Reciclando embalagens para redução do custo de construções
Depois de propor a utilização de garrafas plásticas na construção de casas populares, em um projeto chamado Casa PET, o Laboratório de Sistemas Construtivos da Universidade Federal de Santa Catarina (Labsisco/UFSC) inova mais uma vez, ampliando a gama de alternativas sustentáveis para a produção de habitações. Neste ano, a mesma idéia foi aplicada a outro material reciclável: embalagens de leite “longa vida” transformam-se em mantas de isolamento térmico e também preenchem painéis modulares, utilizados na produção de casas pré-fabricadas. Descobrir formas de reduzir o custo da obra, sem deixar de lado a qualidade da edificação é um dos principais objetivos dos pesquisadores do Labsisco.
O projeto que reutiliza embalagens longa vida vai resultar na dissertação de mestrado da aluna do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (Posarq) Karin Jahnke. “Eu queria trabalhar com produtos recicláveis, pois sempre me voltei à questão do reuso na construção civil”, afirma a pesquisadora, que é orientada pelo professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (ARQ/UFSC) João Carlos de Souza. Inspirada pelo projeto Casa PET, Karin procurava outro material reciclável, que fosse abundante e apresentasse durabilidade. Foi então que surgiu a idéia de utilizar caixinhas de leite. “Anualmente, são fabricadas seis bilhões de unidades desse tipo de embalagem, o que permitiria produzir cerca de 375 milhões de metros quadrados de isolante térmico para habitações populares”, explica. Além de melhorar a qualidade das edificações, o projeto também tem como proposta diminuir o acúmulo de lixo em aterros sanitários, dando outro fim às embalagens descartadas pelos consumidores de leite longa vida. Novo destino ao lixo – No início, a pesquisa foi dedicada ao desenvolvimento de mantas isolantes formadas somente por embalagens. Lavadas, abertas e ligadas por uma costura, as caixinhas compõe um isolante térmico mais eficiente que algumas das mantas existentes no mercado. “Nossos testes mostraram que a manta feita com embalagens pode apresentar até 82% de eficiência térmica, índice alto quando comparado com as comercializadas atualmente”, ressalta Karin.
As mantas são colocadas entre as telhas e o forro da casa, com o propósito de reduzir o calor interno, causado pela irradiação de luz. “A maior parte do calor de uma habitação vem da cobertura”, explica a pesquisadora. Com a manta formada por embalagens, 82% da luz que incide sobre a edificação pode ser refletida, não permitindo que o calor fique retido. Para que esse valor seja atingido, a única modificação feita no material é a retirada do polietileno – o filme plástico colado ao alumínio das caixinhas. “Mesmo com o polietileno, a eficiência apresentada ainda é 25% maior que a dos isolantes convencionais”.
Os testes para verificação da eficácia das mantas foram realizados no Laboratório de Meios Porosos e Propriedades Termofísicas (LMPT), do Departamento de Engenharia Mecânica da UFSC. Comprovada a qualidade da manta formada por embalagens longa vida, a pesquisa voltou-se para a utilização das caixinhas na composição de painéis de vedação, projetados para construção de casas pré-fabricadas. Dentro de um molde de madeira, o painel é construído da seguinte forma: primeiro se preenche o fundo com uma camada de concreto, de dois centímetros de espessura. Em seguida, são colocadas as embalagens longa vida, lavadas, unidas umas às outras em seu formato original. Tudo isso é envolto por uma armadura de ferro, que garante resistência. Para completar, o painel é preenchido com mais concreto. O resultado são paredes que apresentam melhor desempenho térmico, maior rigidez e menor peso.
Segundo o coordenador do Labsisco, professor Fernando Barth, o uso de sistemas pré-fabricados como o proposto por Karin poderia agilizar a construção de casas populares. “Esses sistemas têm potencial para organizar a produção das habitações, criando verdadeiras linhas de montagem no canteiro de obras”. Ele ressalta que, ao contrário da construção convencional, tradicionalmente lenta, uma casa produzida com painéis modulares pode ser montada em três ou quatro dias. Além de provarem que os sistemas construtivos alternativos satisfazem às exigências normativas, os pesquisadores do Labsisco já comprovaram a viabilidade econômica de seus projetos. “Temos certeza de que esses sistemas têm condições de competir com os meios convencionais de construção. Agora, gostaríamos de construir os protótipos para verificar a satisfação das expectativas do usuário da habitação”, afirma Barth.
Fonte: CTC/ Por Débora Horn
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