Projeto `Papo Sobre Cência` aborda o tema Radicais Livres

05/12/2003 16:26

Mais de 200 doenças humanas estão diretamente relacionadas, como causa ou conseqüência, com os chamados Radicais Livres de Oxigênio (para aqueles que estudam o assunto, substâncias representadas pela sigla RLO). Os Radicais Livres são moléculas transitórias que buscam estabilidade em outras moléculas, átomos ou compostos íntegros do corpo humano. Alteram estruturas do organismo e as convertem em outro radical livre. Por sua atuação sobre o corpo humano, os RLO estão relacionados a várias doenças, principalmente as cardiovasculares, neurodegenerativas e ao envelhecimento.

O professor Danilo Wilhelm Filho, do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC, que estuda estas substâncias, é o convidado de mais um encontro do projeto ‘Papo Sobre Ciência’. Promovido pela Agência de Comunicação e Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da UFSC, o encontro acontece na terça-feira, 9/12, às 9h, no Auditório do Departamento de Engenharia Mecânica (BlocoA, térreo).

A produção de Radicais Livres está relacionada ao próprio metabolismo do corpo e à utilização do oxigênio, explica o professor. A respiração é a sua principal fonte, mas o processo natural de produção de RLO é acelerado pela poluição, exposição à radiação, atividade física extenuante, consumo de fármacos, má alimentação e doenças. Uma curiosidade sobre o assunto, relacionada com a chegada do verão, é que a malhação preparatória para o ´período de praias´ é prejudicial ao organismo. Assim como acontece com os atletas profissionais, o excesso de atividade física concentrada num período curto de tempo, provoca um grande desgaste. “O número de RLO aumenta muito e, quando a alimentação (e/ou suplementação antioxidante) não é adequada para atender às necessidades extras do organismo, o dano se acentua e acumula, e o envelhecimento fica acelerado”, ensina o professor.

Para se ter uma idéia da quantidade de radicais livres produzidos diariamente, cada célula transforma cerca de 2% do oxigênio consumido nestas substâncias. Considerando que cada célula consome cerca de 1 trilhão de moléculas de oxigênio por dia, isso equivale a uma média de 20 bilhões de RLO por dia para cada célula.

ALIMENTAÇÃO

Os estudos neste campo mostram que o modelo de alimentação pode ser fundamental para controle da produção de radicais livres. Isso porque algumas vitaminas atuam como antioxidantes, podendo doar aos RLO a carga elétrica (elétrons) que está faltando. Outras substâncias muito importantes no combate aos RLO são os flavonóides, encontrados em grandes quantidades nos sucos de uva, vinhos tintos, chás e diversos vegetais. Por isso aquela antiga recomendação médica do consumo de uma ou duas taças de vinho todos os dias, mesmo se desconhecendo àquela época a ação antioxidante deste flavonóides. Diante da alimentação moderna, muitas vezes inapropriada e deficiente em alguns componentes, há casos em que é indicada a suplementação das vitaminas C e E. Potentes antioxidantes, são usadas em tratamentos de beleza. Embora pareçam grandes vilões, os RLO são fortes aliados do organismo quando este é atingido por infecções. Eles são utilizados pelo sistema imunológico num verdadeiro bombardeamento de RLO contra bactérias e corpos estranhos.

PESQUISA

O interesse pelo estudo dos radicais livres é relativamente recente. Apesar de estarem presentes em grande quantidade, sua observação era difícil, pois sua meia-vida é muito curta e modificam-se rapidamente. O primeiro estudo sobre as conseqüências clínicas e biológicas dos RLO foi escrito em 1954, pela pesquisadora argentina Rebecca Gershman, várias vezes nominada para o Nobel de Medicina. A pesquisa alertava para a produção de RLO durante o metabolismo e sua toxicidade, o que até então era descartado.

Somente em 1969 os pesquisadores Irwin Fridovich e Joe McCord, relacionaram os RLO à existência de uma enzima abundante em todas células aeróbicas, a Superóxido dismutase (SOD), e descobriram que ela atuava como um antioxidante. Na década seguinte, vários pesquisadores perceberam que a SOD, assim como os RLO, são encontrados em todas células aeróbias. Isto foi decisivo para despertar o interesse científico nesta área, pois ficou demonstrada a importância biológica dos RLO e dos antioxidantes. A partir da década de 70 o número de pesquisas nessa área cresceu exponencialmente. Hoje são desenvolvidos em todo mundo cerca de 50 mil novos estudos a cada ano. Uma média de 137 produções por dia! A maioria voltada para a investigação e o tratamento antioxidante das enfermidades causadas pelos RLO.

PROJETOS

O professor Danilo Wilhelm Filho, do Departamento de Ecologia e Zoologia/UFSC, está envolvido em uma série de projetos que trabalham com os Radicais Livres. Um deles utiliza animais como peixes, berbigão e mariscos, para diagnosticar a poluição do ambiente, através de testes que revelam a quantidade de antioxidantes e RLO existentes nesses animais. São os chamados biomarcadores de estresse oxidativo, muito empregados no diagnóstico e monitoramento ambientais de áreas poluídas.

Outro estudo é realizado com pacientes que sofrem do mal de Chagas. O objetivo é estudar as defesas antioxidantes durante o tratamento, visto que todo processo inflamatório aumenta a produção de RLO e os medicamentos específicos para esta doença também contribuem para isso. Um terceiro projeto pesquisa os efeitos do tratamento com pó de tomate e extrato de goiaba, que são antioxidantes naturais, em animais obesos, uma vez que a obesidade favorece a produção de RLO. Há ainda projetos que incluem estudos com a prática esportiva (jogadores de futebol e ciclismo), o efeito de fármacos no estresse oxidativo, ação antioxidante de estratos e componentes de plantas medicinais (fitoterápicos), estudo sobre processos de envelhecimento em animais (gambás) e estudos vinculados à aqüicultura (piscicultura e miticultura).

JORNALISMO CIENTÍFICO

O projeto `Papo Sobre Ciência` vem sendo desenvolvido com o objetivo de estimular a produção de matérias na área de Jornalismo Científico pela mídia em geral. A estratégia empregada para aproximação de jornalistas e pesquisadores é a promoção de encontros periódicos, em que são tratados temas de destaque do desenvolvimento científico e tecnológico. Durante o `Papo`, o pesquisador tem um tempo para apresentação do assunto e os participantes podem colocar seus questionamentos, dúvidas, curiosidades. O projeto é especialmente dirigido a jornalistas, mas os encontros são abertos a outros interessados. No ano passado foram realizados seis encontros, sendo abordados os temas Biotecnologia/Genoma, Inteligência Artificial, Astrofísica, Fitoterápicos, Populações Indígenas e Biodiversidade/Peixes de Água Doce.

Este ano a temática do encontro é `Ciência e Saúde`.

Mais informações sobre o projeto Papo Sobre Ciência com Áureo Moraes ou Arley Reis, fone 48 331 9323

Contato com professor Danilo no telefone 48 331-6917, e-mail: dawifi@ccb.ufsc.br

Saiba Mais sobre o projeto Papo Sobre Ciência no site: www.papociencia.ufsc.br