Religiosidade brasileira é discutida na reunião da SBPC
O Brasil é conhecido como um país que reúne muitas e diferentes religiões. Essa suposta diversidade religiosa brasileira foi contestada na conferência “Religiosidade à brasileira”, do professor de sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Antônio Flávio Pierucci, realizada durante a 57ª reunião da SBPC. O professor afirmou que, na verdade, o Brasil ainda é um país essencialmente cristão e que religiões como o islamismo, o judaísmo e o candomblé, por exemplo, estão restritas a uma pequena parcela da população.
Para comprovar isso, o professor usou dados do censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano 2000 que demonstram a porcentagem de católicos, evangélicos, praticantes de outras religiões e ainda os que não seguem nenhuma crença. Segundo esses números, aproximadamente 74% da população praticam o catolicismo, 15% são protestantes, 7% não têm religião e apenas 4% dos brasileiros declararam fazer parte de outras religiões. “Não há espaço para diversidade religiosa no Brasil como se pensa”, afirmou Antônio Flávio.
O processo de mudança no campo religioso brasileiro, observado principalmente a partir da década de 70, foi um assunto que também obteve destaque durante a conferência. A igreja católica, por exemplo, é a que mais perdeu fiéis nos últimos anos. Em 1940, ano em que o quesito religião começou a fazer parte do censo do IBGE, mais de 95% das pessoas se declaravam católicas; nos anos 70, esse número já havia baixado para 90% e em 1991, quando foi observada uma maior queda, a porcentagem chegou a 83%. No entanto, a quantidade de evangélicos, que envolve diferentes congregações, como a Assembléia de Deus, com mais de oito milhões de fiéis, cresceu de pouco mais de 2%, em 1940, para 15,5% no ano 2000.
Antônio Flávio usa o termo “religião de conversão” para classificar a prática das igrejas evangélicas e com isso justifica o movimento crescente no número de fiéis dessas instituições. Ele comenta que as promessas materiais, como dinheiro e emprego, e as de cura de doenças, que constantemente são feitas pelas igrejas, são os principais motivos que possibilitaram esse aumento. Outro diferencial entre a religião evangélica e a católica é o fato de que a primeira garante o poder divino na concretização das promessas ainda durante a vida, o que não acontece com o catolicismo.
O aumento do número de evangélicos é mais visível na região norte do país. Rondônia, por exemplo, é o estado onde essa religião está mais presente; 27% das pessoas são protestantes. Esse mesmo estado também apresenta a maior redução da população católica. Apenas no período de 1991 a 2000, o número de católicos reduziu de 71% para 57%.
Essa transformação na religiosidade brasileira reforça um processo que os sociólogos denominam de individualização da sociedade. Isso porque uma pessoa não se sente mais obrigada a seguir a mesma religião dos pais, que praticamente é imposta ao indivíduo. Agora, essa escolha é feita segundo as idéias e experiências de cada um. Essa tendência é conhecida como autonomia religiosa, quando são derrubados os tabus que impedem a troca da religião de nascença por alguma outra.
Por Julia Fecchio/bolsista de jornalismo da Agecom, de Fortaleza, na 57ª reunião anual da SBPC