Professora da UFSC fala sobre a polêmica de O Código da Vinci nesta sexta

Madalena 14 - Vera Sabino
Na UFSC, a professora Salma Ferraz, do Programa de Pós-Graduação em Literatura, se dedica à Teopoética – estudos comparados entre Teologia e Literatura – e compareceu recentemente ao Programa do Jô, para falar a respeito da polêmica do livro de Dan Brown. A entrevista será exibida nesta sexta-feira (9/6) no auditório do CCE, às 10h, e em seguida, haverá um debate sobre o tema que inspirou o livro e o filme O Código da Vinci.
Com a explosão dos estudos referentes a temas bíblicos, há cerca de 30 anos, muitos escritores passaram a trazer personagens da crença cristã para sua ficção. A professora Salma cita como exemplos os escritores brasileiros Júlio de Queirós, autor de Amor ao Amor, e Moacyr Scliar, que é de Santa Catarina. No exterior, ela aponta os norte –americanos Gore Vidal e Jim Grace, o autor português José Saramago, com a obra O Evangelho Segundo Jesus Cristo, e a escritora belga Marguerite Yourcenar, que escreveu o conto Maria Madalena. Por se tratar de um best-seller, o romance policial de Dan Brown ganhou maior visibilidade do que os outros livros que versavam sobre a mesma temática.
Figura presente nessas obras, Maria Madalena foi tema de uma disciplina ministrada pela professora, em que foram abordados os Evangelhos bíblicos, canônicos, apócritos e as lendas da Idade Média. O Código da Vinci sugere que a personagem bíblica tenha sido casada com Jesus Cristo, tese considerada absurda pela professora Salma. Ela defende, ao contrário do livro, que se Jesus fosse casado, a história do Cristianismo não seria abalada. “O casamento era a coisa mais sacrossanta na época, tanto para judeus como para cristãos era uma benção ser casado. Portanto, se, hipoteticamente, Jesus tivesse tido uma esposa, os evangelistas naturalmente contariam”, explica Salma.
Outro aspecto apontado pela professora é o de que Jesus revolucionou a história das mulheres. “Nunca um homem esteve tão cercado de mulheres como ele. Seu carisma era tão grande que elas se sentiam inebriadas por sua fala, sua pregação”. Salma concorda com o poeta Paulo Leminski que disse que Jesus era um cortejador, alguém que sabia tratar bem e dignamente uma mulher. “Com tantas mulheres em sua vida, seria natural se ele fosse casado e isto, se fosse verdade, não teria sido omitido”, conclui a professora. Para ela, tudo isso não passa de lenda, de um belo conto de fadas.
Quem foi Maria Madalena
A professora Salma quer resgatar a imagem verdadeira de Maria Madalena. Ela explica a confusão que ocorreu em 580, quando o Papa Gregório I fez um sermão no qual fundiu três personalidades femininas em uma só. Com a atribuição de características de outras mulheres à Maria Madalena, ela ficou conhecida injustamente como a prostituta arrependida. Somente em 1967 a Igreja admitiu o erro que cometera.
Na Bíblia, Madalena figura como uma mulher de situação financeira privilegiada e que servia a Jesus com seus bens. Portanto, de acordo com a professora, dizer que Madalena foi meretriz significa afirmar que a pregação de Jesus e de seus apóstolos foi financiada com dinheiro da prostituição. Salma considera absurdo confundir a apóstola de Jesus com uma mulher da vida e o seu dinheiro, desta forma impura, sustentar uma causa tão nobre.
“O que nós, estudiosos da Teologia, queremos é resgatar o papel de Maria Madalena como apóstola e mulher fundadora da mensagem da ressurreição, tema maior dentro do Cristianismo”, explica a professora. “Ela esteve presente na Cruz, quando os discípulos tinham sumido amedrontados. Também compareceu à ressurreição, com um vaso na mão, para ungir os pés de Jesus depois de morto”.
Imagem das mulheres
Duas das figuras bíblicas femininas mais criticadas negativamente pela Igreja Católica são Eva e Maria Madalena. A primeira, de acordo com Salma, é retratada como a mulher que arrasta Adão para o pecado. Já Madalena, apesar de sua personalidade forte e de liderança entre os discípulos, é vista como uma tentação na vida de Cristo no novo testamento, além de ter sido possuída por sete demônios. Para a professora, há grandes mulheres presentes na Bíblia, como Sara, Raquel, Rebeca e Ruth, mas a Igreja, com seu caráter patriarcal, preferiu dar ênfase para os papéis negativos. “A Bíblia não é machista em si. Muito pelo contrário, as mulheres faziam cada encrenca, cada coisa de deixar os homens atordoados, como os exemplos de Sara e Hagar. Os homens faziam o que elas queriam no Velho Testamento”, explica Salma.
A professora acredita que se não houvesse essa ênfase negativa no papel feminino, a ordenação de mulheres, tanto na Igreja Católica quanto na Protestante, seria possível. Além da religião, a sociedade ocidental também teria sido diferente para Salma, não fosse a influência da Igreja. “Não haveria a necessidade do movimento feminista, a história das mulheres seria outra”. De acordo com ela, o Cristianismo moldou o ocidente, está inserido no DNA da civilização ocidental, portanto a cultura está enraizada no Cristianismo.
Para mais informações: professora Salma Ferraz – 3234 86 70 ou salmaferraz@brturbo.com.br
Por Ingrid Cristina dos Santos/bolsista de jornalismo da Agecom