Dissertação ajuda a gerenciar resíduos sólidos dos serviços de saúde

Foto: MIC
Hospitais e clínicas produzem lixo que pode estar infectado ou contaminado. Podem, ainda, gerar resíduos com riscos químicos e rejeitos radioativos. Além disso, produzem uma enorme quantidade de materiais comuns, que acabam sendo dispostos como resíduos infectantes. Na realidade, no máximo 20% do lixo que geram é patogênico, ou seja, pode causar doenças. Porém, a segregação do que é infectante daquilo que pode até ser reciclado, como recipientes de soro e algumas embalagens de medicamentos, não é uma constante. Saiba mais sobre os tipos de resíduos hospitalares
“Quando não há segregação, tudo acaba contaminado e seguindo para os aterros sanitários, o que representa um custo financeiro e ambiental desnecessário”, assegura Vera Luci de Almeida. Ela obteve o título de mestre em Engenharia de Produção da UFSC com o trabalho entitulado “DAES – Modelo para diagnóstico ambiental em estabelecimentos de saúde”.
Graduada em administração e especialista em administração de recursos humanos pela UnoChapecó, no Oeste catarinense, Vera, através de seu trabalho, contribui de maneira expressiva para a melhoria do gerenciamento ambiental, principalmente em hospitais. Tais estabelecimentos necessitam identificar seus procedimentos mais críticos a fim de traçar um plano de gerenciamento de RSS (Resíduos de Serviços de Saúde) em conformidade com a legislação brasileira vigente. O governo federal tenta conduzir um plano de gerenciamento de resíduos em clínicas, hospitais e laboratórios.
Nesse sentido, baseado na legislação vigente, o DAES, segundo a nova mestre, é uma ferramenta bastante prática e confiável. “O modelo permite identificar os pontos mais críticos no gerenciamento de RSS. Assim, é possível analisar os procedimentos potencialmente causadores de impactos ambientais. Isso acaba sensibilizando a administração hospitalar a melhorar o gerenciamento ambiental, podendo levar o estabelecimento à sustentabilidade e à excelência ambiental”, aposta.
Para respaldar o diagnóstico, ela aplicou um questionário com 51 perguntas a 26 hospitais de Santa Catarina vinculados ao SUS (Sistema Único de Saúde) e pertencentes a 14 das 18 regionais de saúde do Estado. Os hospitais incluídos na amostra efetivada entre outubro de 2002 e fevereiro de 2003 equivalem a 12% do total de instituições do gênero e são geradores de resíduos do grupo A. Ou seja, geram resíduos potencialmente infectantes e, como tal, podem causar impactos negativos ao meio ambiente. Só participaram do estudo os que possuem mais de 20 leitos, exceção feita àqueles com um mínimo de cinco e o máximo de 19 com especialidades como cardiologia, oftalmologia, psiquiatria e tratamento da Aids ou UTI.
Conforme o DAES, o gerenciamento ambiental dos estabelecimentos de saúde, assim como os critérios de gerenciamento dos RSS, foram classificados em crítico, péssimo, adequado, bom e excelente. Com base nas respostas fornecidas, 27% dos estabelecimentos pesquisados foram classificados como péssimos quanto ao gerenciamento de resíduos. Significa que apresentavam falhas em biossegurança, em segurança e saúde do trabalhador e no manejo dos RSS. Já em 42% deles o gerenciamento foi considerado adequado, e bom em 31%.
Em relação às falhas relacionadas à biossegurança, 72% dos hospitais pesquisados não possuem, por exemplo, um plano de emergência em caso de acidentes com substâncias perigosas. E em somente 46% deles existe um programa de prevenção de riscos ambientais. No que diz respeito à segurança e saúde do trabalhador, um dos subcritérios da pesquisa, Vera identificou que 44% dos estabelecimentos já registraram acidentes referentes ao manejo dos RSS e somente 46% deles realizam treinamentos periódicos para a atividade de manejo de RSS. Detectou-se ainda, no subcritério de sistema de gestão, que 72% dos estabelecimentos não possuem um PGRSS (Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde) e 77% deles sequer possuem uma equipe responsável pelas questões ambientais.
Os números também surpreendem no que se refere ao manejo dos RSS, que vai desde a segregação até a disposição final. Mais da metade dos hospitais – 52% – não utilizam os símbolos exigidos pela legislação nos coletores internos, recipientes e locais de armazenamento. Por outro lado, 92% não cumprem a resolução 285 do Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente) que determina o uso de cores distintas e expressões para a identificação dos resíduos comuns gerados pelo estabelecimento.
Fonte: Núcleo de Mídia Científica
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