REUNIÃO ANUAL DA SBPC: burocracia ainda emperra sistemas estaduais de CT&I

21/07/2006 11:27

Na 58ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que termina hoje(21), realizada no Campus da UFS, em Florianópolis, ficou claro que os sistemas estaduais de ciência e tecnologia estão avançando, mas continuam longe de entender às demandas e necessidades da sociedade. Faltam recursos, autonomia e articulação, mas sobram burocracia e lentidão.

O tema “Política de Inovação e os Sistemas Estaduais de Fomento à CT&I”, coordenado pelo vice-reitor da UFSC, Ariovaldo Bolzan, protagonizou caloroso debate no Centro de Cultura e Eventos, reunindo, entre outros, o diretor de Pesquisa Científica da Fapesc, Edgar Augusto Lanzer, o professor Carlos Américo Pacheco, da Unicamp, o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Ciência e Tecnologia (Consecti), Rafael Lucchesi, o presidente do Fórum dos Secretários Municipais de C&T, Florival Rodrigues de Carvalho, o presidente da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (ABIPTI), Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, o presidente do Conselho Nacional das Fundações de Apoio à Pesquisa (Confap), Jorge Bounassar Filho, e Carlos Alberto Aragão de Carvalho, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O evento foi também acompanhado pelo presidente da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnologia do Estado de Santa Catarina (Fapesc), Vladimir Piacentini, que aplaudir a iniciativa da SBPC.

Edgar Lanzer (Fapesc) destacou que o sistema de CT&I federal está bem organizado, funcionando, na maioria das vezes, a contento. Já os Estados, lembrou, estão ainda implantando, expandindo e consolidando os seus sistemas. Portanto, opinou, “é cedo para dizer que os modelos estão fadados ao fracasso”. Os desafios, adverte Lanzer, esbarram na brutal burocracia, na falta de autonomia e na instabilidade de recursos. “Santa Catarina, por exemplo, prevê constitucionalmente 2% de orçamento para a área, o que não significa que esses recursos sejam canalizados para a Fapesc”, arrematou.

O fato é que, conforme confirmou Jorge Bounassar Filho (Confap), os Estados ainda estão muito defasados em relação à estrutura federal (CNPq, Capes, Embrapa etc). Ele entende que a preocupação em aproximar a universidade do setor produtivo deve ser levada à sociedade brasileira. “O nosso debate, dentro de uma visão interdisciplinar, contemplou a questão estratégica, passou pelo prisma político e terminou no gargalo da operacionalização”.

Carlos Pacheco (Unicamp) encampou as políticas científicas mais focadas na consolidação dos sistemas de inovação. Considerou fundamental maiores investimentos em infra-estrutura e pesquisa acadêmica. Para ele, é preciso realizar “pesquisas voltadas ao conjunto do sistema, e não visando apenas pedaços”. Alertou que o Brasil costuma navegar ondas internacionais que aparecem, “sem definir uma estratégia e uma prioridade sobre o que precisa e quer”. Contudo, reconhece os avanços no campo dos marcos regulatórios, citando como exemplo a nova Lei de Inovação. Propõe a criação de um Sistema Nacional de Parques Tecnológicos, o qual poderia vislumbrar alternativas para novos investimentos e negócios no exterior.

Rafael Lucchesi (Consecti) pronunciou-se a favor de uma política de Estado para Ciência, Tecnologia e Inovação, o que, na sua opinião, resultaria em estabilidade e fim das ingerências político-partidárias. Ele informou que o País já possui 22 fundações estaduais de apoio à pesquisa. Esse avanço representa que, segundo Lucchesi, mais de 30% dos investimentos em CT&I são feitos pelos Estados. Lucchesi acha que seria fundamental azeitar a articulação entre Governo Federal, Estados e municípios. “É preciso uma política nacional para consolidar e estabilizar as políticas científicas dos Estados”, salientou.

Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque (ABIPTI) criticou o “eterno recomeçar” a cada mudança de dirigente, seja no Governo ou na reitoria da universidade. “É urgente uma mudança cultural. Os desmontes das políticas não podem continuar”.

Florival Rodrigues de Carvalho, representando os secretários municipais, criticou o distanciamento da academia em relação ao setor produtivo. “A inovação fica restrita à Universidade. É preciso deixar de olhar o próprio umbigo. O resultado das pesquisas na Universidade acaba, infelizmente, não sendo um bem, um serviço”, lamentou. Elogiou, todavia, as medidas do Governo para mudar essa realidade e considerou bem-vinda a decisão de interiorização das universidades federais.

Representando a Finep, o professor Carlos Alberto Aragão de Carvalho apontou o caminho da interdisciplinaridade do conhecimento, a aplicação maciça em formação de recursos humanos e a diversificação dos investimentos em CT&I para mudar a realidade científica e tecnológica do País. Aragão elegeu como prioridade a ampliação das parcerias do Governo Federal com os Estados e municípios. “A desconcentração científica pode mudar o País”, acredita.

A 58ª Reunião Anual é uma promoção da SBPC e realização da UFSC e UDESC, com apoio do Governo Federal e do Governo do Estado de SC, através da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica (Fapesc), ligada à Secretaria de Estado da Educação, Ciência e Tecnologia, entre outros patrocinadores.

Por Moacir Loth / Fapesc