Arte sem Barreiras em exposição

Pintura - Marcelo da Cunha
O evento faz parte do 1º Encontro Catarinense de Arte Sem Barreiras que acontecerá em Florianópolis em meados deste mês.
Abrem nesta semana em Florianópolis, dias 1º e 3 de setembro, quatro
exposições de artes plásticas que mostram o talento de artistas com
necessidades especiais, ou deficientes físicos, como se referem alguns.
Serão trabalhos em cerâmica, da artista Jussara Maria da Silva, de
Florianópolis; pinturas, de Marcelo Cunha, do Rio de Janeiro; cartuns, de Ricardo Ferraz, de Cachoeiro do Itapemirim-ES; e fotografias, de Evgen Bavcar, de Paris/França.
A exposição de fotos abrirá na sexta-feira, dia 3, na Galeria do MIS-Museu da Imagem e do Som de Santa Catarina, e as demais, no dia 1º, quarta-feira, no Hall do MIS e no Espaço Oficinas de Arte, todos
localizados no prédio do CIC-Centro Integrado de Cultura, na capital. A exposição está aberta ao público até 19 de setembro.
As cerâmicas de Jussara Maria da Silva, 46 anos, apresentam figuras de mulher, em momentos sozinhas ou com seus bebês. A artista incorpora outros materiais às peças, como pequenos travesseiros ou cueiros (fraldas), em tecido de juta alvejada. São cerca de cinco peças, com tamanho médio de 30cm, que mostram o trabalho dessa artista, natural de Campo Bom-RS, há anos morando em Florianópolis. Jussara é formada em Artes Plásticas pela FUCRI, de Criciúma. Há nove anos ficou cega devido a um fungo que se instalou no nervo ótico, no cérebro. Desde então precisou aprender a enxergar com as mãos. Sobre a exposição a artista diz que: “Abordo nela o movimento e a
expressividade, que poderão ser explorados através do toque, das emoções, sentimentos, vibrações e até mesmo a imaginação. Pois, acredito que o toque é um dos sentidos mais próximo da visão, ele nos possibilita fazer viagens maravilhosas através do tempo, instigando a nossa imaginação”. Jussara participou da criação do Comitê do Programa Arte Sem Barreiras de Florianópolis, onde atua como colaboradora desde 2001.
As pinturas de Marcelo Cunha, 34 anos, são realizadas segurando o pincel com a boca, pois o artista está tetraplégico desde 1991, devido a um acidente de mergulho. Autodidata, já participou de exposições individuais e coletivas em várias cidades como São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, e até no Chile.
Faz parte de uma associação de pintores de pé e boca, sediada na Suíça, presente em mais de 60 países, que tem contribuído
para o crescimento profissional dos artistas. Ano passado Marcelo lançou o seu livro “Renascido da Dor” e com muita coragem e alegria fala da sua atuação nos últimos cinco anos: “Através da minha participação em palestras, tive o privilégio de dividir meu otimismo com mais de 15 mil pessoas”.

Cerâmica de Jussara Maria da Silva
Os cartuns do capixaba Ricardo Ferraz, 52 anos, são desenhos temáticos em que aborda a vida cotidiana dos portadores de deficiência, provocando de maneira bem humorada a reflexão da sociedade sobre temas como sexualidade, moradia, trabalho, cidadania, envolvendo a problemática das necessidades especiais, seus portadores e suas relações com a comunidade. Trabalhos que o artista vem realizando há 23 anos têm sido publicados em jornais e revistas especializadas e mostrados em dezenas de exposições itinerantes
pelo País. Vencedor de um concurso nacional promovido pela Rede Globo, uma vinheta de sua autoria foi veiculada pela emissora. Com poliomelite desde os cinco anos de idade, o artista encontrou nos desenhos uma fonte de terapia, pois ficava isolado num quarto longe das crianças da sua idade. Fundador da Associação Capixaba de Pessoas com Deficiência, seu desfio é desmistificar preconceitos e lutar pelos direitos humanos: “Minha intenção é utilizar a arte como bandeira, um canal de comunicação, para sensibilizar as pessoas e
denunciar barreiras a que estão sujeitos os portadores de eficiência” diz o cartunista, que em 2000 lançou um livro de cartuns durante o XIX Congresso Mundial de Reabilitação Internacional e que acredita que os questionamentos da exposição possam trazer sugestões para novas soluções.
As fotos de Evgen Bavcar, nascido na atual Eslovênia, ex-Iugoslávia, em 1946, fazem parte de uma exposição itinerante de fotos de nus e de cidades históricas de Minas Gerais, que o artista produziu quando esteve no Encontro Internacional do Arte Sem Barreiras, em Belo Horizonte, em 2002. Bavcar é Doutor em História, em Filosofia e em Estética, além de fotógrafo e cineasta, Bavcar vive em Paris, e é um erudito, com simplicidade e bom-humor. Poliglota, fala esloveno, servo-croata, inglês, alemão, francês, italiano e espanhol. Bavcar perdeu a visão do olho esquerdo aos 10 anos, após ter sido perfurado por um galho de árvore. Um ano depois, Evgen brincava com um detonador de minas quando uma explosão atingiu seu olho
esquerdo. Os acidentes fizeram com que Bavcar descobrisse a realidade do “terceiro olho”. Esta exposição, com cerca de duas dezenas de fotos em preto e branco, abrirá ao público na sexta-feira, dia 3, no MIS.
Estas quatro exposições fazem parte do 1º Encontro Catarinense de Arte Sem Barreiras, com o tema Arte: Formação e Profissionalização, evento que acontecerá em Florianópolis de 16 a 18 de setembro, com apresentações artísticas, palestras, simpósios, cursos e oficinas. A participação é aberta ao público que poderá obter maiores informações sobre as inscrições, que já estão abertas, através dos telefones (48) 331-9369 – 334-2453 ou 9136-1422 e pelo e-mail artesembarreiras@ced.ufsc.br ou pelo site
www.ced.ufsc.br/artesembarreiras.htm
Esse Encontro é uma promoção da Very Special Arts/SC – Programa Arte sem Barreiras, de Florianópolis, e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), através do Núcleo de Investigação do Desenvolvimento Humano (NUCLEIND), do Centro de Ciências da Educação (CED), do Departamento Artístico Cultural (DAC/Pró-Reitoria de Cultura e Extensão)com patrocínio da FUNARTE/Centro de Programas Integrados, e apoio do Governo do Estado de Santa Catarina, Prefeitura Municipal de Florianópolis, BESC, Eletrosul, CAPES e PROESP.
Fonte: DAC – Departamento Artístico Cultural da UFSC, com entrevistas e consulta a material de apoio
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SOBRE O ARTE SEM BARREIRAS
O Programa Very Special Arts Internacional foi criado em 1974 por
iniciativa de Jean Kennedy Smith, irmã do presidente John F. Kennedy,
com o objetivo de difundir e integrar à sociedade, através da expressão artística, portadores de deficiência. Hoje ele se faz presente em 86 países nos cinco continentes.
Há dez anos, em 1990, o VSA do Brasil foi o 53º país a se integrar ao
programa num contexto nacional de extrema rejeição, incompreensão e
ausência de sensibilidade para as questões da pessoa portadora de
deficiência.
Posteriormente incorporado às atividades da Fundação Nacional de
Arte/Funarte, do Ministério da Cultura, com o nome de Programa Arte Sem Barreiras, passou a atuar nacionalmente na formação, promoção e
integração sócio-cultural, através de comitês regionais e municipais,
que hoje somam 31, abrangendo capitais e cidades do interior do país,
coordenados por equipes de voluntários, com idéias e propostas afins.
Foi com o apoio desses comitês, e de dezenas de entidades públicas e
privadas, que realizamos, nesse primeiro período de 10 anos, cinco
Festivais Nacionais de Arte Sem Barreiras e quatro Congressos Nacionais de Arte-Educação, além de centenas de eventos regionais de artes integradas e participações em festivais internacionais, sempre
enfatizando e priorizando a necessidade da inclusão pela Arte.
Através dessas atividades buscamos sensibilizar e superar preconceitos, ampliando o entendimento e o conceito da sociedade sobre o deficiente.
Em Florianópolis este Comitê foi formado em Março de 2001, sendo
este o primeiro evento a ser realizado em Santa Catarina.