Pesquisador critica ensino simultâneo da leitura e da escrita

21/06/2005 17:05

O pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Ricardo Hecker Luz, identificou alguns problemas na alfabetização no 1º ano do ensino fundamental. Um deles é o ensino simultâneo da leitura e da escrita, que possuem processos diferentes e não podem ser tratados da mesma maneira. A leitura é pré-requisito para a escrita com entendimento. Muitos professores não levam isso em conta e exigem a cópia de textos de quem ainda não aprendeu a ler. Essa atividade não ajuda a desvendar o mistério que transforma letras em sons e sons em letras.

Na dissertação de mestrado, defendida em 2005, no Programa de Pós-Graduação em Lingüística da UFSC, Luz diz que o ensino do alfabeto através do nome das letras dificulta o entendimento do sistema. Muitas crianças ao verem a palavra “bolo”, lêem bê, o, ele, o. O ensino do valor (o som) que as letras podem representar elucida com maior clareza o enigma que transforma letras em sons e sons em letras. Isso pode ser feito com figuras e seus respectivos nomes, por exemplo.

Para o pesquisador, bolsista da Capes, a escola não está preparada para trabalhar com as dificuldades de aprendizagem dos alunos. Os problemas aparecem nas primeiras semanas de aula, e não há estratégias específicas para enfrentá-los. Essas crianças deveriam receber auxílio a partir das primeiras semanas de aula, aumentando as chances de ingresso no mundo da leitura. Muitas repetem várias vezes o 1º ano e, mesmo assim, não conseguem aprender a ler.

A dissertação O ABC sem o ABC: fonemas e grafemas na alfabetização avaliou a influência do conhecimento lingüístico e psicolingüístico do professor no sucesso da alfabetização. Participaram da pesquisa uma professora e duas turmas de 1º ano do ensino fundamental de um município catarinense. O trabalho evidenciou a necessidade de práticas pedagógicas para o reconhecimento dos traços gráficos que distinguem as letras e de alternativas para enfrentar a alfabetização com analfabetismo funcional, tão recorrente na escola brasileira.

Nesse sentido, o mestre em Lingüística pela UFSC desenvolveu um Projeto de Qualificação do Ensino Fundamental para preparar professores para o desafio de inserir crianças no mundo da leitura e melhorar os índices de aprovação no 1º ano.

O pesquisador defende uma alfabetização com letramento através da qualificação teórica e prática dos professores e da valorização profissional da categoria. A professora Leonor Scliar-Cabral orientou a dissertação e supervisiona o projeto.

Informações adicionais: Ricardo Luz (48) 8822 1157. richluz@ig.com.br