Um excepcional semeador de idéias
UM EXCEPCIONAL SEMEADOR DE IDÉIAS
Sílvio Coelho dos Santos (*).
No último dia 13 de fevereiro, a Ministra da Cultura de Portugal inaugurou com uma conferência o programa comemorativo aos 100 anos de nascimento do Professor George Agostinho da Silva. Simpósios, mesas-redondas, apresentações de filmes, exposições fotográficas e lançamentos de livros, tanto em Portugal, como no Brasil, fazem parte dessa extensa programação (ver www.agostinhodasilva.pt).
O Mestre Agostinho da Silva, nascido no Porto, correu o mundo procurando aproximar as antigas colônias portuguesas com Portugal e o Brasil, através da criação de centros de estudos e de intercâmbio cultural. Exonerado pela ditadura de Salazar nos primeiros anos de sua vida profissional, o mestre circulou por alguns países europeus, pela África e pela Ásia, acabando por chegar ao Brasil nos finais dos anos quarenta. Atuou em diferentes instituições e em particular em universidades. Na Bahia, onde viveu algum tempo, criou um Centro de Estudos Afro-asiáticos. Aqui em Florianópolis, na antiga Faculdade Catarinense de Filosofia, fundou um Núcleo de Estudos Africanos.
Como professor suas aulas atraiam o interesse de estudantes e professores. Conhecedor do mundo informava com desenvoltura sobre diferentes culturas, sociedades e países. Educador tinha especial atenção para com cada um de seus discípulos, estimulando-os e abrindo-lhes sempre novas perspectivas.
Em Santa Catarina, durante o governo Jorge Lacerda sugeriu a criação do Departamento de Cultura, que conseguiu instalar junto com o Professor Walter Piaza. Criada a Universidade Federal de Santa Catarina, Agostinho da Silva transformou-se numa fonte de consultas para o grupo liderado pelo Professor Ferreira Lima, responsável pela instalação da nova instituição e seu primeiro Reitor. Logo em seguida, em 1962, foi atraído por Darcy Ribeiro, então Ministro da Educação, para colaborar na implantação da Universidade de Brasília.
Deixou Florianópolis, entretanto, sem se desligar da UFSC e de seus amigos.
Em Brasília, foi um dos baluartes da UNB, até ocorrer à intervenção dos militares, nos idos de 1968. O mestre Agostinho, então, voltou a circular pelas grandes universidades européias. Com a queda de Salazar, regressou a Portugal. Aí se radicou, refazendo velhas amizades e articulando política e diplomaticamente diversos projetos envolvendo tanto os países de língua portuguesa, como seus inumeráveis ex-alunos, amigos e admiradores. A aproximação da UFSC com a Comunidade Autônoma de Açores, por exemplo, que se iniciou na gestão do Reitor Ernani Bayer, teve como grande incentivador o Professor Agostinho.
O mestre circulava com desenvoltura entre embaixadores, reitores e governantes. Tinha trânsito fácil entre intelectuais, poetas e cientistas. Era amigo de Mário Soares, seu ex-aluno, como de tantos outros. Sua extensa obra, bastante dispersa, felizmente está sendo reeditada e não poucos têm sido os esforços no Brasil em Portugal para recuperar sua fértil trajetória intelectual.
O Professor George Agostinho da Silva foi um excepcional disseminador de idéias, de ensinamentos, de instituições e de vivências democráticas. Foi também educador, filósofo, poeta e escritor. Em bom momento a UFSC e a Academia Catarinense de Letras articulam uma programação para reverenciar sua vida e sua obra.
(*) Professor Emérito da UFSC e Pesquisador do CNPq.