REUNIÃO ANUAL DA SBPC: especialista considera que paradas GLBTS não contribuem para a diminuição do preconceito

18/07/2006 20:26

Sala lotada. Carteiras coladas umas nas outras, sem espaços para passagem. O miniauditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFSC estava assim quando começou o simpósio sobre homossexualidades no Brasil contemporâneo, nesta terça-feira (18/7). O evento, que atraiu um público muito maior do que o esperado, foi ministrado por Miriam Grossi, professora do Departamento de Antropologia da UFSC e presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), e também por Peter Fry, um dos maiores especialistas mundiais no assunto e vice-presidente da ABA.

Peter Fry falou sobre sua trajetória de estudos relativos à questão homossexual. Conta que participou, em 1974, do primeiro grupo de trabalho sobre homossexualidade, organizado pela Associação de Antropologia dos Estados Unidos. O especialista também fez considerações sobre o preconceito. Ele afirmou que a discriminação contra homossexualidade se distingue de outras discriminações porque começa pela própria família. Além disso, diferentemente do racismo, o preconceito contra gays é muito direto.

O vice-presidente da ABA alertou ainda para a ilusão que muitas pessoas têm de que as paradas GLBTS promovem a libertação dos homossexuais. Ele caracteriza tais manifestações como movimentos de massa (a última parada de São Paulo contou com cerca de dois milhões de participantes), mas que não contribuem para a diminuição do preconceito. O especialista compara as paradas da diversidade com o movimento feminista que, de acordo com ele, foi menor, porém, muito mais eficaz.

Miriam Grossi fez comparações da situação dos homossexuais no Brasil e na França. Ela observou que, apesar de não ser muito visível, existem famílias de pais e mães GLT em todos os lugares do Brasil. Segundo a professora, a luta dos homossexuais no Brasil é pelo fim do preconceito, enquanto na França os gays querem conquistar o direito de ter filhos.

Miriam Grossi também falou sobre famílias homossexuais com filhos no Brasil. Uma das opções é a adoção de crianças. As outras mais comuns no país são a reprodução in vitro e a reprodução caseira, como por exemplo, no caso de um casal de lésbicas, utilizar o esperma de um amigo ou de um irmão da parceira. A professora afirma ainda que quando gays e lésbicas brasileiros têm filhos, passam a ser vistos como “alguém de bem”. “Isso limpa a sua homossexualidade, eles deixam de ser discriminados até pela família”, explica Miriam Grossi.

Por Ingrid Cristina dos Santos / bolsista em Jornalismo da Agecom