foi pensada para mostrar ao público esperado para a SBPC, cerca de 10 mil pessoas de todas as regiões do Brasil, um pouco da cultura popular do nosso litoral.

Cristina Castellano é diretora da divisão de Museologia do Museu Universitário, e Aline Carmes Krüger, formada em História pela UFSC, desenvolve, através de projetos, atividades na Reserva Técnica e na Divisão de Museologia do museu da UFSC.

Sobre a exposição

A exposição apresenta esculturas e desenhos. São 47 esculturas em argila crua e gesso, com peças que compõem três coleções, e cinco peças individuais, tendo como temas o Jogo do Bicho, o Sabá Bruxólico, o Lambe-lambe, A Procissão Nosso Senhor Jesus dos Passos, Vendedor Ambulante, Pescador, Fazendo Cigarro de Palha e Brincadeira Infantil, com menino soltando pandorga. Os 16 desenhos, em nanquim sobre papel ou grafite sobre papel, em temática diversifica, abordam temas da religiosidade, política, jogo do bicho, boitatá, festa junina, vendedores, pesca da baleia e bruxas.

A coleção O Sabá Bruxólico, de 1978, apresenta, em 13 peças, a cena de um ritual de bruxaria onde há o caldeirão das bruxas, em que Cobuche trabalha na preparação da poção, e Debrumu, figura com asas, passa unto sem sal no corpo de uma iniciada no sabá. Brudesa, outra figura alada, usa um bode como montaria, e na cena também há um sapo e uma porca bruxólicos. Movosdebo, com asas, é o secretário de Lúcifer, e há um diabo dançador, e o próprio Lúcifer. São tradições que se fazem presentes na idéia de divulgar Florianópolis como a Ilha da Magia.

Outra coleção desta mostra, O Lambe-lambe, de 1957, mostra um conjunto que ilustra o trabalho desse tipo de fotógrafo ambulante. Na coleção está o fotógrafo, o seu auxiliar – encarregado de fazer o fundo fotográfico. Além do freguês do fotógrafo, com o banquinho para se sentar e posar para a foto, a máquina fotográfica e até o balde, que era utilizado para lavar as fotos batidas. São peças que ilustram esse trabalho ambulante que circulava pelas ruas e praças da cidade.

Além de um conjunto montado de esculturas, há peças avulsas que mostram cenas como um homem fazendo cigarro de palha, um vendedor de gaiolas, um pescador torcendo fios de algodão num fuso manual de madeira, um menino em brincadeira infantil soltando pandorga – pipa ou papagaio, como também é conhecida em outros lugares -, e uma mulher com criança no colo, vestida de Senhor dos Passos para a Procissão do Senhor Jesus dos Passos. São alguns aspectos do cotidiano popular local – do trabalho, das brincadeiras e da religiosidade -, que foram pesquisados e artisticamente registrados por Franklin Cascaes.

Com alguns textos explicativos, os desenhos, em medidas que variam em torno de 90 por 60cm, mostram a pesca, a religiosidade, o trabalho ambulante, as brincadeiras tradicionais, cenas da política nacional, manifesto contra o progresso desenfreado, em que o asfalto acabou com a pesca tradicional, e até mesmo um demo surfista. São desenhos que retratam a pesca da baleia, um pombeiro vendedor de galinhas e um vendedor de capim de colchão, a corrida do saco, uma Festa Junina, um congresso bruxólico, e não falta um Boitatá Monsbaiche no paraíso mítico da Procriação Boitatariana. As peças fazem parte do acervo do Museu Universitário da UFSC.

Sobre o artista folclorista Franklin Cascaes

Nascido em 16 de outubro de 1908, em Itaguaçu, Município de Florianópolis, Franklin Joaquim Cascaes manifestou desde cedo interesse pelas histórias e eventos que diziam respeito ao processo de ocupação e colonização do litoral catarinense, mais especificamente da Ilha de Santa Catarina e ao modo de vida local.

Transformou, através de suas habilidosas mãos de artista, esse universo cultural num conjunto de desenhos, manuscritos e esculturas, criando ao longo de sua vida um acervo documental sobre a cultura popular do litoral catarinense.

Iniciou sua obra em 1946, aos 38 anos, e em seu trabalho “fala” muitas vezes de temas familiares ao artista, pois o mesmo também era descendente de açorianos.

Franklin Joaquim Cascaes falece em 1983, porém sua obra é uma referência para qualquer reflexão acerca das comunidades litorâneas catarinenses, não só no que tange a aspectos do passado, como ainda frente às intensas transformações que hoje são notáveis na cidade de Florianópolis. Sua obra é, todavia um clamor pelo respeito ao patrimônio natural e cultural.

O Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral é responsável pela guarda da coleção “Professora Elizabeth Pavan Cascaes”, homenagem póstuma prestada pelo artista à esposa. A incorporação desta Coleção ao patrimônio da Universidade Federal de Santa Catarina, ocorreu em junho de 1981, por doação em vida do artista.

“Para mim amigo artista a arte é um caminho inato colocado na vida de alguns indivíduos pelo Criador do universo, e o verdadeiro artista é solitário, mas de dentro dos caminhos da sua solidão ele arranca os frutos dos acontecimentos regionais do seu tempo e o entrega as massas para que elas conduzam de geração em geração como um dos mais verdadeiros testemunhos da verdade dos vestígios da humanidade através da passagem dos tempos.”

Manuscrito 262, do artista

Outros Olhares – conversas sobre a vida e a obra de Franklin Joaquim Cascaes:

Dia 12/7 às 15 horas – Gelci José Coelho “Peninha”: diretor do Museu Universirtário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral/UFSC.

19/7/2006 às 16 horas: Henrique Luiz Pereira Oliveira: professor de História Geral da Arte/UFSC

24/7/ às 15 horas: Betânia Silveira: ceramista, mestranda em Poéticas Visuais/USP

4/8 às 14 horas: Kellyn Batistela: bacharel em Artes Plásticas/UDESC, mestrado em Teoria Literária/UFSC

A Galeria de Arte da UFSC faz parte do DAC – Departamento Artístico Cultural / Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da UFSC.

SERVIÇO:

O QUÊ: Exposição “Olhares – Desenhos e Esculturas de Franklin Joaquim Cascaes”

QUANDO: Abertura dia 11 de julho, terça-feira, às 19 horas. Visitação: Até 04 de agosto, de segunda a sexta-feira, das 10 às 18h30.

ONDE: Galeria de Arte da UFSC, prédio do Centro de Convivência.

QUANTO: Gratuito, aberto ao público.

CONTATO: (48) 3331-9683 e galeriadearte@dac.ufsc.br – Visite www.dac.ufsc.br e www.museu.ufsc.br

Fonte: [CW] DAC-PRCE-UFSC, com material da curadoria da mostra.