“Futebol é o caminho mais rápido para sair da pobreza”
A professora Maria Aparecida Barbosa, do Departamento de Língua e Literatura Estrangeira (DLLE), está coordenando a tradução de textos de jornais alemães no período da Copa do Mundo.
A tradução periódica de textos publicados em jornais alemães, no entanto, não será apenas mais um exercício comum aos estudantes de língua estrangeira. Trata-se de uma forma de envolver os alunos de Letras – Alemão e a comunidade, ajudando-os a perceber na prática a importância do seu trabalho. Ela salienta que a tradução de textos jornalísticos é uma maneira de observar como se comporta uma língua viva, possibilitando que os alunos observem o nascimento de novas expressões.
Acompanhe mais uma tradução, dessa vez do texto do jornalista Thomas Kilchenstein, do Frankfurter Rundschau (ttp://www.fr-aktuell.de/)
“Futebol é o caminho mais rápido para sair da pobreza”
Há apenas dois anos morreu o pai de Adriano. Repentinamente. Um homem com apenas 45 anos de idade. Adriano estava em Milão quando soube da notícia. Perdeu o enterro por causa de algumas horas. O pai, Almir, foi um grande exemplo para o jovem. Adriano é um jogador de futebol brasileiro, um feroz atacante e com certeza um dos melhores do mundo. Seu nome completo é Adriano Leite Ribeiro, e provém do Rio. Cresceu em uma favela, num miserável alojamento.
No ano de 2003 esta favela tornou-se tristemente célebre, quando um jornalista da TV Globo, a maior rede de televisão brasileira, foi seqüestrado e morto pela máfia de drogas naquela região.
Em 1992 o pai de Adriano caminhava despreocupado, quando começou um tiroteio entre o comércio de drogas e a policia, e ele acabou recebendo um tiro na cabeça. A operação era inviável. Sua morte, tempos depois, foi possivelmente uma conseqüência do ferimento.
Após o incidente, Adriano tirou sua família daquele bairro miserável. Seu pai morreu num apartamento na Barra da Tijuca, um dos melhores lugares do Rio. “Meu pai sempre me disse: na favela existem alguns caminhos, os quais você não deve seguir. Existe o caminho em direção ao poder, drogas e dinheiro rápido, e existe o caminho para o futebol”, conta Adriano.
Existem outras possibilidades num bairro pobre? Negativo. A maioria não consegue. Seu pai mostrou-lhe o caminho certo. Adriano impressionou a todos. Ele treinava na praia do Leblon. Lá, onde os caça-talentos do Flamengo, um dos clubes mais conhecidos do Rio ficam a espreita. E o rapaz de fato tinha talento suficiente para brilhar como jogador de futebol.
Na sua estréia no time, logo no primeiro jogo, fez um gol. Com 19 anos, mostrou à Europa sua bagagem na 17ª. Copa do Mundo. Adriano jogou no Inter de Milão, no Florenz, novamente no Flamengo e Parma. Quando o AC Parma quebrou por causa da falência de seu patrocinador Parmalat, o Inter o chamou de volta, e hoje em dia eles têm um contrato até 2008. Em Milão ele é comparado ao “fenômeno” Ronaldo e faz parte do quadrado mágico brasileiro, juntamente com Ronaldinho, Ronaldo e Kaká. Acima disso ele não poderia estar.
O grande sonho
Esse é o maior, talvez o único sonho de milhões de jovens brasileiros que dia após dia jogam até tarde da noite na praia, na rua ou em campos de futebol: desejam tornar-se uma célebre estrela, jogando com douradas chuteiras sobre um bom gramado e numa seleção européia. Todos os dias vêem na televisão que seus sonhos, ao que tudo indica, podem ser realizados facilmente. “O futebol”, diz Gilberto, que joga pela Hertha BSC de Berlim, “é o caminho mais rápido para sair da pobreza.”
Os negócios de exportação com o velho mundo no ramo do futebol explode atualmente, e vale a pena: estatísticas do Banco Central Brasileiro mostram que, entre 1994 e 2005, jogadores brasileiros tiveram um total de 840 milhões de euros como rendimentos pagos por clubes estrangeiros. Hoje jogam em todo o mundo aproximadamente 5000 brasileiros, fora do país do futebol – como nas ilhas de Feroé (Dinamarca) e na Rússia.
No ano passado 804 jogadores foram comprados por aproximadamente 132 milhões de euros no exterior, um acréscimo de 55% em comparação ao ano anterior. Sozinho, Robinho que joga no FC Santos, foi transferido para o Real Madri por 21 milhões de euros, uma quantia muito elevada para qualquer outro jogador.
Robinho também provém de um meio pobre. Seu pai, Gilvan Souza, trabalhava como encanador numa empresa de limpeza de esgotos, mas pelo menos tinha um trabalho. Aos quatro anos de idade, em São Vicente, uma cidade que fica nas proximidades de Santos, o menino deu os primeiros chutes.
Jogo de rua, descalço, com limões, pedras, bola de trapo. Talvez por isso tenha desenvolvido tanta habilidade. Certa vez, ele disse: “Quando a bola vem da calçada é preciso reagir rápido.” Ainda hoje, conta ele, se recorda daquele tempo. Agora, nessa fase em Madri, com cercas em torno de seu prédio e seguranças particulares, Robinho às vezes pensa que seus 21 anos foram em vão.
Pois, poucas vezes sua mãe está com ele. E também por causa da insegurança. Marina de Souza foi seqüestrada há dois anos, quando saía de um churrasco. Depois de 40 dias de muitas negociações a respeito do resgate, ela finalmente foi libertada. Correm boatos de que o seqüestrador seria conhecido de Robinho, e que como ele cresceu na favela.
(A matéria prossegue, falando sobre o engajamento social dos jogadores brasileiros. Aguarde a publicação da tradução!)
Thomas Kilchenstein – Frankfurter Rundschau
Colaboração da estudante de Letras – Alemão, Alexis Mariel Vidal Cabezas