Urucum tinge fibras têxteis

13/05/2005 11:42

Retângulos de algodão felpudo estampados alinham-se colados às prateleiras do Laboratório de Transferência de Massa do Departamento de Engenharia Química e Alimentos da Universidade Federal de Santa Catarina (Labmassa-EQA-UFSC). A cores desfilam nuances de laranja, mas a bixina ali presente pode fazer o colorido variar do amarelo ao vermelho. Esse é um dos principais pigmentos do urucum, uma planta tropical que pode chegar a cinco metros de altura e de cujas sementes se extrai o popular colorau. Os pesquisadores da UFSC querem saber quais as melhores condições de extração e purificação da bixina para chegar às condições de tingimento e resistência à lavagem mais eficientes, o que tornaria viável a substituição de corantes sintéticos na indústria têxtil. Além disso, esse é o único corante natural de origem brasileira cuja importância cresce mundialmente.

O projeto, denominado Protextil, está sendo desenvolvido desde outubro do ano passado com as indústrias catarinenses Hering, Karsten e Marisol e tem o Serviço Nacional da Indústria (Senai), o Instituto Euvaldo Lodi (IEL) e a Fundação Fritz Müller como parceiros. “Os resultados desse projeto deverão trazer um importante fator de competitividade às empresas, incrementando a exportação dos produtos tingidos com corantes naturais e também diminuindo a contaminação do meio ambiente”, espera o professor do EQA Antônio Augusto Ulson de Souza, coordenador do projeto. Ele explicou que o corante sintético é difícil de ser removido dos efluentes têxteis e seu impacto nas células das plantas, dos animais e do homem pode originar sérias mutações, como as que causam certos tipos de câncer. Já o corante do urucum é biodegradável, ou seja, é deteriorado por microorganismos. “Um produto com corante natural passa a ter um uso nobre, com maior valor agregado”, disse.

As pesquisas com o urucum integram uma ação tecnológica de aperfeiçoamento dos processos industriais, o que inclui estudar o tingimento de fios empacotados, o alvejamento e o encolhimento dos tecidos. “O projeto atua no incremento tecnológico”, esclarece Ulson de Souza, entusiasmado com a geração de novos conhecimentos e com as inovações tecnológicas. Oito pesquisadores, da Universidade e das empresas, participam desse trabalho, que deve estar concluído no primeiro semestre de 2006. O projeto da UFSC também quer criar uma espécie de “selo verde” para produtos com corantes naturais, conferindo-lhes “brasilidade”.

O nome científico do urucum é Bixa orellana e suas propriedades corantes são conhecidas há séculos, tanto na culinária, quanto na estética. Usado ainda hoje na indústria alimentícia para colorir caldos e molhos e se agregar a cozidos parecendo molho de tomate, é também tradicional extrato para a pintura indígena. O corante propriamente dito encontra-se no ariolo que envolve a semente da planta e seu teor de substância ativa corresponde de 1% a 4% do peso total dessa parte da planta. Extraí-lo não é simples, pois dependendo do processo o corante se degrada.

O método mais usado, o alcalino, utiliza uma solução de soda cáustica para obter bixina ou norbixina, que ficam concentradas na polpa. No laboratório da UFSC, foi desenvolvido um processo que resulta em um concentrado de corante com um teor de 75% de bixina e uma rota de purificação que permite obter teores de 99% de pureza.

A concentração de bixina, mostrou o professor, é medida em equipamentos sofisticados como cromatógrafo (HPLC) e espectrofotômetro. Só então ela é misturada a outras substâncias para que seja usada em processos de estamparia e/ou tingimento. A cor desejada é resultado de uma matemática que leva em conta, principalmente, a concentração dessa substância. Seria um cálculo fácil não fosse esse corante tão suscetível à degradação provocada pela luz e ao calor excessivo ou à armazenagem em lugares muito úmidos. Essas condições ocasionam a perda da sua propriedade de colorir. Os microorganismos também são seus inimigos. Por isso os pesquisadores têm tanto cuidado nos ensaios: não só cobrem as amostras estampadas ou tingidas com plásticos pretos, mas armazenam a substância em vidros escuros. Querem avaliar esses efeitos no laboratório.

Fonte: Núcleo de Comunicação do CTC/Por Carla Cabral

Informações com o professor Antônio Augusto Ulson de Souza: augusto@enq.ufsc.br ou 331-9448

Para saber mais sobre o laboratório onde está sendo desenvolvida essa pesquisa:www.enq.ufsc.br/labs/LABSIN

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