Grupo GRK3 mostra arte em Linha de Desmontagem na Galeria da UFSC

15/04/2004 16:30

Foi aberta, nesta terça-feira, dia 13 de abril, às 20 horas, na Galeria de Arte da UFSC, a exposição Linha de Desmontagem, com o Grupo GRK3, composto por Albertina Prates, Camila Barbosa (Luciana Knabben),Denise Franco, Diego de Los Campos, Giló (Ângela Cristina Silvatti), Kellyn Batistela, Marcelino Donizeth,Nani Eskelsen e Tânia Maria Ramires.

A exposição poderá ser vista de terça a sexta-feira, das 10 às 18h30,

até o dia 7 de maio.

Os trabalhos dos nove artistas que integram a mostra são objetos e instalações, em que utilizam diferentes técnicas e os mais diversos materiais, como cerâmica, tecido, flores e até sêmen humano, dentre outros, tudo para mostrar uma parte do corpo humano que cada um deles escolheu para trabalhar e provocar as mais diferentes reflexões.

Segundo os artistas, “Linha de Desmontagem” tematiza a idéia do “desmonte” do Homem com seu complexo sistema subjetivo, que se refrata à medida que é testado. O desmonte não é apenas a parte fracionada do todo, mas a ação do re-arranjo das diversas partes desmembradas. Este novo arranjo pode se dar pela subtração ou adição como também pela justaposição e pelo acúmulo.

A exposição Linha de Desmontagem é de cunho coletivo, porém com pesquisas artísticas individuais. Os artistas em seus discursos focalizam o homem contemporâneo, analisando o indivíduo em suas contradições com o meio.

Sobre algumas obras expostas:

A obra “Buraco do Meio do Mundo” de Tânia Maria Ramires é um trabalho composto por uma instalação em cerâmica com 300 peças de 11.0 x 6,5 x 2cm e duas imagens em ploter de 60 x 60 cm. Como diz a artista,

“As imagens em ploter vem complementar o trabalho já que mostra um órgão do corpo humano mostrando exatamente o buraco que temos e o que somos”.

Albertina Prates expõe “Hablahombrehablahombrehablahombre” que é uma instalação de parede com bolas de 30 cm de diâmetro, formadas por línguas de tecido. A artista vem trabalhando há dois anos com esta parte do corpo humano e diz que “a língua é um órgão que as pessoas não gostam muito de mostrar e que para mim tem um aspecto mais visceral do que sensual”.

Nani Eskelsen, ao falar do seu trabalho, anuncia: “Eu vou menstruar no campus!” Sua obra, intitulada “Ciclos” será uma instalação que irá se modificando durante o período da exposição. Na primeira fase, a obra terá um rastro com grandes manchas de sangue de menstruação (feito de anilina não tóxica) com poças desde a rua, nos arredores da galeria, até a obra na parede, que será um “tampax” (absorvente íntimo) manchado de sangue, fixado na parede na altura do útero da artista, como se ela própria fosse a parede. Nos vários dias

seguintes a obra irá se transformando, passando dessa fase da menstruação até a ovulação, quando outros materiais serão incorporados à obra, como a flor maria-sem-vergonha e uma semente com a palavra “vida”. “A minha obra é grande do lado de fora da galeria, mas pequena no seu interior: é uma obra minimalista.

Para mim a menstruação é um sentimento de perda, para outras pessoas, não. Quero provocar reflexões das mulheres sobre o conhecimento do seu corpo”, argumenta.

Kellyn Batistela apresenta o objeto “Livro de Artista”, inspirado no livro “Odisséia”, de Homero, para contar as aventuras eróticas de Ulisses. Para confeccionar as páginas do seu livro, a artista utiliza recortes de bordados do enxoval das mulheres da sua família, como a avó, mãe, tias e dela própria, aplicados sobre papel de arroz, onde são desenhados pênis, tudo tingido de preto, simbolizado luto, e coberto por uma camada de sêmen humano. O luto representa alguns fatos, como o roubo de outro livro da artista, no ano

passado, e também a traição das mulheres que trazem o gozo dos seus parceiros para a artista confeccionar o seu trabalho, além da própria traição da artista que convence essas mulheres a trazerem esses gozos sem saberem para que serão usados.

SOBRE O GRUPO GRK3:

A formação do grupo aconteceu após o encontro dos artistas num curso de pós-graduação em artes visuais contemporâneas na UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarinas. O bom humor fez com que os

integrantes utilizassem o nome GRK3 para definir o grupo. Encontrado numa revista de mapeamento genético, essa sigla adotada pelos artistas é o nome do gen que determina o humor nas pessoas.

O grupo nasceu para trabalhos coletivos e trocas de idéias e reflexões sobre a arte contemporânea. O primeiro trabalho foi apresentado em 2003 no Salão dos Novos de Joinville: uma instalação em que o visitante sentava numa poltrona enquanto assisti a notícias trágicas num aparelho de TV. Um mecanismo com penas fazia cócegas nos pés do visitante para anestesiá-los dessas más notícias. Depois foi a vez da Feira de Órgãos, em que os artistas saíram às ruas da capital, vestidos de açougueiros, vendendo órgãos como se fossem partes do corpo humano. Na faculdade Estácio de Sá, em São José, o grupo apresentou Livros de Artista.

O professor de artes visuais da UDESC, Antônio Vargas, assim fala sobre o grupo: “[…] o GRK3 não possui unidade; só fragmento, só pedaços, só partes. E não poderia ser de outra forma uma vez que são filhos rebelados do pensamento científico, do saber acadêmico. São artistas que não desejam enxergar frangalhos ou aprender apenas através de análises parciais, porque como todo artista, falam do ser humano e se negam a vê-lo partido, reduzido a um pedaço de carne. […] É por estas razões que os artistas do GRK3 não possuem unidade que não seja o pedaço e o fragmento. Porque talvez a soma do pedaço de cada um permita a todos – a eles e a nós – visualizarmos uma imagem do ser humano hoje.”

Esta exposição na Galeria de Arte da UFSC é uma realização do DAC – Departamento Artístico Cultural, ligado à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da UFSC.

De 14 de abril a 7 de maio, de 2ª a 6ª das 10 às 18h30, na Galeria de Arte da UFSC – prédio do Centro de Convivência

CONTATO: Galeria: (48) 331-9683

Fonte: Departamento Artístico Cultural/PRCE

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