As Duas Faces da Moeda – As contribuições de JK e Gilberto Freyre ao colonialismo português

18/10/2004 16:40

Lançamento do livro do professor Waldir Rampinelli, nesta quinta-feira, na Galeria de Arte da UFSC, no Centro de Convivência, a partir das 19h. O livro As Duas Face da Moeda faz parte da Coleção Relações Internacionais e Estado Nacional – RIEN – n. 1, da Editora da UFSC

O governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), que marcou a entrada do Brasil na modernidade por meio de um processo de industrialização, apoiou entusiasticamente o colonialismo português na África, Ásia e Oceania. Chegou, inclusive, a prejudicar os interesses dos cafeicultores paulistas e paranaenses, ao permitir que o café angolano, produzido por mão-de-obra semi-escrava, competisse com o produto brasileiro no mercado dos Estados Unidos. – Por que JK, sendo um presidente nacional-desenvolvimentista, apoiava a ditadura salazarista e a luta pela manutenção de suas colônia fazendo coro aos que afirmavam que Portugal começava no Minho e terminava no Timor? Quatro razões fundamentais levaram JK a adotar esta estratégia política: a ideologia, a afetivo histórica, a eleitoral e a religiosa.

Por sua vez, a teoria luso-tropicalista de Gilberto Freyre caiu como uma luva para o Estado português, já que ela explicava que Lisboa não tinha colônia, mas tão-somente províncias, e seu objetivo não era explorar, mas civilizar. O próprio Freyre fez uma longa viagem de estudos às colônias, a qual não apenas teve o patrocínio ditadura salazarista como também fora conduzida de acordo com seus interesses. Não foi permitido, por exemplo, que o sociólogo brasileiro visitasse o Timor, porque ali não ocorrera a miscigenação, e tampouco Macau, já que a mesma estava inteiramente dominada pela China e Mao.

Desde modo, a política externa de JK juntamente com a teoria de Gilberto Freyre ajudaram a legitimar o colonialismo português, nas mais diversas partes do mundo.

Entrevista concedida pelo professor Rampinelli à assessoria de imprensa da editora da UFSC

EdUFSC: Em poucas palavras, qual é o conteúdo do livro?

WR: O livro trata das relações entre os governos de Juscelino Kubitschek e Oliveira Salazar. A sagacidade e a cooptação da longeva ditadura portuguesa levaram um presidente democrata brasileiro a apoiar a tese de que Portugal começava no Minho e terminava no Timor. Razões diversas, como as de ordem ideológica, afetivo-histórica, religiosa e eleitoral, explicam as intervenções da diplomacia brasileira na defesa da manutenção do status quo colonial português.Por sua vez, o sociólogo Gilberto Freyre, com a teoria luso-tropicalista, também colaborou com o estreitamento das relações entre os dois países, dando um caráter civilizatório às conquistas ultramarinas.

EdUFSC: A obra, então, arranca a “aura” de dois “deuses” do imaginário popular brasileiro? (Tem, portanto, caráter de denúncia, não!?).

WR: Sem dúvida. Não tem o caráter de denúncia, mas sim de análise histórica e política, na qual o presidente e o sociólogo apresentam um passado colonialista. Um votando a favor do colonialismo e, o outro, teorizando em prol do mesmo.

EdUFSC:Esse colonialismo continua presente na cultura brasileira, inclusive, no cotidiano daquelas que exercem o poder? (Lula é diferente?).

WR:Este colonialismo não está presente na cultura brasileira, tampouco na diplomacia do Itamaraty. No entanto, não podemos esquecer que um novo tipo de colonialismo toma o coração e a mente de muito brasileiros, inclusive de parte de nossa diplomacia: o neocolonialismo praticado pelos países imperialistas. Se o imperialismo formal (aquele com colônias) desapareceu significativamente do mundo, no entanto, acentuou-se o imperialismo informal (aquele que domina os países ditos independentes).

EdUFSC: Fique à vontade para outros comentários que considere úteis para subsidiar a divulgação do livro.

WR: O assunto, de que trata o livro, é pouquíssimo discutido no país. Para tanto, basta ver os trabalhos escritos sobre JK e Gilberto Freyre, omitindo, ou minimizando o apoio de ambos ao colonialismo português.

Contato: professor Waldir José Rampinelli – 331 – 9249

rampinelli@brturbo.com