Laboratório pesquisa toxidade das algas

26/10/2005 14:52

Coleta de amostras. Fotos: Labtox

Coleta de amostras. Fotos: Labtox

Todos os meses, pesquisadores do Laboratório de Toxicologia Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina (Labtox /UFSC) embarcam em um navio cedido pelo Ibama para coletar amostras de água do litoral catarinense, indo de São Francisco do Sul a Laguna. Eles procuram detectar a presença de algas marinhas que produzem substâncias tóxicas e podem contaminar, principalmente, ostras e mexilhões. Como Santa Catarina é líder nacional na produção de moluscos cultivados, a preocupação com a existência dessas algas é redobrada, pois as substâncias por elas produzidas oferecem riscos à saúde humana.

De acordo com o coordenador do Labtox, o professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (ENS) William Gerson Matias, as chamadas florações de microalgas tóxicas são comuns em regiões costeiras de todo o mundo. “Em lugares onde a produção e o consumo de moluscos são significativos, como a Europa, o monitoramento das águas é realizado com muito rigor” afirma. Segundo ele, a proliferação dessas algas ainda é um fenômeno inexplicável, mas fatores como a eutrofização das águas – acúmulo de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo, no mar – e a introdução de espécies exóticas trazidas nos lastros de navios são apontados como responsáveis pelo aumento das florações.

Equipe em campo

Equipe em campo

A proliferação de algas tóxicas pode mudar a coloração da água do mar, fenômeno conhecido como “maré vermelha”. Em 1998, foi registrada uma grande floração na Baia de Sepetiba, litoral Sul do Rio de Janeiro. A mancha de substância tóxicas, que atingiu cerca de 10 quilômetros de extensão, causou queimaduras em banhistas, além da matar peixes e siris. De acordo com o professor Matias, fenômenos dessa magnitude ainda não foram observados em Santa Catarina. “Não identificamos florações. Mas já foram encontradas algas tóxicas em quantidades significativas em algumas regiões do nosso litoral, o que pode causar a contaminação dos moluscos ali cultivados”, afirma.

Riscos – A preocupação com a toxidade das substâncias produzidas pelas florações se explica quando considerados os riscos que representam para outras espécies aquáticas e também à saúde humana.

Entre as doenças que podem ser adquiridas por consumidores de ostras e mariscos contaminados está, por exemplo, a Síndrome Diarréica do Molusco, que pode causar forte diarréia por vários dias, levando à desidratação. Essa síndrome é causada pelo ácido ocadáico, principal toxina produzida por algumas algas e que fica acumulada no organismo de mariscos, podendo contaminar consumidores. Conforme Matias, várias pesquisas revelaram que essa substância também é uma promotora de tumores. “Estudos desenvolvidos no Labtox comprovaram que toxinas como o ácido ocadáico causam distúrbios em moluscos, inclusive em seu material genético”, explica.

Além dos problemas de saúde, as florações de algas tóxicas trazem dificuldades econômicas às regiões produtoras. “Em alguns lugares do mundo, o cultivo tem que ser interrompido até que não se corra mais nenhum risco de intoxicação”, explica o professor. Ele ressalta que, apesar de todas as conseqüências negativas que o fenômeno causa, ainda não há um plano de monitoramento de algas tóxicas em Santa Catarina. “O que fazemos, mensalmente, é um diagnóstico, que gera relatórios sobre as condições das amostras analisadas. Mas é necessário, e urgente, um sistema mais completo de acompanhamento”.

Reconhecimento

O Labtox foi criado em 1997, depois que o professor Matias concluiu o doutorado na França, onde se dedicou ao estudo das substâncias tóxicas produzidas por microalgas marinhas. As pesquisas de Matias revelaram vários distúrbios que as toxinas causam no organismo humano, de forma que quase uma dezena de artigos sobre o assunto foram publicados em revistas científicas até a conclusão de sua tese.

Neste ano, o reconhecimento pelo trabalho do professor da UFSC foi ainda maior. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) publicou um livro de informações científicas sobre biotoxinas marinhas, no qual foram citados todos os resultados da tese de doutorado de Matias. “Isso mostra a relevância do tema, que infelizmente vem sendo ignorado por nossas autoridades”, afirma o professor.

Fonte: Núcleo de Comunicação do CTC/ Por Débora Horn

Converse com o professor William Matias por telefone (48 331-7742) ou por e-mail (will@ens.ufsc.br)

Saiba mais sobre o Labtox em

www.ens.ufsc.br/labs/toxicologia.ambiental

Conheça também o Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental em www.ens.ufsc.br