Professor da UFSC ajudou na validação da teoria de cristalização das estrelas

11/03/2004 15:55

O astrônomo e professor da UFSC Antônio Kanaan integrou a equipe dos pesquisadores que confirmou a existência do maior diamante já encontrado no universo.

Usando medidas de pulsações em estrelas (movimentos periódicos como terremotos constantes), os pesquisadores confirmaram, pela primeira vez, as previsões de uma teoria apresentada na década de 60 por astrônomos americanos e russos. Segundo essa teoria, o interior de estrelas anãs brancas cristaliza-se quando estas atingem temperaturas suficientemente baixas. A confirmação da teoria é o desfecho de um longo trabalho que envolveu nos últimos 10 anos mais de 50 pesquisadores do mundo inteiro.

Kanaan trabalhou na validação da teoria com os astrônomos Travis Metcalf, da Universidade Harvard,(EUA) e Michael Montgomery, de Cambridge(Inglaterra).

De acordo com Kanaan e seus companheiros de trabalho, o núcleo da estrela BPM 37093, na constelação de Centaurus, a 17 anos-luz (40 quatrilhões de quilômetros) da Terra, é essencialmente, um diamante gigantesco, de 10 bilhões de trilhões de trilhões de quilates. Essa estrela, do tipo anã branca, tem o tamanho da Terra e a massa do Sol – um cubo de um centímetro feito com material desta estrela, por exemplo, pesaria uma tonelada. De acordo com pesquisadores, o núcleo de carbono cristalizado não é exatamente um diamante, mas é algo muito próximo disso.

Em 1991, Kanaan e os astrônomos brasileiros Kepler de Oliveira Filho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Odilon Giovannini, professor da Universidade de Caxias do Sul, descobriram que a estrela era pulsante, ou seja, o seu brilho aumenta e diminui em intervalos regulares. “Depois, a gente se deu conta de que ela, além de ser pulsante, podia ser uma estrela cristalizada”, conta o professor. O gigantesco diamante é a forma final que uma estrela como o sol adquire após passar por um longo ciclo evolutivo. O carbono formado pelas reações nucleares do astro acumulou-se em sua região central. Compactado por uma pressão gigantesca, o material organizou-se em rede cristalina dando origem ao diamante.

As anãs brancas são as estrelas mais antigas, por isso os estudos sobre sua evolução podem fornecer dados muito importantes para determinação da idade das galáxias. Da mesma forma que a propagação de terremotos pelo interior da Terra nos traz informação sobre o interior da Terra o estudo das pulsações nas estrelas permite que os astrônomos estudem o interior das estrelas. “Em ambas

situações não há outra maneira de extrairmos informações sobre o interior, nem da Terra nem das estrelas”, explica Kanaan.

No caso das estrelas a informação é muito mais escassa. Ao invés de uma rede de sismógrafos como temos na Terra, tudo que os astrônomos dispõem é de medidas do brilho total das estrelas. Nem o telescópio mais potente apontado para a estrela mais próxima revela mais do que um simples ponto luminoso. A variação do brilho ocorre mais ou menos num período de dez minutos, e é de menos de 1%. Esta variação de brilho é atribuída aos “terremotos” estelares, e o estudo da propagação das ondas no interior das estrelas permite que se chegue a conclusões sobre sua constituição interna. Foi assim que Kanaan e seus colaboradores concluíram que 90% do núcleo da estrela BPM37093 deve estar cristalizado.

O astro é realmente uma jóia de valor incalculável. Mas, apesar de já ter resfriado muito, a estrela ainda é mais quente do que a superfície do Sol e sua extraordinária força gravitacional esmagariam qualquer objeto que se aproximasse demais dela.

Mais informações na UFSC com o professor

Antônio Kanaan,

fone (48) 331 9234

e-mail: kanaan@astro.ufsc.br

Por Gutieres Baron/ bolsista de jornalismo da Agecom