UFSC inova na suinocultura catarinense

21/06/2004 10:14

Um projeto coordenado pelo Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC(ENS) está transformando a propriedade Vilibaldo Michels, em Braço do Norte, num modelo inovador de preservação ambiental para um resíduo altamente poluente: o dejeto suíno. Os dejetos, depois de tratados, transformam-se em energia elétrica, fertilizante, ração para peixes. Outra inovação é o reuso das águas das lagoas de estabilização para lavar os chiqueirões, cuja geração de efluentes líquidos poluidores é zero. São ações viáveis do sistema de manejo, tratamento e valorização de dejetos suínos que a UFSC inaugura, dia 22 de junho (terça-feira), na propriedade.

O trabalho começou há dois anos a partir do projeto “Validação de tecnologias e metodologias para o manejo, tratamento e valorização dos dejetos suínos em Santa Catarina”, alimentado com recursos do Ministério de Ciência e Tecnologia através da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Fundação de Ciência e Tecnologia

(Funcitec).

Estudos da UFSC indicam uma produção anual de 18 milhões de metros cúbicos de dejetos suínos em Santa Catarina, que tem um rebanho de 5,5 milhões de cabeças. No estado mais dinâmico do país na suinocultura, apenas 15% dos dejetos têm destino adequado. A outra parcela é lançada diretamente em rios, riachos e lagos ou

utilizada em excesso no solo, poluindo.

“Este sistema de Braço do Norte é um trabalho 100% de produção intelectual da UFSC”, faz questão de dizer Paulo Belli, coordenador do projeto. Tanto biodigestores quanto lagoas de estabilização, por exemplo, foram criados pelos pesquisadores, que estão registrando a propriedade intelectual das inovações, fruto de 15 anos de

pesquisa. “Estamos colaborando com a suinocultura, entendendo a situação dos produtores”, considera Belli, ao

falar sobre a realidade que está fora dos laboratórios e não pode ser desprezada pelos pesquisadores. “Só a tecnologia não basta para resolver os problemas”, posiciona-se. A sustentabilidade, ensina o professor, é fruto da integração de paradigmas como a educação ambiental, o fortalecimento de instituições de pesquisas e de controle

do meio ambiente. “Além disso, criar programas e políticas para organizar essa atividade é o que falta para o setor”, avalia.

Até 70% dos dejetos suínos da propriedade de Vilibaldo Michels são inicialmente colocados nos biodigestores e depois em lagoas de estabilização. São dois processos de tratamento que permitem uma valorização dos dejetos: os biodigestores podem produzir energia elétrica, a ser aproveitada na própria fazenda ou integrada à rede

pública. O efluente das lagoas pode ter destino mais nobres do que ser simplesmente aplicados no solo. Após processos específicos, vira fertilizante para plantações ou mesmo ração para peixes. A água das lagoas, depois de filtrada, pode ser usada nos chiqueirões. “Temos um consumo muito grande de água nas propriedades com suinocultura”, observa Paulo Bell, para quem essa proposta valoriza a água, num horizonte pessimista com taxações sobre o uso desse valioso produto

O sistema agora inaugurado em Braço do Norte tem mais um diferencial: pode servir a uma única propriedade ou ser também compartilhado sob a forma de consórcio com produtores vizinhos, em uma bacia hidrográfica,

integrando as tecnologias para a preservação ambiental.

Por Gutieres Baron/bolsista de jornalismo da Agecom

Informações: professor Paulo Belli, telefone 331 7741 ou belli@ens.ufsc.br

Conheça mais sobre o Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental: www.ens.ufsc.br