Pesquisadores da UFSC da área de Antropologia marcam presença na Reunião Anual da SBPC
A antropóloga e professora da UFSC Carmen Rial foi uma das apresentadoras do simpósio “Antropologia e Imagem: Medo e Terror, Exclusão e Violência no Contexto Contemporâneo”, realizado na manhã desta terça-feira, durante a 57ª Reunião Anual da SBPC. Coordenadora do Núcleo de Antropologia Audiovisual e Estudos da Imagem (NAVI), campo em que vem desenvolvendo suas últimas pesquisas, Carmen Rial falou sobre “Guerra de Imagens e Imagens da guerra: estupro e sacrifício na guerra do Iraque”. Participaram também do simpósio a professora Cornelia Eckert, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), falando sobre “A cidade e o medo como drama social”, e Peregrina Capelo, da Universidade Federal do Ceará (UFC), que tratou de “Pistolagens no Ceará”.
Segundo Carmen Rial, os antropólogos que estudam guerras mostram que a paz tem sido o interlúdio entre duas guerras e não o contrário. Carmen analisou a cobertura da mídia (CNN e Fox News) sobre como se tem reagido ao papel das mulheres na guerra, onde além de auxiliares, enfermeiras ou cozinheiras, passaram a integrar efetivamente o exército. “Quando uma mulher empunha armas, como Joana d’Arc, precisa esconder seu sexo. E, revelada sua condição de mulher, resolve-se a incongruência transformando-a em santa ou bruxa,a enviando para fogueira”, analisa a pesquisadora. Ela citou como modelos paradigmáticos duas mulheres que apareceram na mídia na guerra do Iraque: a soldada Lynch, protagonista de um “sequestro” não esclarecido, vez que foi “resgatada” de um hospital onde estava se recuperando e cujo silêncio manteve o mito de santa e England, seu oposto, satanizada, por sua imagem, que mais revolta causa,nas fotos de Abu Ghraibe.
Enviadas também para a fogueira são as iraquianas estupradas pelos soldados e mercenários norte-americanos. Esta desonra que se torna não individual, mas grupal, é muitas vezes evitada pelo suicídio, meio de evitar que nestes estupros étnicos se transporte além da semente da vida, a marca étnica, a marca religiosa, enfim, toda a identidade.
Carmen fez uma análise das fotografias destes estupros, divulgadas pela Internet, buscando mostrar o quanto as mulheres são estereotipadas ou silenciadas pelo tipo de cobertura que lhes é dada na mídia global. Afinal quem viu as fotos destes estupros? Elas aparecem em sites pornográficos, revelando o horror de que, mesmo depois de estupradas e mortas, elas rendem dinheiro ao estuprador e, são novamente estupradas a cada acesso a um destes sites.
A partir das coberturas televisivas, a professora formula a hipótese de que as coberturas globais, ainda que veiculem em diferentes países e em diferentes canais de televisão as mesmas imagens, não veiculam as mesmas mensagens, isto é, à incontestável homogeneidade de imagens se contrapõe uma heterogeneidade da cobertura.
Outras palestras na área de Antropologia
O simpósio que contou com a participação da professora Carmen Rial é um dos eventos que está sendo organizado na Reunião Anual da SBPC pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA). Na manhã de quarta-feira, a professora da UFSC, Miriam Pillar Grossi, atual presidente da ABA, fala sobre “Antropologia brasileira hoje: compromissos éticos e políticos”.
Na área de Antropologia a UFSC ainda será representada pelo professor Theophilos Rifiotis, coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (Levis), que vai integrar o simpósio “Violência e criminalidade: desafios da pesquisa e da intervenção”. O simpósio será realizado na tarde de quarta-feira.
Por Alita Diana
Jornalista coordenadora da Agecom/UFSC,de Fortaleza, na 57ª reunião anual da SBPC