Engenheiro desenvolve sistema para monitorar profundidade anestésica

13/01/2004 13:58

A aplicação de anestésicos durante a cirurgia depende muito da experiência do anestesista, uma vez que, atualmente, não há um sistema que determine de forma automática se a quantidade de droga administrada foi satisfatória para deixar o paciente sedado e sem dor. Esse quadro pode mudar com as pesquisas realizadas no doutorado do engenheiro Maurício Campelo Tavares, que construiu um sistema que capta sinais elétricos do coração e do cérebro durante esse processo. Tavares criou um banco de dados dos sinais e desenvolveu uma técnica de processamento que permite determinar se a profundidade anestésica é adequada. Mas ainda há necessidade de aprimoramento para desenvolver um aparelho comercial.

A anestesia consiste na aplicação de drogas que inibem a função nervosa central, deixando o paciente inconsciente durante um determinado tempo. Mas ainda não há um equipamento que forneça informações completas e confiáveis sobre o sistema nervoso durante esse processo. A quantidade de medicamento aplicado acaba dependendo da experiência do profissional e das informações fornecidas pelo fabricante do anestésico. Os aparelhos mais utilizados no ato cirúrgico são o eletrocardiógrafo, o oxímetro e os medidores da pressão arterial.

Há dificuldade na determinação da dose mais adequada pois parâmetros como peso e idade do paciente, por exemplo, usados pelos anestesistas, nem sempre são seguros. São conhecidos casos de pessoas que receberam menos anestesia que o necessário e, ainda que não conseguissem se mexer, abrir os olhos e falar devido à ação do relaxante muscular, ouviam e sentiam dor. A maioria dos pacientes que tiveram essa experiência apresentou traumas psicológicos no período pós-operatório.

Outra complicação é quando a pessoa recebe uma dose maior e, em virtude disso, demora para acordar. Isso traz problemas tanto para o doente, pois atrasa a sua recuperação, quanto para o sistema de saúde, porque a internação é mais demorada. Com um equipamento que indique a profundidade anestésica adequada, o risco dessas ocorrências diminui potencialmente.

Pesquisa

O primeiro passo para determinar a profundidade anestésica foi criar um banco de dados com sinais bioelétricos de pacientes durante cirurgias. Os sinais captados (coração e cérebro) receberam tratamento matemático para obter-se índices passíveis de fácil interpretação pelo anestesista. Através do sinal cardíaco, é possível detectar se a pessoa está sentindo dor e, através do sinal do cérebro, se ela está com nível de hipnose adequado.

Um equipamento com finalidade semelhante ao desenvolvido por Tavares, denominado BIS, já foi lançado no mercado. Esse sistema, no entanto, capta apenas o sinal cerebral, o que diminui a margem de análise para verificar a profundidade anestésica. Outra diferença é que o BIS monitora o sinal gerado espontaneamente pelo sistema nervoso. No sistema de Tavares, o sinal captado é provocado por um estímulo sonoro, repetido periodicamente durante todo o procedimento cirúrgico.

A meta é construir um equipamento eletrônico que indique o grau de consciência, usando uma escala numérica de zero a um. O sistema também mostrará um gráfico do efeito da droga no decorrer da cirurgia para que o anestesista acompanhe todo processo, tendo mais segurança para aplicar as drogas anestésicas.

Além de monitorar a anestesia, o aparelho poderá ter outras aplicações. Uma delas é avaliar se o paciente está sofrendo algum dano neurológico em decorrência da manipulação cirúrgica. Um exemplo é a cirurgia para retirada de tumor no sistema auditivo, em que o doente corre o risco de ficar surdo, caso haja problema. “Com algumas alterações no sistema, poderemos fazer isso. O médico retira o tumor e o sistema acompanha o sistema auditivo. Se o médico acidentalmente avançar sobre alguma estrutura que está saudável, o equipamento irá detectar”, informa Tavares.

Há ainda necessidade de melhorias e desenvolvimento de alguns dispositivos. Foram feitos testes em sete pacientes, que indicaram o bom desempenho do sistema, mas serão realizados outros experimentos para obter resultados mais precisos. Apesar de ter concluído o doutorado, Tavares irá continuar a pesquisa viabilizando a construção de um equipamento comercial. O financiamento para a continuidade do trabalho já foi assegurado pela Secretaria de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul e está ocorrendo negociação para agregar uma grande empresa nacional ao projeto. Esse trabalho de doutorado foi orientado pelo professor Fernando Mendes de Azevedo, da área de Informática Médica do Instituto de Engenharia Biomédica da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

Informações com Maurício Campelo Tavares, e-mail:heraldica@terra.com.br

Fonte: Notícias IEB-UFSC

www.gpeb.ufsc.br/revista/noticias.htm