Florianópolis sedia o 1º Encontro Catarinense de Arte sem Barreiras
Além das atividades para os inscritos no evento, o público poderá assistir aos espetáculos de dança em cadeiras de rodas, teatro com ator surdo e música de cegos com grupo Forró no Escuro, em três noites no teatro do CIC.
Começa nesta quinta-feira, dia 16, e vai até o dia 18, o 1º Encontro Catarinense de Arte Sem Barreiras, promovido pelo comitê catarinense do Programa Arte Sem Barreiras e pela UFSC com o patrocínio da FUNARTE e apoio de várias instituições localizadas no Estado.
O evento tem como tema “Arte, formação e profissionalização”, e reúne professores, produtores culturais e artistas de outras cidades do Brasil, pela primeira vez na capital catarinense. Entre os objetivos do encontro está a reflexão sobre alguns desafios a serem superados: a capacitação docente e a formação de platéia, pois a realidade vem mostrando um crescimento do número de trabalhos envolvendo artistas com necessidades especiais (NE), professores, pesquisadores e dirigentes.
É a primeira vez que acontece um evento desses em Santa Catarina, estado que foi o último do Brasil a criar um comitê que atua com o programa nacional vinculado à Funarte. Este evento acontecerá de quinta-feira à sábado, no Hotel Praiatur, na praia dos Ingleses em Florianópolis (www.praiatur.com.br) e terá palestra, simpósio e mesa-redonda, tratando de temas como “Arte, formação e profissionalização: a arte como promotora de mudanças – da dependência à autonomia criativa”, com Luciano de Souza, presidente da Comissão Municipal de Deficientes, de Santos-SP, que também é dançarino.
Outro tema “Obstáculos e possibilidades para a formação e/ou carreiras em artes”, com o premiado cartunista paraplégico Ricardo Ferraz, de Itapemirim-ES e com a cantora e músico local Marjory Barbosa e Marco Valente. O tema “Estética e valor da produção e do produto artístico em suas diferentes linguagens” será tratado na mesa-redonda com o ator, diretor e produtor cultural, do Rio de Janeiro, Otoniel Serra, e com os professores/artistas de Florianópolis Antônio Vargas (UDESC), César Floriano (UFSC), ceramista Jussara Maria da Silva e com a curadora de exposições Sandra Meyer.
O encontro está programado para receber 300 participantes, e estão sendo oferecidas 270 vagas em 10 cursos e oficinas de arte que acontecerão no período da tarde dos três dias do evento, e cada pessoa poderá se inscrever em até três dessas atividades. Haverá ainda comunicação de trabalhos através de pôsters e, para os que apreciam uma sessão de filme, todos os dias após o almoço poderão assistir a “Janela da Alma”, “Irene, minha vida é normal” ou “O engraxate” que teve a participação do ator Otoniel Serra, que também atuou na produção nacional Morte e Vida Severina.
São os seguintes cursos e oficinas de arte do encontro: Desenho Artístico, Música para Educadores Inclusivos, Oficina de Dança, Carreira em Artes, Para além da comoção, Quem educa o educador?, Educação para uma compreensão crítica da arte. Essas atividades serão ministradas por especialistas de Florianópolis
e de outras cidades brasileiras que possuem experiência em congressos nacionais e internacionais. Ainda há vagas para o evento e a programação completa poderá ser cessa no site do encontro em
www.ced.ufsc.br/artesembarreiras.htm
Francisco de Souza Cedro, 42 anos, desde 2002 coordenador do Comitê do Programa Arte Sem Barreiras de Florianópolis, que tem abrangência estadual, diz que aposta na realização deste encontro: “Esta é a primeira vez que Santa Catarina receberá muitos dos artistas e grupos de expressão nacional que estarão em Florianópolis para conhecer e incentivar o trabalho que é feito aqui. Esperamos que outros eventos possam acontecer na nossa região, pois fala-se muito em inclusão,mas quando se trata de inclusão do deficiente o processo ainda é meio lento”. Com bom humor e espírito determinado Francisco Cedro, Chico, como é conhecido, lembra da sua surpresa aos 17 anos de idade em Bento Gonçalves-RS quando ajudou um senhor cego a atravessar a rua e foi convidado por ele para conhecer uma associação daquela cidade. Como também tinha problemas de visão, pois usava óculos de 20 graus, entusiasmou-se com o trabalho do grupo e atuou por 20 anos como voluntário na sua cidade: “Até como guia de turismo de cego eu atuei” lembra com satisfação.Conheceu sua atual companheira Jussara da Silva, ceramista cega há nove anos, quando ela foi fazer um curso de dirigentes para cegos naquela cidade. Diz que apaixonou-se e veio para Florianópolis onde atua como voluntário e ajudou a fundar o comitê estadual em 2001, o primeiro do Estado e um dos poucos, junto apenas com o de Blumenau. Chico e Jussara fazem parte da coordenação geral do Encontro, são otimistas, determinados e com muito bom humor lembram de quando se conhecerem e brincam dizendo que “O amor não é cego”. Jussara está expondo figuras femininas em cerâmicas no Hall do MIS, no CIC, com mais três artistas plásticos.
Teatro do Cic será Palco para três noites de shows do Encontro
Companhia De Dança Arte De Viver E, Corpo Em Movimento, na
primeira noite do Encontro.
Shows nacionais estarão pela primeira vez em Florianópolis. Além da programação exclusiva para os inscritos no evento, haverá atividades para o público que poderá participar do encontro visitando as quatro exposições de artes plásticas – cerâmica, pintura, cartuns e fotografias – que estão em espaços do Centro Integrado de Cultura-CIC e também assistir aos espetáculos que acontecerão nas três noites do evento, sempre às 20h30min.
Na quinta-feira irão se apresentar as companhias de dança Arte de viver, de São Paulo , e Corpo em Movimento, em cadeiras de rodas, de Niterói-RJ. Sexta-feira é a noite do teatro com “Nelson ‘6’ ao Vivo”, protagonizado pelo ator surdo Nelson Pimenta. E na sábado a noite da música terá as atrações locais “Dueto João e Marjory” e “Grupo Instrumental Ponte Aérea” e a atração nacional “Banda Forro no
Escuro” de Belo Horizonte, formada por músicos cegos.
A Companhia de Dança Corpo em Movimento, formada em 1998, é um dos mais importantes grupos do nosso país. Coreografado pelo renomado bailarino Carlinhos de Jesus, tem em seu currículo mais de 500 apresentações pelo Brasil e pelo Mundo, provando que a arte não representa barreira.
É a primeira companhia de dança sobre rodas a realizar coreografia de dança de salão e está se preparando pra representar o Brasil em festivais e campeonatos internacionais. Depois dos ensaios intensos de quatro horas diárias com aulas de controle de cadeira, uma equipe médica da instituição realiza trabalhos complementares para evitar danos físicos aos dançarinos.
Nas apresentações as coreografias são ecléticas. Do contemporâneo, passando pelo tango, valsa, jive, forró, capoeira e, como todo brasileiro, com sua ginga carioca, acaba em samba.
O grupo tem papel fundamental na política da ANDEF-Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos de conscientização social sobre a potencialidade da pessoa portadora de deficiência, contribuindo de forma eficaz para a quebra de estigmas.
A Companhia de Dança Arte de Viver, de Santos-SP, que também se apresentará na noite de quinta-feira, é formada por Luciana Carla Ramos da Silva – Bailarina Clássica, Terapeuta Corporal e Pesquisadora de Dançaterapia; Luciano Marques de Souza – Bailarino e portador de deficiência física; Presidente do Conselho Municipal [Santos-SP] para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – CONDEFI e, Alexandre de Aguiar Siqueira – Bailarino, Arquiteto e Produtor de Eventos.
Os ingressos para todos os espetáculos do evento custam r$ 10,00 ou R$ 5,00 com um quilo de alimento não perecível.
Esse Encontro é uma promoção da Very Special Arts/SC – Programa Arte sem Barreiras, de Florianópolis, e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), através do Núcleo de Investigação do Desenvolvimento Humano (NUCLEIND), do Centro de Ciências da Educação (CED), do Departamento Artístico Cultural (DAC)/Pró-Reitoria de Cultura e Extensão (PRCE), com patrocínio da FUNARTE/Centro de Programas Integrados, e apoio do Governo do Estado de Santa Catarina, Prefeitura Municipal de Florianópolis, BESC, Eletrosul, CAPES e PROESP.
Veja a programação completa do Encontro no site:
www.ced.ufsc.br/artesembarreiras.htm
Fonte: DAC – Departamento Artístico Cultural da UFSC, com entrevistas e consultas a material de apoio.
Sobre o Arte Sem Barreiras
O Programa Very Special Arts Internacional foi criado em 1974 por iniciativa de Jean Kennedy Smith, irmã do presidente John F. Kennedy, com o objetivo de difundir e integrar à sociedade, através da expressão artística, portadores de deficiência. Hoje ele se faz presente em 86 países nos cinco continentes.
Há dez anos, em 1990, o VSA do Brasil foi o 53º país a se integrar ao
programa num contexto nacional de extrema rejeição, incompreensão e
ausência de sensibilidade para as questões da pessoa portadora de
deficiência.
Posteriormente incorporado às atividades da Fundação Nacional de Arte/Funarte, do Ministério da Cultura, com o nome de Programa Arte Sem Barreiras, passou a atuar nacionalmente na formação, promoção e integração sócio-cultural, através de comitês regionais e municipais, que hoje somam 31, abrangendo capitais e cidades do interior do país, coordenados por equipes de voluntários, com idéias e propostas afins.
Foi com o apoio desses comitês, e de dezenas de entidades públicas e privadas, que realizamos, nesse primeiro período de 10 anos, cinco Festivais Nacionais de Arte Sem Barreiras e quatro Congressos Nacionais de Arte-Educação, além de centenas de eventos regionais de artes integradas e participações em festivais internacionais, sempre enfatizando e priorizando a necessidade da inclusão pela Arte. Através dessas atividades buscamos sensibilizar e superar preconceitos,ampliando o entendimento e o conceito da sociedade sobre o deficiente.
Em Florianópolis este Comitê foi formado em Março de 2001, sendo este o primeiro evento a ser realizado em Santa Catarina.