Grupo da UFSC conquista Troféu Expressão de Excelência Tecnológica

19/09/2005 14:20

Lavadora de Lanternas

Lavadora de Lanternas

Melhorar as condições de trabalho dos maricultores e aumentar a rentabilidade dessa atividade em Santa Catarina, desenvolvendo equipamentos que atendam às necessidades dos produtores locais. Graças a esse objetivo, um projeto do Grupo de Engenharia do Produto e Processo da Universidade Federal de Santa Catarina (GEPP/UFSC) acaba de conquistar o Troféu Expressão de Excelência Tecnológica, na categoria Inovação Social. “Acredito que seja o reconhecimento pela realização de um trabalho diferenciado, que busca adequar a tecnologia à realidade de cada comunidade”, afirma o professor do departamento de Engenharia Mecânica (EMC/UFSC) Fernando Forcellini, que coordenou o projeto.

Concedido pela Editora Expressão, o troféu premia participantes do Prêmio Finep de Inovação Tecnológica. Neste ano, o case “Desenvolvimento de produtos para a mecanização da maricultura no Estado de Santa Catarina”, enviado por Forcellini, foi um dos 14 classificados da Região Sul para receber o Troféu Expressão. Para o professor, a conquista pode ser atribuída à metodologia adotada para desenvolver os equipamentos. “Envolvia a observação tanto das práticas de manejo, quanto dos costumes dos maricultores, além de suas próprias tentativas de melhorar as condições de trabalho”, explica.

A interação entre pesquisadores e comunidade resultou no desenvolvimento de quatro máquinas. Cada uma delas desempenha uma função específica no processo produtivo, que vai desde o cultivo das “sementes” até o processamento de ostras e mexilhões. Entre outros benefícios, os equipamentos ajudaram a reduzir alguns problemas de saúde apresentados pelos produtores, como lesões na coluna e nas mãos. “A prática artesanal exige grande esforço físico dos maricultores. Há dias em que eles retiram, apenas com a força dos braços, dezenas de lanternas ou cordas, cada uma com cerca de 50 quilos”, diz Forcellini.

Sistema de manejo das lanternas

Sistema de manejo das lanternas

Segundo o professor, a continuidade da produção também depende da melhoria das condições de trabalho. “Caso eles adoeçam, devido a lesões na coluna, por exemplo, quem irá manter a produção?”, questiona. Ele ressalta ainda que, além de mais qualidade de vida, a mecanização permite aos produtores oferecerem moluscos com melhores características para comercialização – maiores e com aspecto mais limpo -, o que garantiria maior rentabilidade.

Em busca de soluções

Santa Catarina é líder nacional na produção de moluscos cultivados, em especial ostras e mexilhões, sendo responsável por cerca de 90% do total produzido no País. Somente no ano passado, conforme a Epagri, foram “colhidas” cerca de 9,5 mil toneladas de mariscos no Estado. “Essa é uma atividade econômica que se tornou de extrema importância para os habitantes do litoral catarinense, principalmente depois que a pesca artesanal deixou de ser rentável”, explica o professor Forcellini.

Incentivada por pesquisadores do Laboratório de Laboratório de Moluscos Marinhos (LMM/UFSC) e também pela Epagri, parte da população que antes vivia exclusivamente da pesca passou a dedicar-se ao cultivo de ostras e mexilhões. Mas a liderança na produção nacional, alcançada em menos de dez anos de atividade, não significou avanço tecnológico. Praticada de forma artesanal, a maricultura catarinense ainda está longe de alcançar os padrões internacionais de produtividade e rentabilidade. “Depois de algumas pesquisas do LMM, constatou-se que um dos fatores que impedem o aumento da produção é a deficiência tecnológica. Foi então que passamos a trabalhar juntos”, conta o professor.

A parceria deu certo. Em menos de três anos, foram produzidas, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica (Posmec/UFSC), três dissertações de mestrado e uma tese de doutorado a respeito do tema. “Passamos a desenvolver uma linha de produtos destinados ao cultivo e à industrialização dos mexilhões. Embora ainda precise de aperfeiçoamento, essa família de equipamentos pode ser considerada um grande avanço tecnológico.”

Tecnologia a serviço da comunidade

O impacto do projeto é medido, segundo Forcellini, na melhoria das condições de trabalho dos maricultores. Além de diminuírem o tempo necessário à realização de cada tarefa, os equipamentos permitiram a redução do esforço físico e do número de lesões entre os maricultores.

Antes da construção dos protótipos, foram analisados os modelos já existentes de equipamentos para aqüicultura, principalmente os utilizados em países líderes de produção, como Espanha, França e Japão. “A importação desses produtos é inviável devido ao preço e também às diferenças entre as espécies de moluscos cultivadas aqui e lá”, afirma Forcellini. Assim, era necessário gerar soluções simples, de fácil construção, com custos reduzidos e facilidade de uso e instalação.

Os protótipos ainda estão em fase de testes e aperfeiçoamento. Mas o fato de o projeto ter alcançado seus objetivos e colaborado para a melhoria da qualidade de vida da comunidade já foi suficiente para que o trabalho do GEPP fosse reconhecido nacionalmente. No último domingo, o Grupo foi homenageado pela Academia Brasileira de Arte, Cultura e História, por sua contribuição à sociedade. Agora, o professor Forcellini prepara-se para receber o Troféu Expressão, no dia 7 de novembro.

Por Débora Horn, Núcle de Comunicação do Centro Tecnológico/UFSC

CONVERSE com o professor Fernando Forcellini por telefone (48 331-7101) ou por e-mail (forcellini@deps.ufsc.br)

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