Recicleta, um veículo para os catadores

30/09/2004 17:11

Carrinhos de mão, bicicletas e gaiolas de tração humana são veículos que vão e vêm, diariamente, no trânsito da cidade. Seus condutores têm um papel fundamental: o de separar o lixo orgânico daquele que pode ser reciclado. O “catador”, como é costumeiramente chamado, muitas vezes volta para a casa com dores nas costas ou, em alguns casos, corre riscos ao competir com carros e caminhões nas estradas.

Atentos a esse fato, o professor do departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina, Fernando Barth, e

a arquiteta Thais Provenzano, projetaram a “Recicleta”, um veículo que leva em conta desde as condições físicas do profissional, como a altura, até a maneira como ele deve separar os rejeitos.

O equipamento é formado por uma bicicleta e um compartimento de 1,25

metros de largura por 2 metros de comprimento. Os cantos são

arredondados para impedir impactos violentos e as rodas são menores

com o objetivo de dar ao veículo mais leveza e facilidade de manuseio. O design é arrojado e possibilita que o profissional seja identificado com facilidade.

Um amassador de lata também permite aumentar a produtividade do

catador. Acoplado ao compartimento traseiro, ele pode reduzir em 80% o volume total do material. Além disso, as divisórias móveis permitem que o lixo coletado não se misture: papéis, vidros e plásticos chegam à cooperativa sem precisar passar pelas esteiras de separação. “O lixo separado agrega valor no processo de reciclagem, permitindo, também, que o catador possa ser mais valorizado. O mais eficiente é chegar na cooperativa com tudo separado e já saber, de forma automática, quanto de cada material ele coletou”, explica Barth.



O projeto da Recicleta, no entanto, não leva em conta somente as

condições do veículo. A idéia, segundo o professor, é auxiliar na

profissionalização do setor. Isso aconteceria através do estimulo ao uso de uniformes, de equipamentos de higiene e de segurança e dos espaços para propaganda e marketing promocional na Recicleta e nas vestimentas do catador “Isso ajudaria a imprimir um padrão empresarial à coleta”, destaca.

Coleta Seletiva – A coleta seletiva em Florianópolis já existe há 15 anos. A Companhia Melhoramentos da Capital (Comcap) é a responsável “oficial” pelo processo, que também conta com dezenas de trabalhadores autônomos. De acordo com a engenheira da Comcap Flávia Orofino, a equipe é formada por três motoristas e nove garis, todos treinados e orientados para recolher somente o material reciclado.

Segundo Flávia, a inserção dos trabalhadores autônomos na coleta

seletiva é uma das preocupações da Companhia, que formou uma

comissão especialmente para tratar do assunto. De acordo com ela, é

difícil responder se o efeito da atuação desses profissionais é positivo ou negativo. “É positivo pois menos materiais recicláveis estão indo para o aterro sanitário e mais pessoas têm renda suficiente para se alimentar,se vestir, morar. É negativo pois menos materiais estão chegando às associações de triagem que dependem desse material para garantir o trabalho dos seus associados; pois muitos catadores rasgam os sacos na rua e jogam o que não querem em terrenos baldios, valas e riachos”, exemplifica.

O fato é que desde 2003, como afirma a engenheira, o número de

materiais recicláveis coletados pela Comcap vem caindo drasticamente. A partir de observações em campo, chegou-se a conclusão de que esta

redução “deve-se a forte atuação dos catadores que atuam em

praticamente todos os bairros da cidade”.

Para o professor do departamento de ArquiteturaFernando Barth, a falta de mão de obra treinada e qualificada pode ser prejudicial à coleta seletiva. A Recicleta, segundo ele, seria uma forma de garantir uma maior preocupação com a atuação desses trabalhadores.

A engenheira da Comcap, no entanto, observa que ela ainda precisa ser

testada entre os profissionais da área. “Mas com certeza, tudo o que vier ajudá-los a ter melhores condições de trabalho, ajuda na sua

profissionalização”, finaliza.

Principais resíduos recicláveis de Florianópolis

Média geral recolhida

(% em peso)

Plástico duro

5

Plástico mole

10

Papel

11

Papelão

3

Vidro

4

Fonte: Comcap

Fonte: Núcleo de Comunicação do CTC/ Por Amanda Miranda

Fotos: Arquivo Professor Fernando Barth

Professor Fernando Barth : telefone 331 9393 – ramal 24

departamento de Arquitetura e Urbanismo www.arq.ufsc.br