Universidade apresenta na SBPC trabalho que analisa cobertura nacional de temas relacionados à saúde e estética

18/07/2005 11:14

A relação entre corpo, saúde e estética no discurso de três revistas semanais brasileiras é tema de um trabalho desenvolvido na UFSC que está sendo apresentado na 57ª Reunião Anual da SBPC. O trabalho, que será apresentado na forma de pôster, nesta segunda-feira, a partir de 16h, analisa matérias de capa que tratam de temas relacionados aos cuidados com a saúde e a estética corporal.

Os autores, o professor do Centro de Desportos da UFSC, Giovani de Lorenzi Pires, e a estudante de Educação Física, Mellyssa da Costa Mól, analisam no trabalho matérias das três principais revistas semanais brasileiras: Veja, Isto É e Época. Foram estudadas as edições do fim de semana 17 e 18 de julho de 2004, todas com matérias de capa tratando de temas relacionados aos cuidados com a saúde e a estética corporal. Os autores integram o projeto Observatório da Mídia Esportiva.

De acordo com o estudo, predominam nas matérias o discurso médico-científico e um discurso jornalístico pouco rigoroso. “As narrativas expressam ambigüidade entre saúde e estética e há um apelo ao erotismo”, avaliam os autores. Com relação à matéria da Revista Veja, por exemplo, o trabalho destaca que apesar de abordar timidamente os perigos das cirurgias plásticas, citando um caso de resultado mal-sucedido (do cantor Marcus Senna, do grupo LS Jack) e nove de sucesso, a matéria acaba por fazer aberta apologia da satisfação pessoal que tais esforços podem trazer àqueles que desejam mudar seu visual. A reportagem traz ainda informações sobre números brasileiros e mundiais de cirurgias plásticas e apresenta depoimentos de médicos, que tentam explicar a popularização das intervenções cirúrgicas. Mas há quase nenhum alerta para os riscos das cirurgias, ressaltam os autores em sua análise.

Para os autores, foi importante observar como o assunto cuidado com a saúde e estética corporal foi construído no discurso das revistas. “Ao abordar um tema qualquer, a mídia está colocando-o na pauta cotidiana da sociedade, fazendo com que os formadores de opinião passem a repercutir e emitir opinião a esse respeito”. Segundo eles, mesmo revistas “sérias” como as analisadas. não escapam do apelo barato e mal disfarçado à sensualidade nas fotos de capa e nas páginas internas de suas publicações. A exposição de corpos bonitos, principalmente femininos, parece ser o atestado de pessoas saudáveis e felizes a todos aqueles que se submeteram às recomendações do discurso midiático. Além disso, celebridades produzidas pela indústria cultural comparecem para testemunhar a favor das informações médico-científicas que são utilizadas para dar respeitabilidade às matérias.

O estudo ressalta que no âmbito educacional, em especial no escolar, a presença destes discursos também começa a ser percebida. Cada vez mais cedo, adolescentes se submetem a intervenções tecnológicas sobre o corpo. “Além disso, a cultura da malhação, presente no discurso midiático e pautada na ambigüidade beleza-saúde, desperta a atenção dos jovens e faz com que a disciplina Educação Física seja tomada como uma sucursal das academias – em alguns casos de escolas privadas, que terceirizam a Educação Física, de fato o é!”, ressalta o trabalho.

Os autores alertam que compete ao professor de Educação Física, aproveitando o interesse e a curiosidade produzidos pelas questões relativas às atividades corporais, saúde e estética, tratar estes temas pedagogicamente como um conhecimento a ser pensando, refletido e reconstruído, visando o esclarecimento e a autonomia dos alunos.

Uma possibilidade concreta para isso seria a Educação Física escolar adotar os princípios da educação para a mídia, começando pela tematização do discurso midiático sobre este e outros assuntos que povoam o imaginário social da sociedade contemporânea. “Professores capazes de reconhecer as influências diretas da mídia sobre a vida cotidiana poderão desenvolver atitudes mais seletivas frente aos discursos dos meios de comunicação e, desse modo, contribuirão para a formação de seus alunos, de modo que estes também se tornem mais críticos para interpretar os conteúdos veiculados”, alertam os autores.

Por Arley Reis

Jornalista da Agecom/UFSC,de Fortaleza, na 57ª reunião anual da SBPC