Evento discute soluções para a qualidade das fachadas dos edifícios

19/05/2005 11:27

É cada vez mais comum caminhar nas cidades e observar fachadas de prédios com problemas de umidade, rachaduras, queda de revestimento, infiltração. Com o aumento do número de andares dos prédios e a necessidade de construção de grandes vãos livres para garagens, esses problemas assumiram condições alarmantes, trazendo dores de cabeça e prejuízos a moradores e empresários da construção civil, já que o revestimento pode representar 10% do custo de uma obra. Apesar dessa situação, pesquisas mostram que a maioria das construtoras não investe em projeto ou controle tecnológico da argamassa utilizada no revestimento dos edifícios. A maior parte das empresas também desconhece a tecnologia atual disponível para controle destas “doenças da construção”.

A partir da próxima segunda-feira, 23/5, pesquisadores e profissionais da construção civil se reúnem em Florianópolis para discutir os avanços tecnológicos para solução destes problemas. Será realizado até quarta-feira, 25/5, no Costão do Santinho Resort, o VI Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Argamassas, que este ano contará também com palestrantes internacionais, no I International Symposium on Mortars Technology. O encontro vai contar com 20 palestras de especialistas no assunto e a apresentação de cerca de 50 trabalhos, apresentando estudos desenvolvidos com o objetivo de buscar melhorias para as argamassas de revestimento. Entre as instituições organizadoras do evento estão o Grupo de Desenvolvimento de Sistemas de Alvenaria (GDA) e o Núcleo de Pesquisa em Construção (NPC), ligados ao Departamento de Engenharia Civil da UFSC, e a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP). Entre os promotores estão a Associação Brasileira de Argamassa Industrializada (ABAI) e a Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (ANTAC), por meio de seu Grupo de Trabalho em Argamassas. O Sistema Sinduscon da Grande Florianópolis é co-promotor do evento.

DIA DO CONSTRUTOR

Já que as soluções tecnológicas vêm sendo desenvolvidas nas universidades, mas ainda são desconhecidos dos empresários da construção civil, este ano o VI Simpósio Brasileiro de Argamassas inclui em sua programação o ´Dia do Construtor`. O encontro foi organizado para aproximar a pesquisa tecnológica dos profissionais da construção civil que procuram conhecer o que dispõem para dar qualidade à sua obra. A proposta é repassar ao meio técnico empresarial os últimos avanços na área de argamassas de revestimento.

No ´Dia do Construtor` serão realizadas palestras e debates com convidados do meio acadêmico e do mercado da construção, abordando temas como soluções técnicas, tendências em argamassas, oportunidades de ganhos de qualidade e produtividade, avanços na tecnologia de revestimentos, aditivos químicos e orçamentos. O objetivo é estimular o estudo em cadeia, envolvendo produtor, construtor e pesquisadores na busca da prevenção dos problemas relacionados às argamassas.

Paulo Sanchez, diretor da empresa Sinco Ltda., construtora que atua em São Paulo, responsável pela construção do Edifício West Side, com 148 metros de altura, será um dos palestrantes do ´Dia do Construtor`. O engenheiro fará a palestra ´Revestimentos de argamassa em edifícios altos: a visão do empresário no caso do Edifício West Side`, mostrando sua visão a respeito das escolhas e soluções adotadas ao longo da obra.

RESTAURAÇÃO DE OBRAS HISTÓRICAS

Comuns nos grandes edifícios, os problemas com revestimentos também atingem obras históricas. O VI Simpósio de Tecnologia de Argamassas reserva sessões específicas para tratar das possibilidades de restauração destas construções. Para falar sobre o assunto foi convidada a professora Maria Cruz Iglesias Martinez, responsável por atividades de ensino e pesquisa sobre argamassas históricas e argamassas de cal na Universidade da Coruña (Espanha). Em sua palestra, que será realizada no dia 25 de maio, às 13:30h, serão destacadas as propriedades necessárias às argamassas destinadas à restauração de obras históricas. A exposição será ilustrada com casos estudados do patrimônio arquitetônico espanhol. Nesta tarde direcionada à apresentação de trabalhos relacionados à durabilidade e restauro de revestimentos, será também apresentado um trabalho sobre a caracterização de argamassas de edificações históricas de Santa Catarina, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Saiba Mais

A PROBLEMÁTICA ENVOLVENDO ARGAMASSAS

As paredes em alvenaria (de pedras e mais tarde tijolos) e os revestimentos em argamassas são tecnologias construtivas anteriores à era Cristã. Inicialmente, as alvenarias eram utilizadas simultaneamente como vedações e como estrutura, por isso as paredes eram extremamente largas, revestidas com argamassa de cal e areia.

Com a invenção do concreto armado (estrutura de ferragens e cimento Portland), o sistema de construção mudou profundamente e as alvenarias deixaram de exercer sua função estrutural, passando a serem utilizadas principalmente para vedação. Os problemas com rachaduras começaram nessa época e foram intensificados com a construção de prédios mais altos e maiores vãos.

Até 20 anos atrás, as estruturas de concreto possuíam vãos relativamente pequenos (de 3,5 m a 5 m) com muitos pilares, com edifícios raramente ultrapassando 16 pavimentos e construídos num prazo relativamente longo (24 a 30 meses). Nos últimos 10 anos, a exigência por mais vagas de garagem cresceu muito, assim como a necessidade de aumento da produtividade para redução dos custos de produção. Além disso, o custo do solo urbano cresceu, fazendo com que os edifícios, que antes possuíam 16 pavimentos, passassem a ser construídos com 30 pavimentos ou mais. Tudo isso somado tornou as estruturas de concreto armado bem mais solicitadas, aumentando significativamente as deformações impostas à alvenaria. A conseqüência foi inevitável, com um aumento muito grande nas patologias nesses últimos anos. Para agravar a situação, para obter estruturas altas e com grandes vãos, foi necessário o aumento da resistência à compressão do concreto. Como quanto mais resistente é o concreto, menor é a sua porosidade, o que dificulta ainda mais a aderência dos revestimentos e das argamassas de fixação da alvenaria, a situação foi agravada.

O problema narrado acima não aconteceu de forma súbita, mas numa evolução paulatina, sem que a cadeia produtiva da construção tomasse qualquer providência. O problema assumiu proporções alarmantes, que podem ser verificadas nas fachadas dos prédios de todas as cidades.

O CONTEXTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL:

O chamado macro-complexo da Construção Civil gera mais de 15% do Produto Interno Bruto. O construbusiness está entre os dez setores que mais geram empregos por unidade monetária investida, com potencial para criar um círculo na economia. Segundo dados do Sindicato das Indústrias da Construção de São Paulo (Sinduscon/SP), a cada R$ 1.000,00 investidos na construção, são gerados R$ 561,54 de renda no próprio setor. Além desse valor adicionado internamente, são gerados outros R$ 219,50 no fornecimento de matérias-primas, somando R$ 781,04 de renda direta e indireta relacionado ao investimento.

PARA ENTREVISTAS:

– Professor Humberto Ramos Roman

Departamento de Engenharia Civil – Centro Tecnológico

Universidade Federal de Santa Catarina

Fone: (48) 331-7094

Email: visbta@sbta.ufsc.br ou humberto@ecv.ufsc.br

– Professora Denise Antunes da Silva

Departamento de Engenharia Civil – Centro Tecnológico

Universidade Federal de Santa Catarina

Fone: (48) 331-5176

E-mail: denise@ecv.ufsc.br

Mais Informações:www.sbta.ufsc.br