UFSC leva para o Brasiltec 2003 materiais e componentes de construção produzidos com adição de cinzas de termoelétricas

29/07/2003 15:28

Testes mostram que os blocos com cinzas têm boa durabilidade

Testes mostram que os blocos com cinzas têm boa durabilidade

O Laboratório de Valorização de Resíduos na Construção, ligado ao Departamento de Engenharia Civil, do Centro Tecnológico da UFSC, apresenta no Brasiltec 2003 blocos pré-moldados, argamassas e uma escada de concreto produzida com a adição de cinzas de termoelétricas. Os mesmos materiais que estão sendo demonstrados no Salão de Inovação promovido pelo Ministério de Ciência e Tecnologia e FINEP estão também sendo usados pela universidade em um protótipo da habitação sustentável, que está sendo construído no campus universitário. O protótipo demonstra outras soluções sustentáveis, como instalações elétricas otimizadas, de baixo consumo de energia; painéis fotovoltaicos e sistema de aproveitamento da água de chuva.

Os recursos para os estudos e testes com as cinzas contam com o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Programa de Tecnologia de Habitação do Ministério de Ciência e Tecnologia (Habitare/MCT). O grupo de pesquisadores é formado por estudantes de pós-graduação que trabalharam com bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e também conta com financiamento da empresa Tractbell Energia.

O Laboratório de Valorização de Resíduos na Construção trabalha com a pesquisa e valorização de uma série de resíduos, mas alguns dos melhores resultados vêm sendo obtidos com as cinzas pesadas de termoelétricas. As pesquisas comprovam o potencial desse resíduo como matéria-prima para a construção, tanto pelo desempenho mecânico apresentado pelos componentes fabricados, quanto pela disponibilidade desse resíduo. No Brasil, estima-se uma disponibilidade de 3 milhões de toneladas/ano de cinzas, composta de 65% a 85% de cinzas volantes e 15% a 35% de cinzas pesadas. A média anual de produção de cinzas de carvão, nas termoelétricas catarinenses, está em torno de 850 mil toneladas.

“Os testes mostram que componentes produzidos com a adição de cinzas não deixam nada a dever e às vezes têm até melhor durabilidade do que os convencionais”, avalia a professora Janaíde Cavalcante Rocha, coordenadora das pesquisas. “Esses dados demonstram a importância de divulgarmos os resultados das pesquisas e criarmos instrumentos que estimulem seu uso”, considera a professora.

Protótipo vai demonstrar os materiais alternativos no campus

Protótipo vai demonstrar os materiais alternativos no campus

Os estudos de viabilidade da cinza pesada foram realizados a partir da caracterização química do resíduo, levantamentos sobre sua geração e uso atual, além de fabricação e testes de blocos estruturais de concreto, blocos de vedação, briquetes de pavimentação e concretos moldados in loco. No caso dos blocos de concreto, as cinzas pesadas foram usadas na substituição tanto do cimento Portland, como da areia fina. Os resultados mostraram que os blocos produzidos com a adição de cinzas podem apresentar resistência superior aos convencionais, usados como parâmetro nos testes laboratoriais.

Foram também realizados estudos de viabilidade econômica e eles mostraram que os componentes com adição de cinzas podem ter custo até 40% inferior aos convencionais. Com a construção do protótipo da habitação social, no campus, a equipe passa a uma nova etapa dos estudos, que são os testes de desempenho em uso, verificando questões como o conforto térmico e umidade de paredes construídas com os componentes fabricados com adição de cinzas. O reaproveitamento das cinzas em componentes pré-fabricados depende ainda também da sensibilização dos fabricantes e definição de políticas de incentivo, como a redução de impostos para fabricantes que optem por usar as cinzas como matéria-prima. “Do ponto de vista do consumidor final, poderia ser adotado um selo de reciclagem para o produto, deixando ao comprador a escolha de usar um produto convencional ou um produto que além de apresentar qualidade, retira um resíduo do meio ambiente”, explica a professora.

Mais informações no estande da UFSC, no Brasiltec 2003, Rua 3C com Rua D, ou com a professora Janaíde Cavalcante, fone 48 331 5169, mail janaide@npc.ufsc.br

A Secretaria Especial de Informática (SEI), transmite partes do Brasiltec ao vivo. Acompanhe: www.sei.ufsc.br/aovivo

SAIBA MAIS

Cinza Pesada

O estudo da viabilidade das cinzas pesadas para a construção civil busca alternativas para um resíduo gerado em grande quantidade e que representa um sério impacto ambiental. Na operação das usinas termoelétricas, para cada 100 toneladas de carvão mineral consumidas, são geradas 42 toneladas de cinzas, das quais 70% é extraída a seco, chamadas de cinzas secas (volantes) e 30% via úmida, que são as cinzas úmidas ou pesadas. Devido às suas características físico-químicas, a cinza seca ou volante é vendida às cimenteiras e concreteiras, para adição no cimento Portland ou ao concreto.

As cinzas pesadas não têm esse mercado. São eliminadas em bacias de sedimentação ou na regularização de terrenos, gerando um problema de ordem ambiental e estética na área e vizinhança de influência de operação da usina. Além disso, apesar da vantagem de serem secas e estocadas em silos – o que facilita seu transporte, retirada e manuseio – mesmo as cinzas secas ainda possuem um baixo consumo. Grande parte é umidificada e eliminada com as cinzas pesadas nas bacias de sedimentação.

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