Professor da UFSC conta a história da Antropologia no sul do Brasil

28/06/2006 14:16

A história e o desenvolvimento do estudo da Antropologia no Brasil meridional é o mote do livro Memória da Antropologia no Sul do Brasil, organizado pelo professor da UFSC Sílvio Coelho dos Santos. Iniciado com a criação das Faculdades de Filosofia, o estudo antropológico nos estados do sul está ligado às figuras de dois médicos e um padre. José Loureiro Fernandes, Oswaldo Rodrigues Cabral e o padre Balduíno Rambo foram os primeiros catedráticos nas Universidades do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, respectivamente. Cada um deles, à sua maneira, contribuiu para o surgimento, nas décadas seguintes, dos departamentos e programas de pós-graduação existentes hoje.

Dividido em três partes independentes entre si, o trabalho conta com a colaboração de outros dois professores: Cecília Maria Vieira Helm, responsável por relatar o desenvolvimento da Antropologia no Paraná e Sérgio Alves Teixeira, que tratou sobre a trajetória da Antropologia no Rio Grande do Sul. Coube ao professor Sílvio Coelho contar os caminhos da Antropologia em Santa Catarina. Segundo o professor Sílvio Coelho, a opção editorial por um livro dividido em três partes autônomas foi feita para que cada um dos autores pudesse constituir os seus textos com o máximo de independência.

Responsável pela pesquisa no Paraná, a professora da UFPR Cecília Maria Vieira Helm, que desenvolve pesquisas sobre “Hidrelétricas e Povos Indígenas no Paraná”, conta a história da Antropologia paranaense a partir de seu personagem fundador, o professor José Loureiro Fernandes. Catedrático de Antropologia, Fernandes ministrou aulas e elaborou pesquisas nas diversas áreas do conhecimento antropológico, introduzido na Universidade do Paraná na década de 1950, nos cursos de História/Geografia e Ciências Sociais.

O professor Sérgio Alves Teixeira trata da trajetória da Antropologia gaúcha desde os seus precursores, com destaque especial para os trinta anos em que o autor teve uma intensa vivência com o tema: de 1962 até 1992, ocasião de sua aposentadoria. Sérgio foi um dos criadores do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFRGS e autor contemplado com o Prêmio Sílvio Romero 1987 pelo trabalho “Os recados das festas: representações e poder no Brasil”.

O organizador, professor Sílvio Coelho, já foi presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), secretário regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), é membro da Academia Catarinense de Letras e coordena o Núcleo de Estudos dos Povos Indígenas (NEPI/UFSC). Foi ele o responsável pela introdução e pela parte do livro referente à história da Antropologia em Santa Catarina.

O início do ensino da Antropologia em Santa Catarina está ligado à instalação da Faculdade Catarinense de Filosofia, em 1955, quando começou a ser praticado de forma regular. Com a criação da Universidade de Santa Catarina em 1960, a Faculdade Catarinense de Filosofia foi incorporada à nova instituição universitária e passou a se denominar Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.

Escolhido para ser o diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Oswaldo Rodrigues Cabral, que havia participado da fundação da Faculdade Catarinense de Filosofia e na qual respondia pela Cadeira de Antropologia, realizou enorme esforço para criar o Instituto de Antropologia, inaugurado em 1968. Desiludido ao ver o Instituto se transformar em museu, Cabral afastou-se da Universidade e, em 1973, foi aposentado compulsoriamente ao completar 70 anos. Em 2003, por ocasião do centenário de seu nascimento, Cabral recebeu inúmeras homenagens, como a que aconteceu na UFSC durante a realização da V Reunião dos Antropólogos do Mercosul (RAM), onde alguns de seus ex-alunos o homenagearam como pai fundador da Antropologia em Santa Catarina.

O resultado deste pouco mais de meio século do desenvolvimento da Antropologia em Santa Catarina pode ser observado na UFSC. Até dezembro de 2005, no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) foram defendidas 165 dissertações de mestrado e 14 de doutorado, incluídas as dissertações apresentadas sob a égide do Programa de Ciências Sociais. O PPGAS é membro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs) e mantém intercâmbio com diversas universidades do País e do exterior.

Desde 1999, o Programa publica a Revista Ilha e mantém o periódico Antropologia em Primeira Mão, além de ter participação contínua em outras publicações. O PPGAS também estruturou um Laboratório de Antropologia Social, dez Núcleos de Pesquisa e dois laboratórios de apoio para dar condições de desenvolvimento aos projetos de pesquisa dos professores e às dissertações e teses de seus estudantes. Um número expressivo de bolsas oferece oportunidade de participação e de iniciação para alunos de graduação e a presença dos professores em congressos nacionais e internacionais é constante. Cabe destacar que, desde o início da instalação da Universidade, a área de Antropologia teve um desenvolvimento comprometido com a defesa dos interesses dos grupos humanos que estuda, estando sempre atenta aos problemas de minorias étnicas e de outros grupos que sofrem algum tipo de exclusão social.

O projeto do livro foi estruturado durante as comemorações dos cinqüenta anos da criação da ABA e contou com um auxílio de pesquisa concedido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para a execução da proposta. O CNPq também garantiu bolsas de pesquisa aos professores Sílvio Coelho e Cecília Helm. A ABA assegurou parte dos recursos financeiros necessários à edição, permitindo a parceria com a Editora da UFSC.

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Por Daniel Ludwich/bolsista de Jornalismo da Agecom