Uma “Maratona Científica” na UFSC

29/06/2006 10:45

A Reunião Anual da SBPC, que acontece na UFSC, de 16 a 21 de julho, está com sua programação praticamente fechada. Para Florianópolis o maior evento científico do Hemisfério Sul prevê a realização de 50 conferências, 60 simpósios, 30 mesas-redondas, 50 minicursos e outra dezena de eventos paralelos.

Alguns temas e palestrantes ainda estão em definição, mas estão contemplados nessa “Maratona Científica” debates sobre temas como a política educacional no Brasil; impactos sociais e tecnológicos da implantação da tv digital; gripe aviária; importância da inserção internacional da ciência brasileira; uso de plantas e conservação; nanociência e nanotecnologia. Serão também discutidos criminalidade e violência; déficit de atenção e hiperatividade; direitos humanos; atividade solar, efeitos no clima e em sistemas tecnológicos; aqüífero guarani; o fenômeno transnacional do futebol; doenças emergentes no novo milênio; agronegócio e agricultura familiar; direitos sexuais e reprodutivos –a questão do aborto.

Visão espacial do século 21; ciência e religião; utilização de robôs em projetos tecnológicos; desenvolvimento sustentável e a construção habitacional e aplicação de novos materiais são outros assuntos que fazem parte da programação.

As reuniões anuais da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência acontecem a cada ano em um estado diferente, permitindo a promoção da ciência em todo o país e a interação entre os pesquisadores. Permitem também a socialização de conhecimentos sobre o desenvolvimento científico e tecnológico nacional para o cidadão comum, já que diversas atividades são abertas.

Com o objetivo de reunir pesquisadores, alunos de graduação e de pós-graduação, professores do ensino superior, médio e fundamental, a reunião é organizada em grandes atividades já consolidadas em sua programação. Entre elas, a SBPC Sênior (composta de conferências, simpósios, mesas-redondas, minicursos, assembléias, encontros e comunicações orais), a SBPC Jovem (versão infanto-juvenil da reunião anual, direcionada a estudantes do ensino fundamental, médio e técnico), a Jornada de Iniciação Científica (em que são apresentados trabalhos de diversas Instituições Brasileiras de Ensino Superior.) e exposições de ciência, como a mostra interativa da tenda circo da ciência.

Inovação

Com o tema SBPC&T: Semeando a Interdisciplinaridade, o encontro em Florianópolis traz como inovação a inclusão da tecnologia em grande parte de sua programação. A importância da UFSC nesta área é um fator que estimula esta aproximação. Departamentos como os de Engenharia Mecânica, Engenharia Elétrica, Engenharia Civil e Engenharia Sanitária são desenvolvidas pesquisas de importância nacional e também internacional.

Nos eventos “TEC” serão discutidos temas de impacto na indústria nacional como a implantação da TV digital aberta no país; novas tecnologias na produção de petróleo; robótica; nanoeletrônica; aços especiais; engenharia biomédica; desafios e perspectivas da computação; políticas para aproveitamento e geração de energia no Brasil; plásticos biodegradáveis; nanoeletrônica e desenvolvimento sustentável e construção habitacional. Além disso, a Expociência, que costuma ser realizada ao mesmo tempo que a reunião anual, ganha novo formato e passa a se chamar ExpoT&C. Pela primeira vez, haverá um ciclo de debates sobre inovação tecnológica, envolvendo os expositores das instituições que apóiam a pesquisa e as empresas. Haverá também um recorde de expositores – mais de 50, entre instituições de fomento, universidades e empresas.

“Consideramos que foi dado o primeiro passo para a participação das empresas na reunião anual”, afirma Ennio Candotti, presidente da SBPC. “O que almejamos é acelerar o processo de aproximação entre ciência, tecnologia e produção visando o crescimento sustentável.”

Conferências

Entre as mais de 50 conferências previstas, serão discutidos temas como a importância da inserção internacional da ciência brasileira; a relação urbano – rural no processo de desenvolvimento; múltiplas identidades e fragmentação na sociedade contemporânea; o tsunami de Sumatra e a probabilidade de ocorrer tsunamis no oceano atlântico; gripe aviária; extrativismo e geração de renda da região da mata atlântica.

Entre os convidados para estas conferências estão nomes importantes, como Aziz Ab´Saber, um dos geógrafos mais respeitados do país, reconhecido internacionalmente e autor de estudos e teorias importantes para o conhecimento de aspectos naturais do Brasil. Marilena Chauí, autora de inúmeros livros e reconhecida não apenas por sua produção acadêmica, mas por participação efetiva na política brasileira. O biomédico e virulogista Edison Luiz Durigon, professor do Instituto de Ciências Biológicas da USP, coordenador da Rede de Diversidade Genética de Vírus da Fapesp, cujo principal objetivo é exatamente mapear tipos de vírus pouco conhecidos – os chamados emergentes – e avaliar o risco que oferecem à saúde humana, é outro nome importante.

O geofísico Jesus Berrocal, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, um dos poucos cientistas interessados em tsunamis no Brasil, que atualmente prepara para as usinas de Angra dos Reis um estudo sobre o risco de tsunamis na costa leste do Brasil, também está poderá ser ouvido durante a reunião. Outro palestrante de renome é Martyn Daly, professor do Departamento de Psicologia da McMaster University em Ontário, Canadá, um dos criadores da psicologia evolucionista, autor do livro A verdade sobre Cinderela.

Mais informações sobre a realização da Reunião da SBPC na UFSC:

Com o professor Mário Steindel, secretário Regional da SBPC: fone 331 5163 ou e-mail: ccb1mst@ccb.ufsc.br

Com a professora Eunice Sueli Nodari, pró-reitoria de cultura e extensão, fone 3331 8304

Com a professora Thereza Christina Monteiro de Lima Nogueira, pró-reitora de pesquisa, fone 3331 9284

Saiba Mais:

O que é a SBPC:

A Sociedade Brasileira Para o Projeto da Ciência (SBPC) foi fundada em 1948. Através das Secretarias Regionais, está presente em todos os estados brasileiros. Seu principal objetivo é congregar pesquisadores, incentivando o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil. Um dos desafios da SBPC é articular a comunidade científica para superar a exclusão dos pesquisadores dos mecanismos governamentais responsáveis pela definição de políticas e estratégias de desenvolvimento científico e tecnológico.

“Não se pode conhecer e compreender a história das relações entre a comunidade científica, a sociedade e o Estado brasileiro sem trilhar a própria história da SBPC”, destaca Ana Maria Fernandes no livro “A construção da ciência no Brasil e a SBPC”. Na década de 50, por exemplo, a SBPC cobrou do governo a definição de uma política científica para o país e a criação de um ministério específico para ciência e tecnologia, além de uma revalorização do CNPq. A década de 70 foi marcada pelo crescimento da SBPC, que em pelo regime militar fazia críticas ásperas contra o modelo econômico brasileiro, responsabilizado pela concentração de renda, crescente analfabetismo e mortalidade infantil. Neste período, uma série de acontecimentos consolidou a SBPC como um dos mais importantes fóruns de debate e de defesa das liberdades civis durante o regime militar.

Na década de 90 também há registros históricos de atuação da Sociedade. Na Reunião Anual de 1992, inicialmente o presidente Ennio Candotti, depois o próprio Conselho da SBPC, pediram a renúncia do presidente da República, Fernando Collor de Mello. Foi a primeira instituição a se manifestar nesse sentido.

A volta ao regime democrático não tirou a importância político-científica da SBPC. A instituição tem estado presente na luta pelas reformas do ensino, por uma política de ciência e tecnologia, pela constituição de um efetivo sistema de financiamento à pesquisa e em questões como o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), a Lei de Patentes, a Reforma do Estado, a questão dos transgênicos e de biossegurança.

Por Arley Reis / Agecom / UFSC